Governo Lula dá aval a embaixador da Venezuela indicado por Nicolás Maduro

Itamaraty concede agrément a Manuel Vicente Vadell após encontro de chanceleres em Buenos Aires

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Brasília

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu o aval para que o novo embaixador da Venezuela no Brasil seja Manuel Vicente Vadell Aquino, indicado pela ditadura de Nicolás Maduro.

Em nota, o Itamaraty confirmou que concedeu o agrément —documento diplomático que indica concordância do governo anfitrião com a nomeação— a Vadell, por ocasião de reunião realizada nesta segunda-feira (23) entre os chanceleres Mauro Vieira e Yvan Gil, em Buenos Aires.

O ministro das Relações Exteriores integra a comitiva de Lula na Argentina, na primeira viagem internacional do petista desde a posse para o terceiro mandato. Em encontro, o presidente e seu homólogo Alberto Fernández fizeram uma série de acenos ao regime venezuelano.

O diplomata venezuelano Manuel Vicente Vadell, indicado para a embaixada no Brasil, ao lado do ditador Nicolás Maduro
O diplomata venezuelano Manuel Vicente Vadell, indicado para a embaixada no Brasil, ao lado do ditador Nicolás Maduro - Nicolás Maduro no Twitter

Inicialmente, a assessoria do brasileiro havia dito que ele teria um encontro bilateral com Maduro em Buenos Aires. Mas a reunião, que seria a primeira entre os líderes desde que os países reataram os laços diplomáticos, foi cancelada por decisão de Caracas.

Em nota divulgada horas depois, o regime confirmou que o ditador também não deve participar da cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) na capital argentina, atribuindo a suspensão da agenda a uma suposta movimentação da oposição a Fernández.

"Nas últimas horas fomos informados de que há um plano elaborado no seio da direita neofascista cujo objetivo é levar a cabo uma série de agressões contra nossa delegação para montar um show deplorável, com a finalidade de perturbar os efeitos positivos de uma reunião regional tão importante e, desse modo, contribuir com uma campanha de descrédito, já fracassada, empreendida pelo império dos EUA", diz o texto.

Os laços diplomáticos entre Brasil e Venezuela foram rompidos em 2020 pelo hoje ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que reconheceu o opositor Juan Guaidó como líder legítimo interino. Antes, ainda na gestão Michel Temer (MDB), embaixadores dos dois países foram retirados de suas respectivas missões, mas a presença diplomática mútua foi mantida em níveis inferiores de representação.

Sob Lula, que tomou posse em 1º de janeiro, o governo brasileiro deu início à retomada diplomática com os planos de reabertura da embaixada brasileira em Caracas. O diplomata Flávio Macieira tem a tarefa de listar as providências a serem tomadas para reiniciar o funcionamento dos prédios da representação.

Ele atua na Venezuela como encarregado de negócios —nível hierárquico inferior ao de embaixador. O Brasil tem três prédios em Caracas (a embaixada, um consulado e a residência do embaixador), e todos foram fechados pelo ex-ministro Ernesto Araújo durante o governo Bolsonaro.

A reabertura da representação no país de Maduro foi um pedido de Lula a Vieira. O petista defende que a reintegração da Venezuela à comunidade diplomática sul-americana é necessária para resolver seu impasse político interno, que já dura décadas. À Folha o chanceler reiterou essa visão, ressaltando que retomar o diálogo com a ditadura não significa apoiá-la.

Na Argentina, o presidente reforçou o discurso de priorizar a diplomacia na América Latina, algo que prometia desde a campanha. Lula também fez críticas à oposição venezuelana e disse que legitimar o opositor Juan Guaidó foi "uma coisa abominável com a democracia".

No mês passado, partidos da oposição na Venezuela decidiram deixar de reconhecer Guaidó como presidente interino; sua influência diminuiu à medida que Maduro foi se mantendo no poder. Nos últimos meses, a ditadura retomou o diálogo com a oposição após um ano de suspensão das conversas, em uma negociação na qual o tema central são as eleições —previstas para 2024 pelo calendário oficial.

Fernández, em entrevista à Folha, disse que Maduro estava "mais do que convidado" para a cúpula da Celac e que o governo argentino tem estimulado os diálogos entre o regime e a oposição.

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