Índia chama Obama de hipócrita por comentário sobre direitos de muçulmanos

Ministra das Finanças disse ter ficado chocada com declaração dada enquanto Modi estava nos EUA

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Nova Déli | Reuters

Um comentário do ex-presidente dos EUA Barack Obama sobre direitos da minoria muçulmana na Índia causou reação negativa no país asiático. À CNN, na semana passada, o democrata ressaltou a necessidade de levantar a questão da "proteção da minoria muçulmana em uma Índia de maioria hindu" e afirmou que haveria uma "forte possibilidade de que o país comece a se separar em algum momento".

Em reação, a ministra das Finanças indiana, Nirmala Sitharaman, em entrevista coletiva no domingo (25), ridicularizou a declaração e chamou o ex-líder americano de hipócrita. As declarações de Obama foram concedidas durante a visita oficial de Estado do premiê da Índia, Narendra Modi, a Washington. Ele se reuniu com o presidente Joe Biden na Casa Branca para aprofundar as relações dos dois países.

O ex-presidente Barack Obama faz campanha para o senador democrata Raphael Warnock
O ex-presidente Barack Obama faz campanha para o senador democrata Raphael Warnock - Alyssa Pointer - 1º.dez.22/Reuters

Para Sitharaman, o fato de o democrata ter feito os comentários enquanto a visita de Modi se desenrolava foi chocante. "Ele falava sobre os muçulmanos mesmo tendo bombardeado, em sua Presidência, países de maioria muçulmana, da Síria ao Iêmen. Por que alguém daria ouvidos a alegações de tais pessoas?"

No passado, o Departamento de Estado dos EUA já havia levantado preocupações sobre o tratamento dispensado a muçulmanos e a outras minorias religiosas na Índia sob o governo do partido hindu-nacionalista de Modi. O governo indiano, por sua vez, afirma tratar todos os cidadãos igualmente.

Desde que chegou ao poder, em 2014, Modi minimiza as acusações de que toca um projeto nacionalista hindu na Índia, mas minorias muçulmanas reclamam que a repressão cresceu em seu governo. Críticos dizem que o BJP (Bharatiya Janata) segue uma linha de confronto, o que muitos muçulmanos veem como tentativa de marginalizar a comunidade, que reúne 13% da população indiana, de 1,35 bilhão de pessoas.

Pesa ainda contra o premiê o massacre de Gujarat, que deixou mais de mil mortos —a maioria dos quais muçulmana. Em 2002, Modi era ministro-chefe do estado onde 58 pessoas morreram após um trem de peregrinos hindus ser incendiado. Muçulmanos foram responsabilizados, levando a uma selvageria.

Cerca de 150 mil pessoas fugiram, mulheres grávidas tiveram fetos arrancados de suas barrigas e meninas sofreram estupro coletivo para depois serem queimadas vivas —Modi foi acusado de omissão, uma vez que sua polícia assistiu impassível a assassinatos de muçulmanos.

Na semana passada, Biden disse ter discutido direitos humanos e outros valores democráticos com Modi durante as conversas na Casa Branca, e o primeiro-ministro negou qualquer discriminação contra minorias sob seu governo. O encontro foi realizado em uma luxuosa cerimônia, na última quinta (22), no qual o líder americano afirmou que a relação entre os países pode "definir o século". O afago acontece num momento em que os EUA disputam com a China a influência sobre potências emergentes.

O presidente americano, Joe Biden, brinda com o premiê indiano, Narendra Modi, durante visita de Estado - Stefani Reynolds - 22.jun.23/AFP

"Duas grandes nações, dois grandes amigos e duas grandes potências. Saúde", disse Biden ao brindar em um jantar de Estado. "Você tem a fala calma, mas quando precisa de ação, é muito forte", respondeu Modi.

O encontro serviu também para fechar acordos importantes. Embora os países não sejam aliados formais, Washington deseja que a Índia seja um contrapeso estratégico em relação à China na Ásia.

Alguns acordos tentam diversificar as cadeias de suprimentos para reduzir a dependência de Pequim; outros visam a dominar o mercado de tecnologias avançadas que podem aparecer nos campos de batalha do futuro. Os líderes ainda encerraram seis disputas na OMC (Organização Mundial do Comércio), e a Índia concordou em remover tarifas para certos produtos americanos, como grão-de-bico, lentilhas e amêndoas.

Na reunião, eles também trataram sobre a Guerra da Ucrânia, uma vez que os EUA se incomodam com a relação dúbia da Índia com a Rússia. Os dois países fizeram um apelo por respeito "ao direito internacional, aos princípios da Carta da ONU e à integridade e à soberania territoriais". Modi disse que seu país está "completamente pronto para contribuir de qualquer forma para restaurar a paz".

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