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Rússia acusa especialista em mísseis hipersônicos de vazar segredos à China

Preso desde agosto do ano passado, Alexander Shipliuk pode receber pena de até 20 anos de prisão

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Londres | Reuters

O governo da Rússia acusou o diretor de um importante instituto de ciência do país de vazar informações confidenciais à China. Alexander Shipliuk foi preso por suspeita de traição junto com outros dois especialistas em mísseis hipersônicos e corre o risco de receber uma pena de até 20 anos de prisão.

Detido desde agosto, Shipliuk é chefe do Instituto Khristianovich de Mecânica Teórica e Aplicada (ITAM), na Sibéria. Ele é suspeito de entregar material secreto numa conferência no país asiático em 2017.

Navio militar russo dispara míssil em alvo simulado no mar do Japão, durante exercícios militares
Navio militar russo dispara míssil em alvo simulado no mar do Japão, durante exercícios militares - 28.mar.23/Ministério da Defesa da Rússia via AFP

O diretor nega quaisquer acusações e se diz inocente, sob a alegação de que o material estava disponível gratuitamente online e que não era sigiloso. Shipliuk é o caso mais recente de uma série de prisões de cientistas acusados de vazar informações confidenciais a Pequim, país considerado parceiro da Rússia. Antes, o governo russo já havia detido os técnicos Anatoli Maslov e Valeri Zvegintsev, também do ITAM.

Questionado sobre as detenções, Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, disse que os serviços de segurança do país estão atentos a possíveis incidentes relacionados à "traição da pátria". Já a chancelaria da China argumentou que as relações entre os dois países seguem os princípios de não alinhamento ou confronto.

O líder russo, Vladimir Putin, afirma repetidamente que seu país é líder mundial em mísseis hipersônicos, armas capazes de transportar cargas a até dez vezes a velocidade do som para burlar sistemas de defesa.

No contexto da Guerra da Ucrânia, o Parlamento russo votou em abril uma mudança na pena máxima por traição, de até 20 anos de detenção para prisão perpétua. E, na última terça-feira, o chefe do comitê de segurança da Câmara Baixa do Parlamento da Rússia apoiou um projeto de lei que restringe o acesso a segredos de Estado, sob a justificativa de que 48 russos foram condenados por traição entre 2017 e 2022.

Considerados ultrassecretos, os casos enfrentados pelos técnicos do ITAM serão julgados a portas fechadas. O processo contra Maslov, 76, correrá no tribunal de São Petersburgo a partir de 1º de junho.

As investigações sobre os três cientistas chamaram a atenção na semana passada, quando seus colegas do ITAM assinaram uma carta aberta em apoio aos profissionais, reclamando de perseguição. De acordo com o manifesto, é impossível para os cientistas realizar seus trabalhos se, ao mesmo tempo, correm o risco de serem presos por escrever artigos ou fazer apresentações em conferências internacionais.

No ano passado, o cientista Dmitri Kolker foi detido e transferido para Moscou quando estava em um hospital numa cidade a 3.360 km da capital russa, tratando um câncer no pâncreas em estado avançado. Ele morreu dois dias após ser detido. Seu advogado, Alexander Fedulov, disse que o profissional havia sido acusado de entregar dados sigilosos para a China, alegação negada pela família dele.

Dmitri Kolker antes de entrar no hospital para tratar um câncer de pâncreas
Dmitri Kolker antes de entrar no hospital para tratar um câncer de pâncreas - Maxim Kolker - 3.jul.22/Arquivo pessoal

Alexander Lukanin, cientista da cidade siberiana de Tomsk, também foi preso em 2020 por suspeita de passar segredos tecnológicos a Pequim. Ele acabou condenado no ano passado a sete anos de prisão.

Em 2020, Valeri Mitko, diretor da Academia de Ciências do Ártico em São Petersburgo, foi outro a ser acusado de repassar material secreto à China, aonde viajava regularmente para dar palestras, segundo a agência estatal Tass à época. Ele morreu dois anos depois, aos 81, enquanto estava em prisão domiciliar.

Pequim é a maior parceira comercial de Moscou, e as transações entre os países chegaram a US$ 190 milhões (R$ 991,2 milhões) em 2022, de acordo com as autoridades chinesas. Segundo o premiê chinês, Li Qiang, só nos primeiros quatro meses deste ano o valor delas foi de US$ 70 bilhões (R$ 350 bilhões). A expectativa para 2023 é que a Rússia aumente em 40% o envio de combustível para o gigante asiático.

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