Descrição de chapéu The New York Times

Suspeito de matar 4 estudantes em Idaho era psicólogo especializado em mentes criminosas

Jovens de 20 e 21 anos foram mortos a facadas em novembro; cidade nos EUA não registrava homicídios desde 2015

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Moscow (Idaho) | The New York Times

Onze dias antes de quatro estudantes da Universidade de Idaho serem encontrados mortos a facadas em uma casa perto do campus, Bryan Kohberger assistia a uma aula presencial de criminologia em uma faculdade próxima, contribuindo para uma discussão sobre provas forenses, DNA e outros tipos de evidências usadas por promotores.

O pós-graduado de 28 anos parecia estar altamente envolvido na discussão, recordou um colega de classe. Era uma disciplina que havia muito tempo fascinava Kohberger, que tinha pesquisado a mentalidade de criminosos, estudado com uma professora conhecida pela expertise em serial killers e, nos últimos meses, vinha se preparando para um doutorado em criminologia na Washington State University, a 16 km do local do crime em Idaho.

Menos de dois meses depois, o próprio Kohberger seria alvo de uma investigação criminal, tendo sido preso em 30 de dezembro, acusado de assassinar os quatro estudantes.

Bryan Kohberger foi preso sob suspeita de ter assassinado quatro estudantes da Universidade de Idaho
Bryan Kohberger foi preso sob suspeita de ter assassinado quatro estudantes da Universidade de Idaho - Divulgação Unidade Correcional do Condado de Monroe/AFP

Investigadores ainda não aventaram um possível motivo, mas os detalhes que estão vindo à tona sobre o profundo interesse de Kohberger pela psicologia de criminosos abriram mais uma camada de mistério em um caso que traumatizou a cidade universitária de Moscow, suscitando incontáveis teorias.

Kohberger foi detido em Effort, na Pensilvânia, quando visitava os pais. Em audiência realizada nesta terça (3), concordou em ser enviado de volta para Idaho para ser indiciado. Ele não falou com os jornalistas, que perguntaram sobre seu possível envolvimento no caso; ao juiz, disse que não tem problemas psicológicos nem é usuário de medicamentos que possam atrapalhar a tomada de decisões.

Jason LaBar, defensor público do condado de Monroe que o representa, disse que Kohberger ficou chocado ao saber que era considerado suspeito e com sua prisão. "Ele diz que será inocentado." No domingo, o defensor divulgou uma nota dos pais e duas irmãs de Kohberger, expressando amor e apoio a ele e declarando ter cooperado com a polícia para "promover sua presunção de inocência". Além disso, disseram estar orando pelas vítimas.

Kohberger cresceu numa cidade de subúrbio no leste da Pensilvânia e estudou no colégio Pleasant Valley, em Brodheadsville, onde colegas lembraram que ele tinha uma mente analítica, mas às vezes agia com crueldade.

Thomas Arntz tomava o ônibus escolar com ele em 2009 e diz que a amizade terminou em 2014, quando brincadeiras viraram maldosas —e Kohberger passou a às vezes apertar seu pescoço em uma chave de braço. "A coisa foi ficando tão ruim que eu simplesmente me fechava quando estava perto dele", conta Arntz, 26. "Acabei tendo que cortar relações."

Amigos dizem que no início do ensino médio Kohberger se viciou em heroína, mas recentemente parecia ter superado a dependência. Jack Baylis, amigo na época da 8ª série, afirma que ele era fascinado por entender o que levava as pessoas a agir como agiam e que pareceu ter gostado de trabalhar como segurança do Distrito Escolar de Pleasant Valley, o que fez por vários anos até 2021.

A última vez que Baylis viu Kohberger foi em 2021, quando eles praticaram airsoft (simulação de operações policiais com armas de projéteis não letais). Na época, ele dirigia um Hyundai Elantra branco, mesmo modelo de carro que a polícia de Moscow informou que foi visto perto da casa das vítimas de Idaho na noite dos ataques. "Rezo para que ele seja inocente", diz Baylis.

Em um restaurante de Moscow, velas em memória dos quatro estudantes assassinados em Idaho - Margaret Albaugh - 31.dez.22/The New York Times

Depois de se formar em psicologia em uma faculdade comunitária em 2018, Kohberger foi para a Universidade DeSales, instituição católica em Center Valley, na Pensilvânia, estudar psicologia e justiça criminal. Uma de suas professoras foi Katherine Ramsland, psicóloga forense conhecida, cujos livros incluem "The Mind of a Murderer" (a mente de um assassino) e "How to Catch a Killer" (como pegar um assassino). Ela não respondeu à reportagem.

Kohberger falava pouco, mas era visto como inteligente, segundo Brittany Slaven, colega dele em DeSales. "Demonstrava interesse especial por cenas de crimes e serial killers", diz. "Parecia apenas um estudante curioso. Se suas perguntas eram estranhas, não chamou nossa atenção —elas se inseriam no contexto."

Em uma publicação no Reddit há sete meses, um usuário que se identificou como Bryan Kohberger pediu a pessoas que haviam passado tempo na prisão para participarem de uma pesquisa sobre os crimes que cometeram. Na pesquisa, ele se dizia pesquisador que estava trabalhando com dois professores da Universidade DeSales. Foi pedido que os participantes descrevessem seus "pensamentos, emoções e ações desde o início até o processo de cometer o crime".

A universidade se limitou a informar que Kohberger se formou bacharel em 2020 e concluiu o mestrado em junho de 2022.

Kohberger então se mudou para Pullman, onde iniciou o semestre no programa de pós-graduação em criminologia na Washington State University.

Mensagem de apoio a policiais e investigadores que trabalham no caso dos quatro assassinatos em Moscow, no estado de Idaho - Margaret Albaugh - 31.dez.22/The New York Times

Na manhã de 13 de novembro, depois de uma noite de sábado recheada de festas universitárias e uma partida de futebol da Universidade de Idaho, quatro estudantes foram encontrados mortos a facadas na casa alugada em Moscow onde três deles moravam.

Madison Mogen, 21, Kaylee Gonçalves, 21, Xana Kernodle, 20, e Ethan Chapin, 20, foram atacados em pelo menos dois quartos, provavelmente enquanto dormiam, segundo os investigadores. As três mulheres viviam na casa, e Chapin passava a noite com Kernodle, sua namorada.

A brutalidade das mortes —o legista aponta que eles foram apunhalados com uma faca comprida— e a ausência de suspeitos criaram um clima de medo em Moscow, que não registrava um homicídio havia sete anos. Estudantes começaram a andar em grupos. Mais pessoas começaram a pedir delivery. E a polícia começou a receber ligações de moradores nervosos.

A corporação adotou medidas de segurança nos dois campi universitários, aumentando patrulhas e promovendo oficinas de autodefesa. Na Washington State, Kohberger continuava com seus estudos.

Um colega diz que ele parecia interessado nos processos mentais de criminosos enquanto cometiam os delitos, não tanto nos fatores sociais que podiam levá-los a isso, dizendo acreditar que algumas pessoas não têm como evitar infringir a lei. Sob anonimato, ele descreveu Kohberger como estranho no ninho da classe, frequentemente entrando em discussões, especialmente com mulheres.

Uma equipe de investigadores de agências locais e estaduais, além de mais de 60 agentes do FBI, foram a Moscow por ocasião do crime. Peritos forenses vasculharam a casa em busca de evidências físicas, incluindo DNA, e procuraram a arma do crime —em vão.

Memorial em homenagem a vítimas dos quatro assassinatos ocorridos em Moscow, no estado americano de Idaho - Lindsey Wasson - 29.nov.22/Reuters

As autoridades lançaram um apelo por informações e vídeos. Milhares de investigadores amadores aventaram várias pessoas como suspeitas: o ex-namorado de uma das vítimas, um homem que estava com duas delas quando compraram comida, dois colegas que também estariam dormindo na casa.

Nenhum dos grupos de discussão online apontou para Kohberger. Não está claro se ou como ele conhecia as vítimas. A polícia tentou coibir boatos, mas as acusações chegavam constantemente —e às vezes a corporação parecia não conseguir excluir nomes da lista de suspeitos com suficiente presteza. Quase todos os detalhes da investigação foram ocultados, causando frustração e levando algumas pessoas, entre as quais familiares das vítimas, a questionar se a polícia estava à altura da tarefa.

Mesmo assim, investigadores trabalharam durante as festas de fim de ano, processando milhares de informações e evidências. Quando anunciou a prisão de Kohberger, no dia 30, o chefe de polícia de Moscow, James Fry, disse que os agentes tinham localizado um Hyundai Elantra branco, mas não a arma do crime.

Fry parecia exausto e quase em lágrimas quando anunciou a prisão, deixando claro que continua em busca de informações para ajudar a responder a perguntas ainda sem resposta: o suspeito agiu sozinho? O que motivou o crime? "O trabalho não acabou", disse. "Está apenas começando."

Tradução de Clara Allain

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