Enviado do papa Francisco se reuniu com russa acusada de deportar crianças ucranianas

Maria Lvova-Belova, que se encontrou com cardeal Matteo Zuppi em Moscou, tem mandado de prisão expedido pelo TPI

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São Paulo

O enviado do papa Francisco a Moscou, o cardeal italiano Matteo Zuppi, que nesta sexta-feira (30) encerra uma visita de três dias à capital russa para tratar da Guerra da Ucrânia, teve entre seus vários encontros uma reunião com Maria Lvova-Belova, acusada de deportação ilegal de crianças ucranianas no conflito.

A informação foi compartilhada pelo Vaticano. Zuppi também teve encontros com Iuri Uchakov, um dos assessores de Vladimir Putin para política externa, e com o patriarca Cirilo, líder da Igreja Ortodoxa russa que mais de uma vez apoiou a invasão russa do país vizinho.

A comissária russa Maria Lvova-Belova cumprimenta o cardeal italiano Matteo Zuppi durante encontro em Moscou
A comissária russa Maria Lvova-Belova cumprimenta o cardeal italiano Matteo Zuppi durante encontro em Moscou - 29.jun.23/Divulgação Comissão da Presidência da Rússia para Direitos das Crianças via Reuters

De acordo com o Vaticano, o enviado de Francisco fez a visita com o objetivo de "identificar iniciativas humanitárias que possam abrir caminhos para alcançar a paz". O texto diz apenas que as conclusões da viagem, iniciada na última quarta (28), serão transmitidas ao pontífice.

Maria Lvova-Belova é a comissária russa para os direitos das crianças. Em março, o TPI (Tribunal Penal Internacional) emitiu um mandado de prisão contra ela e Putin. A corte sediada em Haia alegou que a russa pode ter participado diretamente dos atos de deportação das crianças ucranianas.

Deportar ou transferir de maneira forçada a população do território ocupado para outro, como o TPI afirma que a Rússia fez, é considerado um crime de guerra. E a transferência de crianças de um grupo a outro é ainda um dos pormenores considerados no crime de genocídio.

Ainda assim, as acusações do tribunal contra Belova e o presidente russo têm pouca efetividade prática imediata pelo fato de a Rússia não ser signatária do Estatuto de Roma, fundador da corte internacional.

"Nas reuniões, o aspecto humanitário da iniciativa foi fortemente enfatizado, ao lado da necessidade de se conseguir a tão desejada paz", diz trecho do comunicado da Santa Sé. No canal oficial de Belova no Telegram, a comissária disse ter discutido com o cardeal "questões humanitárias relacionadas a operações militares [como a Rússia chama a guerra] e à proteção dos direitos das crianças". "Tenho certeza de que o amor cristão e a misericórdia ajudarão no diálogo e na compreensão recíproca."

Quando o TPI expediu os mandados de prisão, Belova disse que os argumentos do tribunal internacional apenas validavam seu trabalho de proteção às crianças. Ela afirmou ainda ter adotado uma criança ucraniana na cidade de Mariupol, parte do território da Ucrânia.

"Os crimes teriam sido cometidos em território ucraniano ocupado pelo menos desde 24 de fevereiro de 2022", disse o tribunal em comunicado à época. "Existem motivos razoáveis para acreditar que Belova tem responsabilidade criminal individual pelos crimes, por ter cometido os atos diretamente."

A Ucrânia desde o início do conflito afirma que Moscou tem levado ilegalmente para seu território milhares de crianças que antes da guerra viviam em lares comunitários e internatos.

Após três dias da visita de Zuppi, o papa Francisco descreveu o conflito na Ucrânia como "uma guerra aparentemente interminável", segundo outro comunicado do Vaticano desta sexta-feira.

O pontífice falava com uma delegação da Igreja Ortodoxa de Constantinopla sobre o assunto. "A trágica realidade exige um esforço criativo comum de todos para vislumbrarmos e criarmos caminhos de paz. A Ucrânia está dilacerada pela guerra", seguiu Francisco.

O argentino tem, com frequência, feito pedidos de paz na Ucrânia. Esteve na pauta da recente visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez ao Vaticano, por exemplo, a guerra no Leste Europeu. Antes de ir a Moscou, o cardeal Zuppi também foi enviado pelo papa a Kiev.

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