EUA correm para repor blindados perdidos pela Ucrânia

Putin diz que Ucrânia perdeu até 30% do material ocidental, mas admite falta de armas e drones

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São Paulo

O ritmo de perda dos tanques e blindados doados por EUA e aliados para a contraofensiva na Ucrânia alarmou estrategistas ocidentais. O país anunciou nesta terça (13) o reforço no envio desse tipo de arma.

Só na primeira semana da ofensiva, iniciada no dia 4, Kiev perdeu 14% dos mais avançados tanques que recebeu, o Leopard-2A6 alemão, e outros 14% dos veículos blindados de infantaria americanos Bradley.

Tanques Leopard-2 e blindados Bradley destruídos e abandonados em Mala Tokmatchka na quinta (8)
Tanques Leopard-2 e blindados Bradley destruídos e abandonados em Mala Tokmatchka na quinta (8) - OSINTdefensor no Twitter

Os dados são do site de monitoramento Oryx, que só trabalha com imagens públicas e georreferenciadas. Ou seja, o número deve ser bem maior que os três tanques e 16 blindados registrados até esta manhã.

Já o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou em conversa com jornalistas e blogueiros militares russos no Kremlin estimar entre 25% e 30% a perda de material ocidental até aqui. Ao todo, disse que a Ucrânia perdeu 160 tanques, e a Rússia, 54 —se o número for real, é bem maior que os dez contados no Oryx.

Putin foi inusualmente franco, dizendo que seu país tem déficit em armas de alta precisão e drones —ele não comentou, mas o segundo problema aparentemente foi mitigado por um recente carregamento de aviões-robô suicidas do Irã, que, segundo relatos, capacitou Moscou a produzir as armas. Ao mesmo tempo, disse que a produção bélica russa aumentou 2,7 vezes em 2022, após a invasão do vizinho.

De acordo com o Pentágono e o secretário de Estado, Antony Blinken, o novo pacote de ajuda inclui 15 novos Bradley e dez blindados sobre rodas Stryker, somando US$ 325 milhões (R$ 1,5 bilhão).

Por óbvio, numericamente as perdas registradas pelo Oryx não parecem tão altas, mas o ritmo preocupa os aliados de Kiev porque a contraofensiva ainda não chegou a um ponto de alta pressão. Por ora, os ucranianos estão testando diversos pontos da frente de 1.000 km defendida pelos russos em território ocupado, principalmente em Zaporíjia, no sul do país, e Donetsk, no leste.

Ao identificar o alvo principal para tentar romper as linhas defensivas russas, haverá uma massa muito maior de equipamento blindado em uso. A Otan, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA, diz ter treinado e equipado nove brigadas, talvez 45 mil soldados, mas nenhum detalhe é 100% conhecido. O seu chefe, Jens Stoltenberg, falou genericamente em 230 tanques, mas não sobre modelos.

Para um ataque frontal, manobra de alto risco, os ucranianos podem precisar de ao menos duas dessas brigadas —talvez 500 veículos, 120 dos quais, tanques. Kiev ainda opera centenas de modelos soviéticos mais antigos, e só recebeu publicamente 21 Leopard-2A6 e 54 modelos 2A4. Há um número indeterminado de Leopard-1, bem menos capazes.

Kiev ainda espera que os EUA transfiram os prometidos tanques pesados Abrams, mas isso é incerto —embora o The Wall Street Journal tenha publicado que eles irão com munições de urânio empobrecido.

Esse tipo de armamento, mais eficaz para penetrar blindagens, foi fornecido aos ucranianos por Londres com os 14 tanques britânicos Challenger-2 doados neste ano. Putin reagiu ao anúncio, afirmando que usará o mesmo tipo de munição, que contamina o ambiente, caso julgue necessário.

Enquanto isso, a Rússia, que segundo o Oryx perdeu o equivalente a dois terços de sua frota de tanques modernos, aproveita para fazer propaganda. Nesta terça, o Ministério da Defesa divulgou imagens de soldados em torno de Leopard-2 e Bradley destruídos e abandonados: "Esses são nossos troféus".

Não está claro se os veículos são os mesmos cujas imagens já foram amplamente divulgadas, de um ataque frustrado em Mala Tokmatchka, em Zaporíjia, ocorrido na quinta (8). Seja como for, não é nada que, neste momento, altere fundamentalmente o curso da guerra iniciada em 2022 por Putin.

Bombardeio mata 11; Putin esconde objetivos

Cada lado segue dando sua versão, concordando apenas que os combates estão intensos. Os russos dizem ter repelido ataques ucranianos, e o exército de blogueiros com conexões nas suas Forças Armadas diz agora que Kiev perdeu parte das conquistas marginais que teve nos últimos dias.

Já a Ucrânia afirma que reforçou as posições nos sete vilarejos que tomou ao longo do fim de semana até esta segunda (12). A contraofensiva também matou, em Donetsk, o general russo Serguei Goriatchev, o quinto militar de tal patente a ser morto no conflito e o primeiro neste ano.

Em sua entrevista, Putin afirmou que só irá decidir os rumos da ação quando a Ucrânia exaurir sua contraofensiva. Negou a necessidade atual de uma nova mobilização, após ter convocado 300 mil reservistas no fim do ano passado, e soltou uma frase enigmática sobre seus objetivos.

"Algumas figuras públicas dizem que precisamos de 1 ou 2 milhões [de soldados]. Isso depende do que queremos. Devemos voltar lá?", disse, referindo-se a Kiev, que não conseguiu capturar no início da guerra.

Ele também descartou lei marcial após os ataques com drones a cidades russas, embora tenha dito sem detalhar que uma "zona sanitária" separando forças rivais da fronteira possa ser necessária. Putin ainda voltou a acusar o Ocidente de manter a chama da guerra acesa, armando a Ucrânia, e sugeriu que "há muitas pessoas nos EUA que não querem a Terceira Guerra". Afirmou também que poderia negociar se os aliados de Kiev pararem de fornecer ajuda militar e negou querer acabar com a independência do país —segundo ele, "quem quiser ir [para lá], que vá", citando que o problema é a Otan junto às fronteiras russas.

Mais aferível foi o estrago feito pela Rússia no campo em que reina sozinha, a dos ataques aéreos de longa distância com mísseis de cruzeiro. Sete bombardeiros pesados Tu-95MS voaram na madrugada (noite de segunda no Brasil) até o mar Cáspio para disparar uma barragem de 14 modelos Kh-101.

O alvo principal foi Krivvi Rih, cidade natal do líder ucraniano, Volodimir Zelenski. O saldo foi sangrento: quatro pessoas morreram em um prédio residencial atingido, e outras sete, num depósito bombardeado. Os russos afirmam ter mirado alvos militares, e os ucranianos dizem ter derrubado 10 dos 14 mísseis.

Mercenários

Em um desenvolvimento paralelo, o líder do mercenário Grupo Wagner, Ievguêni Prigojin, voltou a fazer charme num comunicado em que afirma que "não está certo" se suas forças voltarão a lutar na Ucrânia.

Ele está em franca queda de braço com o ministro da Defesa russo, Serguei Choigu, que no fim de semana determinou que todas as forças irregulares do país assinem contratos com a pasta. Prigojin, o "chef de Putin" devido à sua ligação e serviços pretéritos ao presidente, recusou-se a fazê-lo. Ficou aparentemente isolado, dado que seu antigo aliado Ramzan Kadirov, o ditador da república russa da Tchetchênia, fez com que seu corpo de voluntários aceitasse o acordo com Choigu. O Wagner lutou por meses em Donetsk, até conquistar a cidade de Bakhmut, em maio, para depois passar a região para controle do Exército regular.

Putin, por sua vez, apoiou nesta terça Choigu, repetindo o argumento de que os contratos são a única forma de garantir direitos trabalhistas e previdenciários aos combatentes.

Armas nucleares

Na Belarus, o ditador aliado da Rússia Aleksandr Lukachenko afirmou que as armas nucleares táticas russas que serão posicionadas em seu território chegarão "nos próximos dias". Ele antecipa assim o calendário citado por Putin, de entrada em operação entre 7 e 8 de julho.

Armas táticas são aquelas de menor potência relativa, para emprego contra alvos militares. Os EUA têm cem bombas do tipo em seis bases da Otan na Europa, e até aqui a Rússia só as tinha em seu território. O movimento foi considerado uma escalada inaceitável no Ocidente, embora na prática as armas já estivessem até mais próximas, na região russa de Kaliningrado, entre a Polônia e a Lituânia.

Alguns analistas, porém, veem blefe de Putin e duvidam da rapidez do deslocamento das bombas, que em tese podem ser lançadas por antigos aviões de ataque Su-25 adaptados ou por mísseis táticos Iskander.

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