Como Xi na Rússia mostrou China alinhada com Putin

Edição da China, terra do meio explica consequências do encontro entre líderes

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Igor Patrick

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Xi Jinping concluiu na quarta (22) uma das suas viagens mais importantes desde que retornou com os compromissos internacionais pós-reabertura da China: uma visita a Vladimir Putin em Moscou.

O coração da agenda, dizia a mídia chinesa, era discutir os 12 pontos na proposta de paz elaborada por Pequim para resolver a Guerra na Ucrânia. Putin e Xi encerraram o encontro com alguns clamores genéricos acerca do tema:

  • Pediram o fim de "ações que aumentam as tensões e prolongam" o conflito;
  • Exortaram que a Otan (aliança militar ocidental) "respeite a soberania, segurança e interesses" de outras nações

A linguagem usada segue o léxico russo que justifica a invasão devido à expansão da aliança, não chama a movimentação de tropas russas de "invasão" e não menciona a crise humanitária em curso na Ucrânia.

A viagem serviu para solidificar a imagem de cooperação entre Moscou e Pequim. Recebido com pompa no Kremlin, Xi posou para fotos ao lado do colega russo em várias ocasiões e se referiu a Putin como "querido amigo". Também expressou o desejo chinês em promover uma "jornada de amizade, cooperação e paz" com os russos.

Os Estados Unidos reagiram ao encontro e acusaram a China de dar "guarida diplomática" aos crimes perpetrados pela Rússia na Ucrânia.

Por que importa: era de se imaginar que Xi não chegaria a Moscou impondo condições ou alienando a Rússia —afinal, Pequim tem se beneficiado de petróleo barato e aumentado o volume de exportações para o país vizinho desde o início da guerra.

Contudo, o tom amistoso da visita e as referências vagas a uma possível tratativa de paz mediada pela diplomacia chinesa sinalizaram ao Ocidente que, ao menos por hora, Xi não deve se envolver ativamente neste vespeiro que se tornou a invasão russa.

As atenções agora se voltarão para a ligação que Xi prometeu fazer ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, que até agora tem demonstrado incômodo, mas evitado criticar a China pelo pouco envolvimento nas mediações pelo encerramento da guerra.

O que também importa

O ex-presidente do Google na China Kai-Fu Lee anunciou nesta semana a fundação de uma empresa dedicada à construção de aplicativos semelhantes ao ChatGPT. Lee afirmou que a sua nova empresa, batizada de Project AI 2.0, focará em aplicações de produtividade. A iniciativa se junta a outras desenvolvidas na China como o MOSS (Universidade Fudan) e o Ernie (Baidu).

O número de bilionários na China encolheu em 15% 2022. Os dados são de um relatório produzido pela consultoria Hurun, que aponta que 229 chineses deixaram a categoria dos bilionários. Houve também mudanças de posição no ranking: o fundador da Tencent, Pony Ma, subiu do 4º para o 2º lugar na lista dos chineses mais ricos (US$39 bi, aproximadamente R$ 206 bilhões) e o dono do conglomerado Alibaba, Jack Ma, caiu do 5º para o 9º (US$25 bi, mais de R$ 132 bi).

O Departamento de Geologia e Recursos Minerais da província de Shandong, no leste da China, anunciou a descoberta de uma enorme mina de ouro. Na zona rural próxima à cidade de Rushan, a mina tem pelo menos 50 toneladas do metal precioso, o equivalente a quase US$1 trilhão (R$ 5,3 trilhões) em valor de mercado. O governo local planeja iniciar a exploração em breve e estima ser capaz de extrair pelo menos duas toneladas anualmente.

Xi Jinping pediu "punição severa" aos acusados de matar nove cidadãos chineses na República Centro-Africana. Segundo a AFP, eles foram emboscados em um ataque a uma mina de ouro próxima à cidade de Bambari. Outros dois chineses sobreviveram, mas com ferimentos moderados e graves.

Fique de olho

A viagem de Lula (PT) para a China terá mais de 200 empresários e congressistas. O presidente tinha embarque previsto para domingo (26), mas a ida deve ser adiada em razão de uma pneumonia diagnosticada no presidente.

O Itamaraty informou que pelo menos 20 acordos devem ser assinados pelo brasileiro e Xi Jinping. Lula também promete debater a questão ucraniana com o líder em Pequim.

Por que importa: A comitiva que acompanhará o presidente impressiona em número e deve sinalizar uma importância diplomática significativamente maior do que a breve visita de Lula a Joe Biden no início do ano.

A agenda será tão cheia que os chineses precisaram reduzir o escopo. Segundo fontes ligadas aos preparativos, temas adjacentes à relação comercial, como cultura, foram excluídos.

Para ir a fundo

  • Estão abertas as inscrições de bolsas de intercâmbio para professores de chinês. Para concorrer é necessário ser aprovado no nível 5 do exame de proficiência HSK, ter de 16 a 35 anos (ou 45, caso o profissional já esteja empregado). Os programas variam entre 4 semanas a 4 anos. Outras informações aqui. (gratuito)
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