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EUA anunciam novo cessar-fogo no Sudão após tentativas sem sucesso

Conflitos deixaram ao menos 427 mortos, e ONU alerta para risco de 'conflagração catastrófica'

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São Paulo

Na segunda semana do conflito que já deixou ao menos 427 mortos no Sudão, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que o Exército do país africano e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido concordaram nesta segunda-feira (24) com a implementação de um cessar-fogo de 72 horas.

A trégua, mediada pelos Estados Unidos, está prevista para entrar em vigor à meia-noite desta terça (25), no horário local. O acordo, contudo, é visto com ressalvas, já que tentativas semelhantes fracassaram.

Fumaça em bairro residencial de Cartum, a capital do Sudão
Fumaça em bairro residencial de Cartum, a capital do Sudão - Mohamed Nureldin Abdallah - 22.abr.23/Reuters

Pelo menos cinco tentativas de cessar-fogo para retirada de civis foram desrespeitadas desde o início dos confrontos, no último dia 15. Tiros e bombas foram registrados até mesmo no Eid al fitr, feriado islâmico na semana passada que marcou o fim do período de jejum do Ramadã e no qual ambas as partes tinham se comprometido a paralisar os confrontos. Os dois lados se acusam de romper a trégua.

Segundo Blinken, o governo americano trabalha com aliados para implementar uma comissão que ficaria responsável por negociar um cessar-fogo permanente. Ele conversou com os generais envolvidos no conflito e também com representantes da União Africana, fórum que reúne 55 países do continente.

Os embates começaram após divergências dos antigos aliados Fatah al-Burhan, líder sudanês, e Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti, das Forças de Apoio Rápido. Eles discordam sobre a participação dos paramilitares no Exército e disputam a formação de um eventual governo de transição.

Mesmo com esforços internacionais para conter a crise, combates na capital, Cartum, e em outras cidades estratégicas não dão trégua. Mais cedo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, havia alertado para o risco de uma "conflagração catastrófica", afirmando que o conflito poderia se espalhar para outros países.

Ele pediu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas "máxima pressão sobre as partes para acabar com a violência, restabelecer a ordem e regressar ao caminho da transição democrática". Uma reunião com representantes dos 15 países que compõem o órgão está prevista para esta terça. "Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para tirar o Sudão da beira deste abismo", disse Guterres.

Enquanto isso, diversas missões continuam empenhadas em resgatar cidadãos estrangeiros. Nesta segunda, um comboio com 65 veículos transportou dezenas de crianças, diplomatas e funcionários de organizações humanitárias em uma jornada de 800 km que percorreu sob calor intenso o trajeto da capital, Cartum, até Porto Sudão, no nordeste, onde é possível fugir de barco para nações vizinhas.

Ao todo, mais de mil cidadãos da União Europeia foram retirados do Sudão desde o início do conflito, disse o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell. A Espanha anunciou nesta segunda a saída de cem pessoas, enquanto a França informou que sua embaixada no país africano seria fechada "até novo aviso".

Para aqueles que permanecem, a situação é cada vez mais sombria. Há escassez de alimentos, água potável, remédios e combustível. Sistemas de comunicação e de eletricidade também estão comprometidos, e os preços dispararam, segundo Farhan Ha, porta-voz-adjunto da ONU.

Ele afirma que suprimentos humanitários das Nações Unidas e outros produtos armazenados continuam alvos de saques. Já os conflitos intensos impedem as operações de socorro em algumas regiões do país.

A situação de caos e a saída dos funcionários estrangeiros vêm preocupando a população sudanesa, que teme ficar à mercê do conflito. "A rápida retirada de cidadãos ocidentais significa que o país está à beira do colapso. Mas esperamos um papel maior desses países no apoio à estabilidade, pressionando para que os dois lados parem esta guerra", disse o acadêmico Suleiman Awad, 43, à agência de notícias AFP.

Ao se desvencilhar diplomaticamente, o Ocidente pode permitir que a Rússia ganhe influência no Sudão, afirmou, sem entrar em detalhes, Pekka Haavisto, ministro das Relações Exteriores da Finlândia, que no início do mês passou a integrar a Otan, a aliança militar ocidental, em derrota de Vladimir Putin.

Antony Blinken manifestou preocupação semelhante. Segundo o americano, militares do Grupo Wagner, uma organização mercenária russa, ameaçam agravar o conflito na nação africana. O grupo nega envolvimento no conflito atual, mas é acusado de ter relações comerciais e militares com o Sudão.

Os confrontos mais intensos nesta segunda aconteceram em Omdurman, uma das cidades vizinhas de Cartum. Testemunhas relataram ataques aéreos e confrontos terrestres. Na capital, uma fumaça escura foi vista na região do aeroporto internacional e do quartel-general do Exército.

"Continuaremos trabalhando com os dois lados sudaneses e nossos parceiros em direção ao objetivo comum de um retorno ao governo civil no Sudão", disse Blinken.

Com Reuters e AFP

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