Descrição de chapéu Financial Times drogas

Oxford muda nome de prédios que homenageavam clã ligado a epidemia de opioides

Instituição corta laços sociais e remove o nome Sackler após investigação sobre a fabricante Purdue Pharma

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Antonia Cundy
Londres | Financial Times

A Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, encerrou seu relacionamento com a família Sackler na segunda-feira (15), depois que uma investigação do jornal americano Financial Times sobre seus laços contínuos com a família abastada levou acadêmicos e estudantes a pedir reformas radicais.

A decisão de cortar laços sociais e remover o nome Sackler de prédios, espaços e cargos na equipe ocorre após uma revisão instigada pela nova vice-reitora, Irene Tracey, professora de neurociência anestésica.

Prédio da Universidade de Oxford, no Reino Unido
Prédio da Universidade de Oxford, no Reino Unido - Adobe Stock

A maioria das outras instituições artísticas e acadêmicas proeminentes cortou relações com os proprietários bilionários da Purdue Pharma entre 2019 e 2022, depois de protestos públicos sobre seu papel na crise de opioides nos EUA, que segundo estimativas teria ceifado mais de 500 mil vidas.

Durante anos, a Purdue comercializou agressivamente o OxyContin, seu analgésico de prescrição, minimizando suas características viciantes enquanto gerava dezenas de bilhões de dólares em receita.

Instituições como o Museu do Louvre, em Paris, e a National Portrait Gallery, em Londres, recusaram doações ou removeram o nome Sackler de edifícios em 2019. O Victoria and Albert Museum de Londres, o British Museum, a National Gallery e o grupo Tate Gallery o fizeram em 2022.

Oxford ficou sob pressão para resistir a essa tendência quando o Financial Times revelou que a universidade continuou cortejando os Sackler nos últimos dois anos, estendendo convites exclusivos para eventos e aceitando doações, mesmo quando membros da família proprietária da Purdue negociaram um acordo de falência multibilionário sobre seu papel na epidemia.

Quando questionado se os laços sociais foram incluídos nos resultados da revisão, não detalhados no anúncio ao público de segunda, a universidade confirmou que "a família Sackler concordou em renunciar à participação no Tribunal de Benfeitores do Chanceler e, portanto, não será mais convidada para eventos".

A investigação expôs como, em abril do ano passado, Theresa Sackler, terceira mulher do falecido Mortimer Sackler, ex-executivo-chefe e coproprietário da Purdue, foi uma "participante externa" numa exibição privada da regata anual de Oxford e Cambridge. Ela foi convidada como membro do tribunal de benfeitores, grupo com o mais alto nível de acesso ao chanceler, vice-reitor e outras figuras seniores.

Em setembro daquele mesmo ano, Sackler foi convidada para o jantar de gala anual Ashmolean. De acordo com um processo no qual foi identificada, ela foi membro do conselho da Purdue de 1993 a 2018.

Oxford disse que o nome Sackler seria removido de edifícios icônicos, como o Museu Ashmolean e as Bibliotecas Bodleianas, bem como de vários cargos de pesquisa no Ashmolean, que a investigação revelou ter recebido financiamento prometido anteriormente, em junho de 2021. "É uma declaração clara da universidade e acho que eles tomaram a decisão certa", disse Dorothy Bishop, professora emérita de neuropsicologia do desenvolvimento e membro honorário do St. John's College.

A universidade disse que as doações já recebidas da família Sackler e seus fundos serão retidos "para os fins educacionais pretendidos", mas que nenhuma nova doação foi recebida desde 2019.

A universidade afirmou ainda que o resultado teve o "total apoio" da família Sackler. Acrescentou que o nome Sackler seria mantido no Clarendon Arch e no conselho de doadores do Ashmolean, "para fins de registro histórico de doações para a universidade". "A universidade ouviu as preocupações éticas necessárias sobre as origens do dinheiro –a morte de 500 mil pessoas– e enfim respondeu às críticas vindas de sua comunidade acadêmica e local", disse Olivia Durand, diretora da Uncomfortable Oxford, que organiza passeios que destacam legados de imperialismo, desigualdade e discriminação na cidade.

Um farmacêutico segura o analgésico prescrito OxyContin, comprimidos de 40 mg, fabricados pela Purdue Pharma L.D. em uma farmácia local, em Provo, Utah, EUA
Um farmacêutico segura o analgésico prescrito OxyContin, comprimidos de 40 mg, fabricados pela Purdue Pharma L.D. em uma farmácia local, em Provo, Utah, EUA - George Frey - 25.abr.17/Reuters

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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