Descrição de chapéu América Latina

Congresso do Peru rejeita antecipação de eleições proposta por presidente

Projeto foi apresentado pelo governo Dina para arrefecer protestos que já deixaram mais de 50 mortos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O Congresso do Peru rejeitou na madrugada deste sábado (28) a proposta de antecipação das eleições gerais para outubro de 2023. O texto havia sido apresentado pela presidente Dina Boluarte como parte do esforço para arrefecer os protestos que já provocaram mais de 50 mortes desde a destituição do ex-líder Pedro Castillo, em dezembro.

O texto ficou longe de alcançar os 87 votos necessários para a aprovação. Foram 65 votos contrários e 45 a favor, além de duas abstenções. A sessão foi marcada por discussões acaloradas entre parlamentares.

Ao final, foi decidido que uma proposta para reconsiderar a votação será examinada na segunda-feira (30). A reversão do resultado, no entanto, é considerada improvável.

Dina Boluarte, presidente do Peru, em Lima - Mariana Bazo - 24.jan.23/Xinhua

Pelo projeto, apresentado na quinta (26), o pleito aconteceria em outubro, e os mandatos atuais da presidente e dos congressistas seriam abreviados. Segundo o texto, o novo chefe do Executivo tomaria posse em 1º de janeiro de 2024, e seu governo terminaria em 28 de julho de 2029. Já os novos parlamentares iniciariam os trabalhos em 31 de dezembro de 2023 e seguiriam até 26 de julho de 2029.

Horas depois do resultado, Dina disse lamentar a decisão do Congresso. "Pedimos às bancadas que deixem de lado seus interesses partidários e que priorizem os interesses do Peru. Nossos cidadãos esperam uma resposta clara e imediata que abra uma saída para a crise política e que permita construir a paz social", escreveu nas redes sociais.

Há pouco mais de mês, o Congresso aprovou em primeira votação a antecipação das eleições de 2026 para abril de 2024, mas a medida ainda não foi confirmada pelo Parlamento e tampouco se mostrou suficiente para arrefecer a onda de protestos.

Pressionada pelas dezenas de mortes e manifestações diárias, Dina pediu ao Congresso nesta sexta (27) a antecipação das eleições para este ano com o objetivo de tirar o país do que chamou de "atoleiro".

A proposta foi rechaçada tanto por partidos de direita quanto de esquerda. Lideranças do Renovação Popular, de ultradireita, orientaram seu parlamentares a votar contra a proposta sob a justificativa de que reduzir o mandato de Dina e dos deputados seria inconstitucional.

Já o Perú Libre, legenda pela qual Castillo e a atual presidente foram eleitos em 2021, buscou incluir na proposta um referendo para a convocação de uma nova Assembleia Constituinte, o que motivou discordâncias.

Parlamentares do Força Popular —mesmo partido de Keiko Fujimori, que perdeu as eleições para Castillo— e do Câmbio Democrático votaram pela antecipação das eleições. As duas legendas acusam a esquerda de boicotar as possíveis soluções com o objetivo de impor o referendo constituinte. Esta opção, amplamente rejeitada pela alta liderança política peruana, sempre foi defendida por Castillo, preso após ser destituído sob acusação de tentativa de golpe de Estado.

Promulgada em 1993 pelo ditador Alberto Fujimori, a Carta é apontada pelos correligionários de Castillo como um guia à desigualdade no país. Além da convocação de uma Assembleia Constituinte, os manifestantes exigem a renúncia de Dina, a libertação do ex-presidente, a dissolução do Parlamento e a antecipação das eleições para este ano.

A votação no Parlamento se deu em meio a uma onda de protestos violentos que tomam as ruas do país e já deixaram 56 mortos. Após a destituição de Castillo, a então vice Dina Boluarte assumiu a Presidência. Mas, segundo uma pesquisa recente do Instituto de Estudos Peruanos, 71% dos peruanos reprovam o seu governo.

Nos últimos dias, a escassez de produtos básicos têm preocupado o governo. "Não há gás, nem gasolina. Nos armazéns só se consegue mantimentos não perecíveis e todas as coisas estão muito caras, até o triplo do normal", disse à agência AFP Guillermo Sandino, morador de Ica.

Os ministérios da Defesa e do Interior informaram na quinta que a polícia e as Forças Armadas elaboram um plano para desbloquear as rodovias tomadas por manifestantes. Mas as manifestações não dão sinais de trégua, e novos atos estão previstos para os próximos dias. "Não podemos esperar. Tem de ser logo", disse a professora Sandra Zorela, moradora de Cusco.

Nesta sexta, houve episódios violentos em algumas regiões como em Madre de Dios, onde o governador Luis Otsuka revidou com tiros para o alto a tentativa de manifestantes de atacar sua casa —em represália à decisão do político de concordar em facilitar operações para desobstruir rodovias no departamento, a 1.500 km de Lima. No centro histórico da capital, os protestos voltaram a ter confrontos pontuais com a tropa de choque da polícia.

Com AFP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.