Boric e Petro pedem reunião urgente da OEA sobre atos golpistas em Brasília

Líderes latino-americanos chamam cenas de destruição na capital de inaceitáveis e pedem defesa conjunta da democracia

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São Paulo

O presidente do Chile, Gabriel Boric, e o da Colômbia, Gustavo Petro, instaram nesta segunda-feira (9) a Organização dos Estados Americanos (OEA) a convocar uma reunião de urgência sobre os ataques golpistas realizados em Brasília por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (8).

Juntos no Palácio de La Moneda, em Santiago, os líderes chamaram as cenas na capital brasileira de um golpe da extrema direita que remonta a outro período histórico: as interrupções na democracia causadas por golpes militares na América Latina entre as décadas de 1960 e 1970.

Gabriel Boric, presidente do Chile, e seu homólogo colombiano, Gustavo Petro, no Palácio de La Moneda, em Santiago - Javier Torres - 9.jan.23/AFP

Boric descreveu os ataques golpistas como inaceitáveis e condenou o "silêncio cúmplice", que, segundo ele, "não pode ser relativizado, tampouco esquecido". O chileno já havia sido, no domingo, o primeiro líder de peso a criticar os ataques e manifestar solidariedade ao presidente e às instituições brasileiras.

"Nossa região tem de assumir uma posição clara", seguiu o chileno, acrescentando que a reunião da OEA serviria para uma posição conjunta dos países da região.

Petro disse que grupos de extrema direita querem fazer com que a região retorne aos tempos de Salvador Allende, em referência à resistência a governos de esquerda, como o instalado na época do líder chileno morto pelas Forças Armadas em 1973, no episódio que instalou a ditadura de Augusto Pinochet.

"É hora de dizer que o que ocorreu há 50 anos não voltará a acontecer, o caminho da América Latina é irreversivelmente democrático", disse Petro, o primeiro líder de esquerda a assumir o governo colombiano.

"O que está em perigo é o pacto democrático nas Américas. Esse não é um problema exclusivamente da América do Sul. O mesmo que ocorreu em Brasília ocorreu em Washington", completou, referindo-se ao 6 de Janeiro nos EUA. "É um golpe da extrema direita contra algo que eles não querem: a democracia."

O secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, criticou em uma rede social os atos de vandalismo. Ainda no domingo, disse que os ataques às instituições brasileiras configuram uma ação repudiável e um atentado contra a democracia. "Essas ações têm natureza fascista."

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, um braço da OEA, também condenou os atos e disse que demandas devem ser canalizadas por vias democráticas. "O direito de reunião deve ser pacífico, sem armas e com apego ao Estado de Direito. Os responsáveis devem ser investigados e punidos."

Ainda nesta segunda, 26 ex-chefes de Estado da América Latina e da Espanha reunidos no grupo Idea (Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas) divulgaram nota conjunta expressando apoio ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e às instituições brasileiras.

A carta, assinada por ex-presidentes como Mauricio Macri (Argentina), Iván Duque (Colômbia) e Sebastián Piñera (Chile), diz rejeitar e condenar "qualquer ação que vise subverter a ordem constitucional".

Com AFP e Reuters

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