O líder do grupo mercenário russo Wagner, Ievguêni Prigojin, afirmou neste domingo (7) ter recebido a promessa do Exército de seu país de que receberá mais munições e armamentos. Antes, ele ameaçou retirar suas forças de Bakhmut, epicentro dos combates na Guerra da Ucrânia, devido à falta de recursos.
"Eles prometeram nos dar tudo o que precisamos para continuar as operações. Também prometeram que farão o que for necessário para impedir que o inimigo nos tire [suprimentos]", disse Prigojin.
Sem conseguir conquistar Bakhmut na batalha mais longa e sangrenta no leste da Ucrânia, Prigojin fez duras críticas aos líderes do Exército e ao governo russo. Na sexta, gravou um vídeo cercado de cadáveres alertando para as baixas sofridas pelo grupo, o que definiu como "sem sentido" e "injustificadas".
"Choigu! Gerasimov! Onde está a merda da munição?", grita ele no vídeo, referindo-se ao ministro da Defesa, Serguei Choigu, e ao chefe do Estado-Maior, Valeri Gerasimov.
A pressão sobre o Kremlin aumentou no sábado (6), quando o líder mercenário havia reiterado a próxima quarta (10) como data limite para o envio de recursos. Se a demanda não fosse atendida, disse, as tropas seriam retiradas. "Porque, sem munições, as unidades Wagner enfrentam uma morte absurda", afirmou ele, sugerindo que a posição fosse ocupada por soldados tchetchenos que lutam ao lado de Moscou.
As ameaças surtiram efeito. Segundo Prigojin, o Ministério da Defesa russo designou o general Serguei Surovikin para trabalhar de forma conjunta com o Grupo Wagner em Bakhmut. Experiente, o militar é conhecido pela brutalidade. A ONG Human Rights Watch divulgou em 2020 que ele estava entre as pessoas que poderiam ser responsabilizadas por violações aos direitos humanos no conflito da Síria.
"Este é o único homem com estrela de general do Exército [russo] que sabe lutar", disse Prigojin, em outra crítica aos líderes militares. "Da noite para o dia, recebemos uma ordem de combate pela primeira vez."
O chefe de Wagner acusa há meses o governo russo de não fornecer munição suficiente a seus soldados devido a rusgas pessoais. Ele também responsabiliza o comando do Exército pelas "dezenas de milhares" de russos mortos e feridos no país invadido, ao mesmo tempo em que cresce a expectativa por uma contraofensiva ucraniana no conflito que se prolonga por mais de 14 meses.
Analistas ocidentais avaliam que a retórica pode ser uma manobra de Prigojin para evitar ter de assumir a responsabilidade por um eventual fracasso em Bakhmut. Os russos ocupam cerca de 80% do município, mas poucos avanços foram registrados nos últimos meses. Segundo o vice-ministro da Defesa ucraniano, Ganna Maliar, os russos ainda estão "concentrando seus principais esforços na cidade" e procurando recursos para fortalecer as tropas. Estrategistas russos consideram a região um trampolim para a conquista de outras áreas do Donbass, uma zona russófona no leste ucraniano.
Forças de Kiev foram encurraladas em Bakhmut, mas ainda resistem e têm provocado baixas significativas nas tropas inimigas. Ao mesmo tempo, movimentos de diferentes atores corroboram a hipótese de falta de munição do lado russo —algo que também afeta a Ucrânia em proporção diferente.
Na terça (2), Choigu pediu à estatal Tactical Missiles Corporation que dobre sua produção de mísseis. "As ações das unidades russas que conduzem a operação especial dependem em grande parte do reabastecimento de estoques de armas, equipamentos militares e meios de destruição", disse o ministro.
No mesmo dia, o Ministério da Defesa do Reino Unido engrossou tal avaliação ao afirmar que os problemas logísticos são centrais e que Moscou não tem munição suficiente. "A Rússia continua dando a mais alta prioridade à mobilização de sua indústria de defesa e ainda assim não consegue atender às demandas do tempo de guerra", afirmou a pasta britânica.
Durante o inverno europeu, a Ucrânia reforçou suas defesas. Agora, prepara-se um contra-ataque usando centenas de veículos blindados e tanques doados por aliados. Para tal, contará com o reforço de milhares de soldados que voltaram recentemente de uma série de treinamentos no Ocidente.
Kiev anunciou no sábado ter derrubado pela primeira vez um míssil hipersônico russo. A interceptação teria acontecido durante uma onda de ataques de Moscou na madrugada de quinta (4). O general Mikola Oleshchuk afirmou que a destruição do míssil Kinzhal foi um acontecimento histórico. Em 2018, Putin disse que o armamento era "ideal", por sua dificuldade em ser interceptado.
Segundo a Força Aérea ucraniana, o míssil foi derrubado em Kiev graças ao sistema americano de defesa antiaérea Patriot, um dos mais avançados do mundo e que foi fornecido por aliados ocidentais.
O líder ucraniano, Volodimir Zelenski, afirmou que o sistema fortaleceria de forma significativa as defesas do país. Mais tarde, autoridades da Rússia anunciaram a derrubada de um míssil balístico ucraniano sobre a Crimeia —península anexada por Moscou após a queda do governo pró-Kremlin da Ucrânia em 2014.
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