Descrição de chapéu Governo Biden China

EUA derrubam balão chinês acusado de espionagem após escalada de tensões diplomáticas

Biden ordenou na quarta que o artefato fosse abatido; Pentágono recomendou esperar até que ele chegasse em águas abertas

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Washington | Reuters e AFP

Autoridades militares dos Estados Unidos confirmaram na tarde deste sábado (4) que abateram, com a ação de um caça na região da costa da Carolina do Sul, um suposto balão chinês acusado por Washington de realizar atividades de espionagem.

O equipamento esteve, nos últimos dias, no centro de uma contenda que voltou a elevar as tensões entre os dois países. A medida encerra a saga do objeto, mas as consequências de sua derrubada nesse contexto diplomático ainda são incertas.

O presidente Joe Biden afirmou, pouco depois do anúncio militar, que havia dado uma ordem na última quarta-feira (1º), ainda antes de as primeiras notícias sobre o artefato virem à tona, para que ele fosse derrubado o mais rápido possível. Segundo ele, porém, o Pentágono recomendou aguardar até que isso pudesse ser feito em águas abertas, de forma a minimizar riscos.

O democrata elogiou a ação da Força Aérea. "Nós o derrubamos com sucesso e quero cumprimentar nossos pilotos por isso." A confirmação da operação havia sido feita em nota pelo secretário de Defesa, Lloyd Austin, que afirmou que "o balão estava sendo usado pela China em uma tentativa de vigiar pontos estratégicos no território americano".

Uma linha de fumaça brança é vista em um céu azul; é a vista do balão chinês abatido no céu dos Estados Unidos
Balão chinês abatido no céu dos Estados Unidos cai no oceano perto da costa de Surfside Beach, na Carolina do Sul - Randall Hill/Reuters

Na manhã deste domingo (5), ainda noite de sábado no Brasil, a chancelaria chinesa expressou "forte insatisfação e oposição" em relação ao uso da força pelos EUA para atacar um artefato seu, dizendo ter alegado a Washington repetidas vezes que se tratava de um balão civil cuja presença no espaço aéreo americano era "totalmente acidental".

"Sob essas circunstâncias, o fato de os EUA terem insistido no uso de força armada é claramente uma reação excessiva, que viola convenções internacionais de forma severa", disse a pasta, em comunicado. "A China vai defender os direitos e interesses legítimos da empresa envolvida e se dá ao direito de responder no futuro."

Múltiplos caças e aeronaves de reabastecimento foram envolvidos na missão, mas apenas um deles, um F-22, disparou, usando um míssil AIM-9X, de acordo com uma autoridade militar dos EUA. O balão foi abatido a cerca de 6 milhas náuticas (11 km) da costa, às 14h39 no horário local (16h39 em Brasília). Ele estava a uma altitude de 60 mil pés (18 km), e os aviões militares, a 58 mil pés (17,6 km).

Imagens publicadas nas redes sociais flagraram o que seria o momento do abate, no qual não se registrou uma grande explosão, segundo fotógrafos da agência Reuters presentes em Myrtle Beach.

A carga e os destroços do balão caíram no mar, em águas não muito profundas, e até a última atualização deste texto a missão para resgatá-los ainda não havia sido concluída. O artefato teria o tamanho equivalente a três ônibus e fora detectado pelo Pentágono sobrevoando o território americano desde janeiro.

Momentos antes do anúncio da derrubada, a agência de aviação federal americana alegou um "esforço de segurança nacional" para anunciar o fechamento de três aeroportos na região (de Wilmington, Myrtle Beach e Charleston), interrompendo voos civis em um raio de 260 quilômetros quadrados no entorno desses terminais —as operações foram retomadas no final da tarde.

Em comunicado, a FAA tinha alertado que os militares podiam agir se aeronaves violassem as restrições ou não atendessem a ordem de se afastar. Mais cedo neste sábado, Biden afirmara que o país iria "se encarregar" do caso. Questionado por jornalistas sobre se a afirmação significava que o balão seria derrubado, o presidente fez um sinal de positivo.

Foi a primeira vez que o democrata se pronunciou sobre o incidente, que levou a uma nova escalada de tensões entre EUA e a China, culminando com o adiamento de uma viagem a Pequim do secretário de Estado, Antony Blinken, originalmente marcada para este fim de semana —em um esforço para justamente reaproximar as duas potências .

Segundo o jornal The New York Times, Biden vinha discutindo as alternativas militares com o Pentágono desde terça (31), quando foi alertado sobre a presença do artefato. Mas a permanência prolongada sobre território americano provocou reações dentro e fora do governo, com Washington sustentando que ele claramente violava a soberania dos EUA.

O suposto balão espião de alta altitude entrou pela primeira vez em uma zona de identificação dos EUA em 28 de janeiro. Três dias depois, passou ao espaço aéreo canadense e voltou ao americano no dia 31, segundo uma autoridade de defesa dos EUA. Na quinta (2) o Pentágono havia afirmado ter detectado um primeiro balão de alta altitude da China, visto como espião, avistado pela primeira vez nas ilhas Aleutas, no Alasca.

Na quarta, o objeto sobrevoou Billings, no estado de Montana, onde fica uma base militar com silos de mísseis balísticos intercontinentais. Ele percorreu uma trajetória diagonal pelo país, de Idaho à Carolina do Sul, ao longo de sete dias. Os EUA decidiram inicialmente não derrubar o balão, sob argumento de que o item tem capacidade limitada de coleta de informações e que seus destroços poderiam cair em áreas civis.

Neste sábado, momentos depois de ele ter passado a sobrevoar o oceano Atlântico, a coisa mudou de figura.

A descoberta confundiu especialistas em segurança, que afirmam que, embora ambos os países tenham usado satélites para se vigiarem mutuamente, balões soam como uma tática de espionagem algo amadora. Afinal, as imagens que eles conseguem produzir não são muito mais valiosas em termos de informações do que aquelas produzidas do espaço.

Para alguns analistas, então, o artefato era na realidade uma provocação política.

O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou em comunicado que o instrumento tem origem civil e é usado para pesquisas sobretudo meteorológicas. A diplomacia de Pequim disse lamentar que o objeto tenha se desviado de sua rota e adentrado o espaço aéreo americano devido a, segundo a pasta, correntes de vento. Um porta-voz definiu neste sábado o caso como um "incidente por motivo de força maior" e acusou políticos e a imprensa americana de usarem a situação para desacreditar o regime chinês.

O clima entre EUA e China já era de tensão antes mesmo da revelação do artefato. Na quinta, Austin anunciara em Manila um acordo para que os americanos possam usar mais quatro bases militares nas Filipinas, expandindo a presença no mar do Sul da China, região reivindicada por Pequim.

Outro ponto de conflitos é o plano do novo presidente da Câmara dos EUA, o republicano Kevin McCarthy, de visitar Taiwan ainda neste ano, repetindo gesto de agosto do ano passado de sua antecessora, a democrata Nancy Pelosi, o que intensificou a crise nas relações entre os dois países.

O Pentágono informou na noite desta sexta-feira (3) que um segundo balão de alta altitude da China foi detectado sobrevoando a América Latina. Não se sabe sobre qual país o objeto está localizado.

Autoridades de defesa dos EUA afirmam que não é a primeira vez que balões desse tipo são avistados no país, mas que desta vez o tempo de permanência do objeto foi mais longo. Esse tipo de instrumento foi bastante utilizado durante a Guerra Fria pela União Soviética e pelos próprios americanos, que tentavam monitorar testes nucleares dos soviéticos principalmente na década de 1950.

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