Rei Charles 3º será coroado com aprovação modesta e pouco apoio de jovens

Pesquisa aponta que monarca tem a aceitação de 55% dos britânicos; Elizabeth 2ª era admirada por 75%

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São Paulo

Proclamado rei em setembro do ano passado, Charles 3º, 74, vem aos poucos ganhando o apoio da população britânica, mas ainda está longe do respaldo que tinha sua mãe, a rainha Elizabeth 2ª.

Ele foi alçado ao trono com o desafio de continuar o legado do membro da família real mais popular num momento em que questionamentos à monarquia aumentam devido à alta do custo de vida no Reino Unido, com inflação crescente e greves frequentes de profissionais da saúde, da educação e do transporte.

Ao mesmo tempo, o rei tem aprovação apenas modesta. Pesquisa divulgada pelo instituto YouGov aponta que o monarca tem a aceitação de 55% dos britânicos, número acima dos 42% no início de seu reinado, mas abaixo dos 75% registrados por Elizabeth 2ª antes de sua morte.

Homem idoso caucasiano de perfil acena com a mão esquerda
O rei Charles 3º, em York - Phil Noble - 6.abr.23/Reuters

Hoje Charles 3º ocupa apenas o quinto lugar no ranking de popularidade de seus parentes, perdendo para a irmã, a princesa Anne (66%); o filho William (65%); e a nora Catherine (65%), além de Elizabeth 2ª.

Numa lista global, o monarca britânico aparece atrás inclusive de políticos estrangeiros, caso do presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski (57%), cujo país foi invadido pela Rússia em fevereiro do ano passado, e do casal americano Michelle (58%) e Barack Obama (72%).

Tendo esperado mais do que qualquer outro herdeiro para se tornar rei, Charles 3º se envolve com as agendas ambiental e social, o que contribui para melhorar a sua imagem. Antes de ser proclamado rei, ele era presidente de honra do World Wildlife Fund (WWF), uma das mais influentes ONGs do planeta, além de ter criado em 2010 a International Sustainability Unit, tipo de guarda-chuva de suas iniciativas ambientais.

O ativismo tornou-se uma marca ao demonstrar interesse por assuntos que afetam diretamente os súditos, da defesa do ambiente à educação para jovens desfavorecidos, causa que defende por meio da organização Prince's Trust.

Na cerimônia de coroação deste sábado (6), Charles 3º mostrará boa parte do figurino já usado por outros monarcas, numa tentativa de tornar o evento mais sustentável, algo que o aproxima dos mais jovens, mais engajados na defesa do meio ambiente.

De acordo com o YouGov, apenas 36% das pessoas com idade de 18 a 24 anos apoiam a manutenção da monarquia. Outros 40% defendem que o chefe de Estado seja eleito. Há dez anos, 72% dos entrevistados deste grupo etário defendiam a continuidade da monarquia. Considerando toda a população britânica, o apoio à monarquia caiu de 62%, quando Charles 3º assumiu o reinado, para 58% no mês passado.

Pesam na queda escândalos que não envolvem diretamente o rei. Desde março, a notícia sobre a negociação entre editores e o príncipe Andrew, irmão mais novo de Charles 3º, para uma biografia é considerada um potencial explosivo na família real. Pessoas próximas de Andrew tentam fazê-lo desistir da ideia, vista como um tipo de vingança já que no ano passado ele teve de renunciar aos títulos militares devido às acusações de abuso sexual contra uma menor de idade.

Com o apoio à monarquia em baixa, apenas 33% dos britânicos dizem que se importam com a coroação de Charles 3º. Desta vez, o juramento de lealdade ao rei será realizado pelo povo britânico —todos os presentes na Abadia de Westminster, assim como espectadores do evento de todo o mundo, serão convidados a fazê-lo.

O coro dos milhões, chamado "Homenagem do Povo", substitui a tradicional "Homenagem dos Pares", quando só a nobreza jurava lealdade. A mudança gerou críticas, como mostrou o jornal The Guardian com relatos de cidadãos que apontaram uma desconexão do rei com a sociedade atual, assim como os altos custos da coroação.

No mês passado, dados oficiais mostraram o Reino Unido como a única região da Europa ocidental com inflação de dois dígitos. A inflação dos preços ao consumidor caiu para uma taxa anual de 10,1% em março, informou o Escritório Nacional de Estatísticas, abaixo dos 10,4% em fevereiro, mas com desaceleração menor que a esperada.

A crise pressiona o governo britânico com a pior onda de paralisações trabalhistas desde a década de 1980 no Reino Unido. Principalmente entre junho e agosto do último ano e desde o início de dezembro, trabalhadores de diversas categorias do serviço público cruzaram os braços reivindicando reajustes salariais acima do teto da inflação.

Já a fortuna do rei Charles 3º é estimada em £ 1,8 bilhão (R$ 11,3 bi), maior que a de sua mãe. Quando a rainha morreu, em setembro passado, a riqueza pessoal da soberana era estimada em £ 400 milhões (cerca de R$ 2,5 bi).

A cerimônia de coroação acontece a partir das 7h (horário de Brasília). A cerimônia irá reunir chefes de Estado e milhares de britânicos nas ruas da capital inglesa, que terá segurança reforçada e também protestos de grupos antimonarquistas.

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