Descrição de chapéu África

Brasileiros deixam Sudão que, à beira de guerra civil, tem escassez de comida

Grupo com dez pessoas atravessou fronteira com Egito após longa viagem em micro-ônibus

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São Paulo

Enquanto o conflito no Sudão não dá sinais de trégua, um grupo de brasileiros conseguiu fugir do país atravessando a fronteira com o Egito depois de uma longa viagem em um micro-ônibus, informou o Itamaraty. O país africano vive um cenário de caos há dez dias e, segundo a ONU, a perspectiva permanece preocupante, com escassez de alimentos, água potável, remédios e combustível.

Deixaram o Sudão uma servidora do Itamaraty e nove jogadores e membros da comissão técnica do time de futebol Al-Merrikh. Eles chegaram à cidade de Assuã, no Egito, nesta segunda (24) e devem ir à capital, Cairo, nesta quarta. Ao menos sete brasileiros que continuam em território sudanês aguardam em segurança para serem resgatados.

Pessoas que fugiram do Sudão aguardam em avião militar na cidade de Nairobi, no Quênia
Pessoas que fugiram do Sudão aguardam em avião militar na cidade de Nairobi, no Quênia - Thomas Mukoya - 24.abr.23/Reuters

À beira de uma guerra civil, o Sudão registrou novos combates nesta terça (25) que romperam mais uma tentativa de cessar-fogo para a retirada de civis. A trégua havia sido mediada pelo governo dos EUA e anunciada na véspera pelo secretário de Estado americano, Antony Blinken.

Mais de cinco tentativas de cessar-fogo fracassaram desde o início dos confrontos, no último dia 15. Nas últimas horas, tiroteios foram registrados na capital Cartum e na cidade vizinha Omdurman. Os dois lados se acusam de romper as tréguas.

O conflito no país africano começou após divergências dos antigos aliados Fatah al-Burhan, líder sudanês, e Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, do grupo paramilitar RSF (Forças de Apoio Rápido). Eles discordam sobre a participação dos paramilitares no Exército e disputam a formação de um eventual governo de transição.

Combates intensos provocam a escassez de suprimentos e fazem disparar os preços dos produtos básicos, segundo a ONU. Também comprometem os sistemas de comunicação e de eletricidade. Ao todo, os confrontos já deixaram 459 mortos e mais de 4.000 feridos.

Em nota, o RSF pediu apoio da comunidade internacional para que a trégua seja de fato estabelecida. "O Exército sudanês violou o acordo com ataques de aviões em Cartum. Isso confirma a existência de múltiplos centros de decisão dentro das Forças Armadas golpistas e remanescentes do regime extinto", informou o grupo paramilitar, em referência à ditadura de 30 anos de Omar al Bashir, deposta em 2019.

O Exército do Sudão não respondeu à acusação, mas havia informado na segunda-feira que cumpriria o cessar-fogo e que esperava das forças inimigas o mesmo posicionamento.

Dos brasileiros que estão no Sudão, dois estão em Cartum, onde os conflitos são mais intensos, e outros cinco no interior, segundo o Itamaraty. Em nota, a pasta informou que o governo brasileiro mantém contato com a ONU para viabilizar a retirada dos que desejam sair.

Mais de mil cidadãos da União Europeia (UE) já deixaram o país africano, segundo Josep Borrell, chefe da diplomacia do bloco. China, Estados Unidos, Japão, Reino Unido e vários países árabes também anunciaram a retirada de centenas de pessoas.

O Acnur, a agência da ONU para refugiados, estima que até 270 mil pessoas podem fugir para o Chade e o Sudão do Sul. Antes, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou para o risco de uma "conflagração catastrófica" no Sudão, afirmando que o conflito poderia se espalhar para outros países.

A violência faz disparar também o alerta para crises sanitárias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou nesta terça que um dos principais laboratórios de saúde da capital estava ocupado por soldados e que os funcionários do local haviam sido sequestrados.

Nima Saeed Abid, porta-voz da OMS, descreveu a situação como "extremamente perigosa" porque o laboratório contém amostras dos agentes patogênicos do sarampo, cólera e poliomielite.

Ao alertar para o risco biológico, ele enfatizou que a cólera pode causar a morte em questão de horas se não for tratada. Já o sarampo, altamente contagioso, pode afetar principalmente as crianças menores de cinco anos. "Os ataques aos institutos de saúde são condenáveis e devem parar imediatamente", afirmou.

Embora intenso, o conflito no Sudão não configura uma guerra civil porque as partes envolvidas não a declararam formalmente e tampouco têm projetos antagônicos definidos, segundo Lucas de Oliveira Ramos, especialista em dinâmicas de segurança na África e doutorando em relações internacionais.

Ele afirma que, por ora, não há clareza sobre as demandas dos grupos envolvidos, que concentram os combates na capital e nos arredores.

Com AFP e Reuters

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