Descrição de chapéu Financial Times Guerra da Ucrânia China

Japão, Itália e Reino Unido desenvolverão caça de última geração para frear Rússia e China

Países tentam diminuir dependência dos Estados Unidos em setor de defesa

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Kana Inagaki Sylvia Pfeifer George Parker
Tóquio e Londres | Financial Times

Reino Unido, Japão e Itália vão construir em conjunto até 2035 um dos jatos de combate mais avançados do mundo, em seu primeiro programa militar trilateral visando ampliar suas capacidades de defesa para fazer frente aos crescentes riscos de segurança vindos da China e da Rússia.

O Programa Global de Combate Aéreo (GCAP, na sigla em inglês) está sendo desenvolvido ao mesmo tempo que um projeto rival franco-alemão-espanhol, que tem sido alvo de tensões políticas e industriais entre as três partes.

avião caça
Caças Typhoon são retratados na base da Royal Air Force RAF Coningsby, perto de Lincoln, leste da Inglaterra. - AFP

Pelos termos do acordo fechado nesta sexta-feira (9), Reino Unido e Itália vão fundir seu programa já existente de Combate Aéreo Futuro, conhecido como Tempest, com o projeto japonês F-X. Os três países vão dividir os custos de desenvolvimento, estimados em dezenas de bilhões de dólares, mas uma decisão final sobre as contribuições exatas será acordada a partir de uma avaliação conjunta dos custos e dos orçamentos nacionais.

"Trabalhando juntos em um espírito de parceria igual, vamos compartilhar os custos e benefícios desse investimento em nossos povos e tecnologias", disseram os líderes dos três países em comunicado conjunto. "Fato importante é que o programa vai subsidiar a capacidade soberana dos três países de projetar, produzir e atualizar capacidades de combate aéreo de ponta a estender-se no futuro."

O anúncio foi acompanhado por uma recriação dos novos aviões sobrevoando o monte Fuji e as cidades de Londres e Roma.

O acordo, que exigiu anos de negociações, assinala uma inusitada mudança de postura do Japão. Por anos, o país asiático trabalhou exclusivamente com parceiros americanos para munir-se de grandes equipamentos militares, mas agora vem buscando forjar laços de segurança mais profundos com vários aliados. O motivo seria a necessidade de se preparar para uma eventual guerra com a China por causa de Taiwan.

O jato de combate também faz parte das crescentes ambições de defesa do Japão. O primeiro-ministro do país, Fumio Kishida, disse nesta semana que o governo pretende reservar US$ 315 bilhões (R$ 1,65 tri) para seu orçamento quinquenal de defesa —um aumento de 57% em relação ao período passado.

Pessoas com conhecimento sobre o assunto disseram que a decisão de Tóquio de formar a nova parceria se deve a receios crescentes de que o setor de defesa japonês não conseguirá desenvolver armas e equipamentos militares modernos se continuar dependendo apenas dos EUA. Isso porque os americanos tendem a conservar sua tecnologia de ponta para si.

Funcionários do Ministério da Defesa disseram que o Japão continuará a cooperar estreitamente com os EUA, ressaltando que a escolha do Reino Unido e da Itália como parceiros foi feita apenas porque Washington não tinha o mesmo cronograma para o desenvolvimento de seu próximo jato de combate.

"Os Estados Unidos apoiam a cooperação de segurança e defesa do Japão com aliados e parceiros de visão semelhante", disse o Departamento de Defesa dos EUA em comunicado conjunto com o Ministério da Defesa do Japão.

A colaboração britânica com a Itália e com a França foi saudada pelo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, na sexta. Para ele, a parceria é uma evidência de que "a segurança das regiões euro-atlântica e indo-pacífica são indivisíveis".

O Reino Unido vem procurando fortalecer relações com a região do Pacífico, especialmente com a chamada iniciativa Aukus, em que Londres, Washington e Camberra concordaram em colaborar em torno de tecnologia nuclear de submarino.

Mas a doutrina de política externa e defesa do Reino Unido, conhecida como "revisão integrada" e divulgada em 2021, está sendo reescrita pelo governo britânico para refletir os desafios criados pela invasão russa da Ucrânia.

O texto original foi anunciado como sendo um "desvio britânico em direção ao Pacífico", mas em função do conflito na Ucrânia é provável que o documento revisto represente uma espécie de reaproximação com a Europa. O Reino Unido destinou 2 bilhões de libras (R$ 12,8 bi) ao longo de um período inicial de quatro anos para o programa Tempest, crucial para a manutenção de empregos e das habilidades britânicas de combate aéreo assim que o Eurofighter Typhoon sair de serviço.

O novo programa será liderado pelas maiores empresas do setor de defesa de cada um dos três países: a BAE Systems, no Reino Unido; Leonardo, na Itália; e Mitsubishi Indústrias Pesadas, no Japão. As três empresas já vêm colaborando em uma série de áreas críticas, incluindo tecnologias de propulsão e radar.

Agora os três países vão colaborar para definir o conceito do jato principal, que dizem que será equipado com "sensores avançados, armas de ponta e um sistema de dados inovador", com o objetivo de lançar a fase de desenvolvimento em 2024.

Reino Unido e Japão disseram que a porta está aberta para outros países se unirem ao programa. Ainda não está claro se a Suécia, que desde 2019 tem um envolvimento menor, quer aprofundar sua participação na parceria.

Tradução de Clara Allain

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