Policial tirou fotos de Tyre Nichols algemado e ferido após abordagem nos EUA

Ação viola regra do departamento e é a mais recente descoberta da investigação sobre morte de homem negro em Memphis

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Um dos policiais demitidos por participar do espancamento de Tyre Nichols em Memphis tirou uma foto do homem de 29 anos quando ele estava ferido, algemado e encostado na viatura policial e enviou a imagem para cinco pessoas, revelou a TV local Wreg nesta terça (7).

A ação viola a política do departamento de polícia, diz relatório encaminhado para um conselho estadual. O agente compartilhou a foto com outros oficiais e com um conhecido que não é funcionário público —enviar informações policiais para destinatário não autorizado e sem aprovação dos superiores é proibido.

Homem segura placa com foto de Tyre Nichols internado no hospital, inconsciente, durante missa em Memphis
Homem segura placa com foto de Tyre Nichols internado no hospital, inconsciente, durante missa em Memphis - Alyssa Pointer - 31.jan.23/Reuters

Ainda nesta terça, a procuradora da cidade de Memphis, Jennifer Sink, anunciou que ao menos mais sete policiais vão enfrentar acusações disciplinares por ações relacionadas à morte de Nichols. Assim, ao todo 13 agentes podem ser punidos no caso —seis já foram demitidos e, desses, cinco enfrentam acusações de assassinato em segundo grau.

O recente relatório também mostrou que, a certa altura da abordagem, um dos policiais envolvidos colocou sua câmera do uniforme dentro da viatura, ainda que políticas locais exijam que os agentes ativem suas câmeras durante todas as atividades nas ruas.

Nichols foi abordado a poucos metros da casa de sua mãe e espancado pelos agentes, que eram negros, assim como ele, em 7 de janeiro. Policiais alegaram que ele foi parado por dirigir de maneira imprudente, mas a justificativa é questionada. A vítima morreu três dias depois devido a consequências dos ferimentos.

Apesar de o episódio ter ocorrido na primeira semana do ano, ele só se tornou de conhecimento público três semanas depois, quando as imagens do espancamento de Nichols, gravadas por câmeras nos uniformes dos policiais, foram divulgadas. Protestos ocorreram em Memphis e em outras partes dos EUA.

A chefe da polícia de Memphis, Cerelyn Davis, afirmou que o caso é um exemplo de policiais que atuam em uma espécie de "comportamento de manada, baseados no ego". "Muita coisa deu errado naquele 7 de janeiro, e essa se transformou em uma situação trágica."

Além dos policiais, três membros do corpo de bombeiros foram demitidos por não fornecerem tratamento médico adequado a Nichols. O promotor distrital Steve Mulroy afirmou que outros oficiais ainda podem enfrentar acusações criminais conforme a investigação avança.

No último dia 29, o departamento de polícia local encerrou de maneira permanente as atividades da unidade responsável pela morte de Nichols. O grupo havia sido criado em 2021 e se chamava Scorpion, um acrônimo em inglês para "operação contra crimes de rua para restaurar a paz em nossos bairros".

O funeral de Nichols ocorreu no último dia 1º e contou com a presença de símbolos da luta contra a violência policial, como o reverendo Al Sharpton, além de familiares de George Floyd e Breonna Taylor, outras duas vítimas de circunstâncias similares. A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, também compareceu à cerimônia e defendeu a reforma policial.

Desde o assassinato de Floyd tramita no Congresso americano uma reforma legislativa que leva seu nome para, entre outros pontos, reforçar as punições por má conduta de agentes. O conteúdo, porém, está parado no Senado devido à oposição de parlamentares republicanos.

Uma análise visual capitaneada pelo jornal The New York Times concluiu que não há indícios, verbais ou físicos, de que Nichols representasse uma ameaça potencial contra os policiais. Os seis agentes, porém, usaram força física e intensificaram as agressões mesmo quando Nichols já estava quase inconsciente.

Associações da categoria alegam que o departamento cometeu violações ao demitir os agentes. A tenente Essica Cage-Rosario, presidente da Associação de Polícia de Memphis, disse ter comunicado aos cinco demitidos que o sindicato se opôs à decisão do departamento de demiti-los antes que as investigações fossem concluídas.

O presidente Joe Biden, que já havia falado sobre o caso e manifestado solidariedade à família de Nichols, voltou a abordá-lo também nesta terça, durante o discurso do Estado da União.

"Sei que a maioria dos policiais é formada por bons agentes", disse ele. "Mas o que aconteceu com Tyre acontece com muita frequência. Nós temos que fazer melhor. Dar aos agentes o treinamento de que precisam, ter padrões mais elevados e ajudá-los a ter sucesso em manter todos a salvo."

Com Reuters e The New York Times

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