Descrição de chapéu Itália

Vaticano condena ativistas ambientais que se colaram a escultura

Juízes determinaram multa de quase € 30 mil por ato em museu, além de nove meses em liberdade condicional

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São Paulo

A Justiça do Vaticano condenou dois ativistas italianos da causa ambiental a pagar multas que chegam a quase € 30 mil por atos de vandalismo num museu da Santa Sé. Eles ainda terão de cumprir nove meses de liberdade condicional.

Em agosto de 2022, os ativistas se colaram ao pedestal da estátua Grupo de Laocoonte, uma das esculturas de mármore mais famosas e antigas do Vaticano —a obra foi escavada em 1506, em Roma.

Os ativistas Ester Goffi (de vermelho) e Guido Viero (atrás), do grupo Última Geração, chegam ao Vaticano para audiência
Os ativistas Ester Goffi (de vermelho) e Guido Viero (atrás), do grupo Última Geração, chegam ao Vaticano para audiência - Tiziana Fabi - 24.mai.23/AFP

Juízes de primeira instância decidiram que eles devem reembolsar o museu em € 28 mil (R$ 146,8 mil) para reparar os danos causados à obra. A esse valor foi acrescida uma multa de € 1.600 (R$ 8.400) pelos distúrbios provocados na ação. No total, eles terão de pagar € 29,6 mil (R$ 155,2 mil). Segundo os magistrados, os danos na base da escultura foram causados por adesivos resistentes e corrosivos.

Em nota, o grupo Ultima Generazione (Última Geração), do qual os ativistas fazem parte, anunciou que vai recorrer. "O Vaticano, uma das últimas monarquias absolutistas do mundo, mostra toda sua hipocrisia com esse veredicto", disse a organização, que chamou a sentença de "desproporcional e absurda".

Segundo o grupo, os ativistas tinham o intuito de disseminar valores difundidos pelo próprio papa Francisco. O argentino, que celebrou dez anos de seu pontificado em março, defende a preservação do meio ambiente e enfatizou várias vezes a necessidade de protegê-lo para as gerações futuras.

Na ocasião do protesto, os manifestantes também exigiram que o governo italiano aumentasse os investimentos em energia solar e eólica e criticaram a exploração de gás natural e de minas de carvão na Itália. Eles afixaram uma faixa na base da estátua com as palavras "sem gás, sem carvão".

Os ativistas disseram ainda que a estátua foi alvo devido ao seu valor simbólico. Acredita-se que a obra tenha sido esculpida entre 40 a.C. e 30. a.C e, segundo a mitologia, Laocoonte foi uma personagem que alertou para o Cavalo de Troia, enviado como presente aos troianos, mas que abrigava guerreiros inimigos em seu interior —o grupo diz que a crise climática é o alerta moderno ignorado pelos líderes políticos.

Protestos como o ocorrido no Vaticano se multiplicaram na Europa. Na Itália, já foram alvos do Ultima Generazione a fachada do Senado e a fonte da praça de Espanha, em Roma, além da estátua do rei Vittorio Emanuele 2º, em frente ao Duomo de Milão, e de uma parede do Palazzo Vecchio, em Florença.

Em maio, sete ativistas mergulharam na Fontana di Trevi, famoso ponto turístico de Roma, e jogaram carvão vegetal diluído em suas águas para tingi-las de preto. De dentro da fonte, os manifestantes do Ultima Generazione ergueram cartazes nos quais se lia: "Não vamos pagar por combustíveis fósseis".

Em um ato em julho do ano passado, ativistas colaram as próprias mãos no vidro que protege a tela "A Primavera", de Sandro Botticelli. A obra do artista italiano, concebida há 540 anos e símbolo da arte renascentista, fica em exibição na galeria Uffizi, em Florença.

O governo da primeira-ministra Giorgia Meloni tenta agir para reprimir esse tipo de intervenção. Em abril, foi anunciado um projeto de lei que prevê multas mais rigorosas, entre € 10 mil e € 60 mil (R$ 56 mil e R$ 336 mil), para quem destrói, mancha ou desfigura, total ou parcialmente, bens culturais e paisagísticos.

Já na Alemanha, o governo registrou 580 delitos cometidos pelo Última Geração. A maioria dos crimes envolve coerção e danos à propriedade. Desde 2022, "740 indivíduos chamaram a atenção da polícia", disse a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, no semanário Bild am Sonntag. Ela defendeu a intervenção policial, frisando que ativistas não estão acima da lei e não podem "violar os direitos alheios".

Com AFP

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