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Fotos em redes sociais ajudaram na prisão de invasores do Capitólio em 2021

Assim como nos EUA, golpistas no Brasil gravaram e divulgaram imagens de invasão e depredações

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Washington

Enquanto os golpistas apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) invadiam as sedes dos Três Poderes, em Brasília, neste domingo (8), fotos e vídeos das depredações começaram a circular em redes sociais. Divulgadas pelos próprios arruaceiros, as cenas permitem identificar com clareza muitos dos vândalos.

A mesma situação aconteceu no ataque ao Congresso dos Estados Unidos, há dois anos, em 6 de janeiro de 2021, e as imagens produzidas pelos radicais mais tarde se mostrariam essenciais para o avanço da apuração dos crimes, naquela que é considerada a maior investigação da história do FBI.

Mulher usa celular após invadir prédio do Supremo Tribunal Federal, em Brasília - Gabriela Biló/Folhapress

Ao todo, a polícia federal americana afirma ter analisado 30 mil arquivos de vídeo, que somam nove terabytes de informação —um volume que, se colocado em uma única trilha, somaria 361 dias ininterruptos de gravações. Os esforços de apuração levaram à prisão mais de 950 pessoas até aqui, sendo que, no próprio dia da invasão, foram 14 as detenções, segundo checagem do jornal USA Today.

Boa parte das primeiras prisões ocorreu com a identificação de selfies e vídeos publicados pelos próprios invasores. Uma estudante do Kentucky, Gracyn Courtright, por exemplo, postou uma foto em seu perfil no Instagram na qual estava na entrada do Capitólio, com a legenda: "Mal posso esperar para contar aos meus netos que eu estava aqui". A mensagem acabou usada no processo em que foi condenada a 30 dias de prisão e 12 meses de liberdade condicional.

Outro invasor, Edward Lang, reproduziu no Instagram e no Facebook o momento de um vídeo de uma multidão, apontando na imagem onde ele estava, com a legenda: "Este sou eu". A foto também foi usada como evidência no processo —o resultado do julgamento da ação que o envolve ainda não foi divulgado.

Em menos de duas semanas após o 6 de Janeiro, 119 pessoas já eram processadas pela invasão, e ao menos 71 casos envolviam fotos e vídeos compartilhados em redes sociais —47 dos processos tinham imagens produzidas pelos próprios acusados, segundo reportou a imprensa à época.

Em outras ações, as publicações foram um agravante para a determinação das penas. Um dos invasores, Russell James Peterson, da Pensilvânia, publicou no Facebook: "No geral eu me diverti. Lol [gíria em inglês para gargalhadas]". Ao anunciar a sentença de 30 dias de prisão, a juíza Amy Jackson afirmou que o uso da expressão tornou "extraordinariamente difícil" dar outra pena.

"O 'lol' me pegou, pois, como espero que tenha entendido, nada sobre o dia 6 de Janeiro foi engraçado", afirmou ela. "Ninguém trancado em uma sala, encolhido debaixo de uma mesa por horas, estava rindo."

Em uma série de outros casos, os investigadores acessaram os celulares de suspeitos de terem participado da invasão e encontraram registros e mensagens confirmando que estiveram no local.

É o caso da brasileira Leticia Vilhena Ferreira, engenheira que vivia na região de Chicago e que entrou no Capitólio depois do discurso do então presidente Donald Trump. Seu processo mostra uma troca de mensagens, na qual diz: "Sou muito irresponsável. Ontem foi incrível". Em outra mensagem, questionou: "Você acha que eles vão atrás de todas as pessoas que entraram no Capitólio?".

Mesmo em casos em que os invasores apagaram as imagens das redes sociais em pouco tempo, o FBI conseguiu acessar as fotos, segundo registros de alguns dos processos abertos contra os invasores.

Foi o caso de Kevin J. Lyons, morador de Chicago, que postou uma foto da placa da sala da então presidente da Câmara, Nancy Pelosi. Quando foi confrontado pelos agentes federais, respondeu com franqueza cortante: "Uau, vocês são realmente bons, isso ficou no ar só por uma hora".

Ao todo, já foram abertas ações contra 940 pessoas, segundo o Programa sobre Extremismo, da Universidade George Washington, que monitora casos do 6 de Janeiro. Mais da metade dos réus, 482, confessou a culpa, e outros 44 foram assim considerados. Só uma pessoa terminou inocentada.

A sentença mais longa até aqui foi dada a um ex-militar e policial aposentado de Nova York, Thomas Webster, 56, condenado em setembro a pouco mais de dez anos de prisão —por, entre outras coisas, ter agredido um policial com o mastro de uma bandeira e tê-lo enforcado ao tentar retirar seu capacete e a máscara de gás. A agressão foi registrada pela câmera corporal do agente e por outros manifestantes.

como a justiça puniu os responsáveis

A estratégia da Justiça dos EUA foi dividir os réus em três grupos. O primeiro, com pessoas que estiveram fisicamente no Capitólio mas não cometeram violência. O segundo reúne os que comprovadamente cometeram atos violentos, a maior parte contra policiais —segundo o FBI, das quase mil prisões feitas, cerca de 200 envolveram agressão a agentes de segurança; um deles morreu no dia seguinte, após dois derrames, e outros quatro se suicidaram depois da invasão.

Com o andamento dos processos desses dois grupos, depoimentos e acesso a publicações em redes sociais, troca de mensagens e fotos e vídeos feitos nos dias da invasão, a investigação avança agora sobre o terceiro grupo, o de radicais ligados a grupos extremistas, como Oath Keepers e Proud Boys.

As ações contra os invasores não são as únicas, e o próprio Trump é alvo de investigação do Departamento de Justiça. O republicano também acabou de ser acusado pelo comitê da Câmara que apurava o ataque, que pediu seu indiciamento por crimes como conspiração e incitação a insurreição.

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