A Rússia afirmou ter assumido o controle de Bakhmut, cidade no leste da Ucrânia que foi palco da batalha mais sangrenta desde que a guerra começou, há quase 15 meses. O ataque à cidade foi liderado por mercenários do Grupo Wagner, cujo líder, Ievguêni Prigojin, anunciou no sábado (20) que suas tropas haviam finalmente expulsado as últimas forças ucranianas da cidade.
"Hoje, às 12h, Bakhmut estava totalmente capturada", diz ele em vídeo em que aparece de uniforme militar em frente a uma fileira de combatentes com bandeiras da Rússia e faixas do Wagner. "Nós capturamos a cidade inteira, de casa em casa."
Em mais um capítulo da guerra de versões em que o conflito se transformou, porém, Kiev negou as alegações de Moscou. "Bakhmut não foi capturada", declarou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em encontro com a imprensa durante a cúpula do G7, em Hiroshima, no Japão.
A informação foi confirmada pelo Ministério de Defesa russo no próprio sábado e, no domingo (21), a pasta disse que seus soldados também destruíram um depósito de munição ucraniana e uma ponte usada pelo país invadido para enviar reforços a seu Exército. Segundo agências de notícias russas, o presidente Vladimir Putin parabenizou as tropas russas pela tomada, e chegou a dizer que aqueles que se destacaram nas batalhas receberão prêmios.
Falando ao lado de Joe Biden, seu homólogo dos Estados Unidos, Zelenski comparou as ruínas da cidade no Donbass, o leste russófono de seu país, ao cenário observado em Hiroshima após ser atingida por uma bomba atômica americana durante a Segunda Guerra Mundial.
Oleksandr Sirskii, general sênior do Exército ucraniano, foi menos firme que Zelenski em relação à presença de suas tropas em Bakhmut. Em postagem no Telegram, ele admitiu que as forças de Kiev controlam hoje uma parte "insignificante" da cidade, em seu entorno.
Ressaltou, porém, que trata-se de território o suficiente para organizar um novo ataque assim que a situação for mais propícia —provável referência a uma aguardada contraofensiva ucraniana—, e que as tropas estão perto de conseguir realizar um cerco tático a Bakhmut. "O inimigo ainda precisa se defender na parte da cidade que controla", fez coro a vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, também no Telegram.
Os anúncios se deram após uma semana em que as forças ucranianas fizeram alguns de seus maiores avanços sobre a cidade, em frentes de batalha ao norte e ao sul da localidade. As conquistas foram tais que levaram Prigojin a afirmar que a contraofensiva ucraniana tinha começado ali —o que Zelenski negou.
Prigojin, aliás, anunciou logo após a suposta conquista que suas forças se retirariam de Bakhmut em breve, passando o comando da cidade em ruínas para o Exército russo. Ele também voltou a criticar as forças oficiais, minimizando sua participação na captura da cidade. "Praticamente ninguém nos ajudou", disse em áudio publicado no Telegram.
A batalha na cidade expôs a divergência crescente entre os militares russos e o grupo Wagner, que recrutou milhares de detentos em prisões para atuarem como mercenários. Por duas semanas, Prigojin divulgou vídeos e áudios diários com ataques aos líderes militares da Rússia, que acusou repetidamente de terem abandonado territórios conquistados por suas tropas e de dificultarem a vitória na guerra por sua incompetência.
Conquistar Bakhmut —que os russos chamam pelo nome que a cidade tinha na época da União Soviética, Artiomovsk— representaria a primeira grande vitória de Moscou no conflito em mais de dez meses.
Os russos acreditam que a tomada do território pode servir como um trampolim para avançar no Donbass, e fez dele seu principal investimento na fase mais recente da guerra. Analistas afirmam, porém, que Bakhmut só tem peso estratégico para a conquista da região de Donetsk se sua queda implicar o colapso de um setor da frente ucraniana.
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