Pessoas sem-teto ou em moradias precárias são cada vez mais numerosas e vulneráveis à inflação na França, segundo a Fundação Abbé Pierre em relatório anual apresentado na quarta-feira (1º).
O estudo critica a insuficiência de esforços do governo para remediar o desafio. Mulheres e pessoas LGBTQIA+ são as que mais sofrem.
A Fundação estima o número de desabrigados no país em 330 mil —30 mil acima do registrado no ano anterior e um aumento de cerca de 130% em relação a 2012, data do último estudo sobre esse assunto realizado pelo Instituto Nacional de Estatísticas.
Mas o diretor de estudos da fundação, Manuel Domergue, calcula que esse número pode ser ainda maior. No total, 4,15 milhões de pessoas vivem em condições precárias, segundo a fundação, que inclui nesta categoria aqueles que vivem em locais demasiadamente pequenos para si ou privadas de confortos básicos —como cozinha, banheiro e aquecimento.
A categoria habitação precária, que inclui situações como precariedade energética ou inquilinos com contas em atraso, agrupa 12,1 milhões de pessoas, ou mais de um sexto da população francesa.
Precariedade e gênero
A fundação se debruçou sobre as vulnerabilidades específicas sofridas por mulheres e pessoas LGBTQIA+. Elas correm o risco, revela o estudo, de cair em moradias precárias em quatro momentos da vida: ao deixar a casa dos pais, após separação conjugal, herança e viuvez.
A inflação, que acelerou significativamente em 2022, coloca em dificuldade as famílias de baixa renda ao aumentar seus custos com moradia, transporte e alimentação, observa a fundação.
Uma pessoa com renda mínima ou uma família monoparental pode se encontrar "no vermelho" ou comendo restos para viver, simplesmente pagando despesas cotidianas, explica o estudo, que calculou os tipos de orçamento familiar em vários municípios.
Inação governamental
À semelhança dos anos anteriores, a fundação aponta críticas ao governo, considerando que 2022 foi "um ano que passou em branco ou quase na luta contra a habitação precária".
"Raramente o fosso pareceu tão grande entre, por um lado, o estado de habitação precária e, por outro, a inadequação das respostas públicas para tornar a habitação acessível."
As ajudas distribuídas para mitigar o impacto da inflação não são, segundo o estudo, suficientemente direcionadas. A ajuda à renovação da habitação, cujo orçamento foi ampliado em 2023, é considerada insuficiente porque financia poucas renovações.
'Contra os pobres'
O "esforço público para a habitação", que reúne ajuda governamental às pessoas e à produção, representou em 2021 apenas 1,5% do PIB francês, valor que não era tão baixo desde pelo menos 1991.
O controle do valor dos aluguéis e a luta contra as locações sazonais do tipo Airbnb ainda são muito tímidos, segundo a fundação.
O Estado faz, às vezes, políticas "contra pobres", diz a organização, tendo como alvo a reforma do seguro-desemprego, que visa a reduzir a duração das indenizações, ou o projeto de lei contra pessoas que acampam em imóveis vazios ou abandonados, examinado recentemente pelo Senado.
Na frente mais urgente, se o governo desistiu de eliminar as vagas em alojamentos de emergência, "o próprio fato de ter pensado em reduzi-las é um sinal bastante preocupante", aponta Christophe Robert.
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