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O Ministério da Defesa russo divulgou ter matado Taras Bobanitch, subcomandante do Pravi Sektor (Setor Direito), grupo nacionalista e neonazista que atua na Ucrânia.
A Rússia diz que Bobanich participava de operações na região do Donbass, leste ucraniano, desde 2014, e foi morto na região de Kharkiv.
A segunda maior cidade da Ucrânia tem sido intensamente atacada na nova fase da invasão russa, concentrada em consolidar o domínio do leste a fim de criar um corredor entre a Rússia e a península da Crimeia.
Explicamos na newsletter deste domingo (10) como essa operação está relacionada a dois objetivos declarados pela Rússia no início da ofensiva: 1) o reconhecimento de províncias do Donbass como independentes; 2) e o reconhecimento da Crimeia como sendo russa.
Hoje, vamos explicar um terceiro argumento da narrativa de Vladimir Putin para a guerra: a "desnazificação da Ucrânia".
Segundo o Kremlin, o governo de Volodimir Zelenski tolera e conta com o apoio de cédulas nacionalistas extremistas e neonazistas que:
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surgiram a partir de 2013, período próximo à anexação da Crimeia pela Rússia, que fomentou o sentimento nacionalista ucraniano;
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têm maior presença na porção leste, onde também estão as regiões separatistas pró-russas do Donbass.
No discurso em que justificou a invasão da nação vizinha, há 47 dias, Putin declarou que o seu objetivo era proteger os povos russos na região, "que há oito anos são submetidos a abusos e a um genocídio por parte do regime de Kiev".
Nesta segunda (11), ao anunciar a morte do comandante Bobanitch, o Ministério da Defesa declarou: "As Forças Armadas russas continuarão procurando e eliminando os líderes das organizações neonazistas ucranianas".
Mas a presença neonazista na Ucrânia é significativa?
Sim... "A Ucrânia, como quase todos os países da Europa, tem seus grupos de extrema direita fascistas e mesmo neonazistas", explica Angelo Segrillo, professor de história contemporânea da USP, especialista em Rússia e autor do livro "Os Russos".
...E não: "Entretanto, o peso político desses grupos realmente neonazistas é pequeno. Os grupos radicais de direita fizeram uma coalizão na última eleição para o Parlamento ucraniano e conseguiram apenas cerca de 2% dos votos", pondera Segrillo.
Zelenski, que é judeu, nega o elo de seu governo com essas cédulas. No entanto, um dos grupos neonazistas mais famosos, o Batalhão Azov, foi em parte incorporado à Guarda Nacional ucraniana e treinou civis para combater os russos após a invasão.
Por que importa agora: o nome do batalhão é uma referência ao mar de Azov, onde atua, um porto estratégico para o comércio e também importante acesso para o Donbass. Uma de suas saídas está em Mariupol, devastada pelas tropas de Moscou. Esta é a situação na cidade:
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a Rússia planeja reforçar a ação militar no local para encerrar a última resistência na região;
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separatistas pró-Rússia dizem que já assumiram controle do porto;
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a Ucrânia fala em "dezenas de milhares de mortos", mas a estimativa não pode ser confirmada;
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entidades como a Cruz Vermelha relatam dificuldade para retirar moradores e levar assistência.
A batalha de Mariupol é considerada definidora para os rumos do conflito nos próximos dias. O discurso da "desnazificação" pode justificar ataques mais violentos por parte da Rússia.
Não se perca
Apresentamos três grupos paramilitares que atuam no leste da Ucrânia:
- Pravi Sektor/Setor Direito: Organização de extrema direita e ultranacionalista foi criada em 2013 e virou um partido. Sua bandeira, com símbolo trizub ("tridente", em português), foi vista em manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro nos últimos anos;
- Batalhão Azov: Milícia criada em 2014 para combater os separatistas russos no Donbass, existe até hoje com outros nomes e foi incorporada à Guarda Nacional da Ucrânia. "Isso abriu o flanco para que Vladimir Putin dissesse que neonazistas tinham se infiltrado no Estado ucraniano", explica Angelo Segrillo, da USP;
- Grupo Wagner: É uma organização de mercenários que atuam do lado de Moscou, apoiando os separatistas pró-Rússia. Segundo a BBC, foi identificada pela primeira vez em 2014, no leste ucraniano, e enfrentou acusações de abusos de direitos humanos e crimes de guerra em suas operações na Síria e na Líbia.
O que aconteceu nesta segunda (11)
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Kremlin declarou que não vai interromper os ataques até a próxima negociação;
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Separatistas pró-Rússia disseram ter tomado o porto de Mariupol, no leste;
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Moscou afirmou que destruiu baterias antiaéreas doadas pela Otan;
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Brasil divulgou ter concedido 74 vistos humanitários a ucranianos.
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