Irã prende suspeitos de envenenar alunas e promete perseguição 'sem piedade'

Segundo o regime, detidos têm antecedentes criminais e participaram de protestos após morte de Mahsa Amini

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Teerã | AFP

O Ministério do Interior do Irã anunciou, nesta terça-feira (7), as primeiras prisões decorrentes da investigação para descobrir os responsáveis pela onda de envenenamento de alunas. Nos últimos meses, centenas de casos de intoxicação por gás foram registrados em escolas femininas, principalmente na cidade sagrada de Qom, ao sul da capital, Teerã.

Os casos, porém, se espalharam para outras cidades. Na última semana, ao menos dez escolas femininas tiveram casos de envenenamento; sete na cidade de Ardabil, no noroeste do país, e três em Teerã. A suspeita é de que os autores dos ataques querem o fechamento dos centros de ensino. Segundo relatos, as alunas sentiram náuseas, falta de ar e tonturas após perceberem odores "desagradáveis".

Mulher caminha diante de bandeira do Irã pintada em muro de Teerã - Atta Kenare - 11.out.22/AFP

Segundo Mohammad-Hassan Asafari, membro da comissão parlamentar de investigação citado pela agência de notícias ISNA, 25 províncias e quase 230 escolas foram afetadas, e mais de 5.000 alunas e alunos foram intoxicados. O último caso impactou 40 estudantes do sexo feminino da cidade de Zaedã.

Em comunicado na TV estatal, o vice-ministro do Interior, Majid Mirahmadi, anunciou a detenção de suspeitos com base em "investigações do serviço de inteligência", sem dar mais detalhes. Mais tarde, a pasta afirmou que os detidos são suspeitos de preparar substâncias nocivas nas províncias de Cuzistão, Azerbaijão Ocidental, Fars, Quermanxá, Coração e Alborz.

Segundo a nota, três dos suspeitos têm antecedentes criminais, "entre eles a participação nos recentes distúrbios", termo utilizado pelas autoridades para se referir aos protestos que eclodiram no país após a morte de Mahsa Amini. A jovem curda de 22 anos morreu após ser detida pela polícia moral por supostamente violar as normas de vestimenta do regime. Autoridades dizem que ela tinha problemas de saúde preexistentes, o que teria provocado o óbito, mas a família sustenta que ela foi agredida na prisão.

Uma dessas pessoas, segundo o ministério, usava seu filho para colocar nas instituições de ensino substâncias que causavam irritação, além de enviar fotos das alunas após os envenenamentos para "meios de comunicação hostis". O objetivo, segundo a pasta, era "criar medo entre as pessoas e provocar o fechamento de escolas".

O caso de envenenamento gerou indignação e apelos por providências das autoridades. Em fevereiro, pais das estudantes organizaram uma manifestação em frente ao prédio da administração da cidade para exigir explicações. O incidente também despertou preocupação internacional e pedidos de investigação.

No último sábado (4), as autoridades iranianas criticaram o apelo lançado um dia antes pela diplomacia alemã para esclarecer todos os casos e chamaram o comunicado da nação europeia de ingerência nos assuntos do país. O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos também pediu uma "investigação transparente" e acrescentou que as conclusões sobre o episódio precisam ser divulgadas.

O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país, chamou os envenenamentos de "crime imperdoável" e determinou que os responsáveis sejam perseguidos "sem piedade".

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