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Dina diz que Peru sangra por culpa de Castillo e pede trégua em protestos

Presidente diz que atos dão prejuízo de R$ 6,7 bi, promete sair do cargo após pleito e acusa manifestantes de atirarem entre si

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Lima | Reuters e AFP

A presidente do Peru, Dina Boluarte, culpou seu antecessor pela crise que chegou ao paroxismo no país e pediu uma trégua nacional nos protestos que querem sua renúncia e a dissolução do Parlamento.

Mais de 50 pessoas já morreram nos atos, convocados por apoiadores de Pedro Castillo, preso após ser destituído em uma tentativa de golpe no começo de dezembro.

"Convoco a minha querida pátria para uma trégua nacional para estabelecer mesas de diálogo, fixar a agenda de cada região e desenvolver nossos povos. Não me cansarei de pedir diálogo, paz e unidade", disse Dina, em entrevista à imprensa estrangeira no Palácio de Governo, em Lima.

A presidente do Peru, Dina Boluarte, em entrevista à imprensa internacional em Lima - Cris Bouroncle - 24.jan.23/AFP

Ela também fez um chamado ao Legislativo, para acelerar a tramitação do projeto, apresentado pelo Executivo, que antecipa as eleições gerais no país de 2026 para o ano que vem.

A presidente chamou parte dos manifestantes de radicais e violentos, com "uma agenda política bem desenhada", e afirmou, sem apresentar provas, que eles têm ligações com o narcotráfico, a mineração ilegal e o contrabando. Citou vídeos que mostrariam manifestantes atirando entre si —de forma a isentar as forças de segurança de excessos na repressão aos atos, uma das principais críticas à sua gestão.

"Um senhor aparentemente pega uma huaraca [arma que usa uma corda para fazer arremesso de objetos], mas não é uma huaraca nem um estilingue, é uma arma que dispara e mata o companheiro ao lado. Ou um tiro que sai de uma propriedade privada e mata alguém que está no protesto. Não é a polícia que está disparando", disse, sem especificar quando ou onde as imagens foram captadas.

Segundo ela, os atos já custaram ao Peru mais de R$ 6,7 bilhões, sendo R$ 2,7 bilhões na forma de impactos na produção econômica —o turismo tem sido uma das atividades mais comprometidas— e R$ 4 bilhões em danos diretos à infraestrutura do país.

Dina ainda dirigiu parte da entrevista para fazer críticas diretas ao antecessor, citando estar no poder apenas pelo fato de ele ter tentado empreender um golpe de Estado. "Era conveniente para Castillo dar um autogolpe, para se vitimizar e mobilizar todo esse aparato paramilitar e não responder ao Ministério Público pelos 57 atos de corrupção pelos quais está sendo denunciado. Aqui não há vítima, senhor Castillo. Aqui há um país que está sangrando como resultado de sua irresponsabilidade."

Em 7 de dezembro, Dina foi um dos primeiros atores políticos de peso no Peru a chamar o movimento de Castillo pelo nome. Antes vice, ela é chamada de traidora por apoiadores do antecessor.

A presidente afirmou que não tem apego ao poder, mas realçou que não vai renunciar ao cargo. "Minha renúncia resolveria a crise e a violência? Quem assumiria a Presidência?", questionou. "Saio quando convocarmos eleições gerais. Não tenho intenção de ficar."

Dina também se manifestou sobre a detenção de cerca de 200 pessoas na Universidade San Marcos, na capital peruana. No sábado (21), a polícia entrou no campus, derrubando o portão com um veículo blindado e usando bombas de gás lacrimogêneo e um helicóptero para desocupar a instituição, onde se abrigavam centenas de pessoas de regiões do sul do país que foram a Lima para se juntar aos protestos.

O caso elevou a pressão sobre o governo. "Talvez a forma [como a polícia agiu] não tenha sido adequada, e por isso peço desculpas", disse Dina, acrescentando que nenhuma pessoa ficou ferida na operação. "[Os manifestantes] foram identificados, levados para a delegacia e liberados. A polícia interveio para proteger a vida dos alunos que estavam dentro da universidade porque não sabíamos quem tinha entrado."

Ao menos 193 pessoas foram presas, das quais 192 foram indiciadas por crimes como danos contra o patrimônio e roubo qualificado. Quase todos os detidos foram libertados até a noite de domingo (22).

No dia 10, a Procuradoria-Geral peruana anunciou a abertura de investigação preliminar tendo como alvo diversas autoridades, incluindo a presidente e o premiê, Alberto Otárola, suspeitos de terem cometido os crimes de genocídio, homicídio qualificado e lesões graves na repressão aos protestos.

Ao menos 56 pessoas já morreram nos atos, entre as quais um policial. Apoiadores de Castillo têm atacado a infraestrutura do país como estratégia para desgastar o governo. No sábado, o Peru anunciou o fechamento por tempo indeterminado do acesso a Machu Picchu, alegando motivos de segurança.

Segundo Dina, o Peru recebeu nos últimos dias uma delegação do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que monitora a situação no país. "Todos nós queremos saber a verdade", disse.

Depois da entrevista, o governo divulgou comunicado no qual defende o direito à manifestação, desde que não ocorram casos de violência. Apesar dos apelos, novos confrontos foram registrados nesta terça. Na capital Lima, pedras foram atiradas contra policiais da tropa de choque —que usaram bombas de gás para dispersar a multidão. Ao menos uma pessoa foi ferida e levada a um hospital.

Na região de Ica, agentes também lançaram bombas de efeito moral para dispersar manifestantes e liberar trechos de rodovias. Em Cusco, autoridades anunciaram o fechamento temporário do aeroporto internacional por precaução —um protesto está previsto para esta quarta (25).

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