Belarus agora confirma ataque a avião-radar russo, mas nega destruição

Ditador Lukachenko diz que mais de 20 oposicionistas foram presos e que danos ao A-50 foram superficiais

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São Paulo

Em mais um capítulo da novela de desinformação que permeia a Guerra da Ucrânia, o regime da Belarus confirmou nesta terça-feira (7) que houve um ataque com drone contra um poderoso avião-radar da aliada Rússia em uma base próxima de Minsk na semana passada.

Citado pela agência estatal de notícias Belta, o ditador Aleksandr Lukachenko afirmou que, contudo, o Beriev A-50 não sofreu mais do que danos superficiais, em oposição à destruição incapacitante relatada pelo grupo de oposição Bipol na segunda-feira retrasada (27).

Imagem de satélite mostra o Beriev A-50 sem danos aparentes na base de Matchulischi, na Belarus
Imagem de satélite mostra o Beriev A-50 sem danos aparentes na base de Matchulischi, na Belarus - Maxar Technologies - 28.fev.23/Reuters

Também disse que "mais de 20 terroristas" foram presos na investigação do ataque. Sem provas, afirmou ainda que o drone do grupo oposicionista foi usado com ajuda da CIA, o serviço de espionagem dos EUA.

A ação ocorreu, de acordo com o Bipol, no domingo retrasado (26). O grupo até detalhou os danos: destruição do prato giratório do radar principal do avião e de sua cabine de comando. A Rússia não comentou, e autoridades belarussas foram evasivas, dizendo que tratava-se de fake news.

Só que um dia depois, imagens de satélites de duas empresas americanas mostraram o avião intacto na pista, sem nenhum sinal aparente de dano. Depois, a TV estatal belarussa fez o mesmo em um vídeo do aparelho, um dos dez na frota de Vladimir Putin. Na sequência, contudo, o Bipol divulgou dois vídeos feitos por pequenos drones domésticos exibindo a intrusão do espaço aéreo da base de Matchulischi e, de forma provocativa, sobrevoando o A-50 e pousando sobre seu radar e fuselagem.

Isso provou o furo na defesa belarussa, embora a destruição alegada não tenha sido registrada. A ditadura é uma aliada de Putin que sempre optou por certa ambiguidade com o Ocidente, mas desde que enfrentou grandes protestos contra acusações de fraude eleitoral em 2020 caiu no colo do Kremlin de vez.

Lukachenko, contudo, não emprega suas forças na guerra, apenas permite o uso de seu território para que os russos ataquem a Ucrânia. Nesta terça, ele voltou a rejeitar a entrada no conflito. "Não seremos arrastados", disse ele, que na semana passada esteve com Xi Jinping, aliado de Putin, em Pequim.

Bakhmut segue sob pressão

Em campo, Bakhmut segue no centro da tensão militar entre russos e ucranianos, sendo o ponto focal da guerra hoje. O ministro da Defesa da Rússia, Serguei Choigu, afirmou nesta terça-feira que a tomada da cidade poderá proporcionar "novas ações ofensivas".

Segundo o americano Instituto para o Estudo da Guerra, os russos já tomaram 40% da cidade, que tinha 70 mil habitantes e era um centro importante na região de Donetsk, a menos controlada pelos russos das quatro que foram anexadas ilegalmente por Putin em setembro passado.

Analistas divergem sobre o que pode acontecer caso ela caia ou os ucranianos consigam romper o ataque russo, já que tudo depende da capacidade de forças de retaguarda de ambos os lados. Na concepção russa, desenhada por Choigu, o "moedor de carne" enfraqueceu as forças rivais, privadas de homens e munição, e isso facilitará a conquista do resto de Donetsk. Já Kiev aposta no mesmo raciocínio, com sinal trocado. Em vídeo sem data, o líder do grupo mercenário Wagner, Ievguêni Prigojin, chegou a dizer que, se suas forças na região tivessem de recuar, "toda a frente russa iria colapsar".

Prigojin vive às turras com Choigu e outros generais do Alto-Comando russo, e sua fala se insere no contexto de pedir mais recursos e pressionar politicamente as Forças Armadas. Mas o presidente Volodimir Zelenski parece acreditar nisso, e na segunda (6) determinou o reforço das ações em Bakhmut.

Nesta terça, ele também confirmou a identidade de um soldado ucraniano executado desarmado numa trincheira por soldados russos, conforme vídeo sem data que circulou no Telegram na segunda. Timofii Shadura Chadura fumava um cigarro e, cercado, disse "Glória à Ucrânia" antes de ser baleado.

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