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Feijóo e Sánchez miram abstenção de nanicos para obter maioria na Espanha

Líder do PSOE depende de separatistas catalães para seguir no cargo de premiê e evitar nova eleição no final do ano

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Madri

Se a direita se frustrou ao não conseguir maioria no Congresso nas eleições gerais deste domingo (23) na Espanha, e a esquerda ficou em segundo lugar na votação, isso não significa que os dois lados jogaram a toalha e apenas aguardam nova eleição no final do ano.

Nos próximos dois meses, o PP (Partido Popular), de Alberto Feijóo, e o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), do premiê Pedro Sánchez, buscarão arranjos para chegar ou manter o poder no país.

O fato de não terem maioria absoluta de 176 cadeiras não significa que não possam governar, porque a maioria simples também abre caminho para um deles tentar o cargo de primeiro-ministro. Sánchez não tinha maioria absoluta em 2019, mas governou nos quatro últimos anos, ainda que de maneira frágil.

Pedro Sánchez, líder do PSOE, chega para reunião da diretoria do partido, em Madri
Pedro Sánchez, líder do PSOE, chega para reunião da diretoria do partido, em Madri - Juan Medina/Reuters

Agora, após um processo administrativo em agosto, espera-se que o rei Filipe 6º, depois de conversar com os partidos, apresente um nome ao Congresso para votação no Parlamento no início de setembro.

Se não for alcançada a maioria absoluta na primeira votação, 48 horas depois haverá novo pleito, com possibilidade de vitória por maioria simples. Os 350 deputados poderão então votar "sim", "não" ou se abster —e é nessa última opção que pode estar o destino de Feijóo ou Sánchez.

O PP conquistou 136 cadeiras neste domingo. Somando-se às 33 obtidas pelo partido de ultradireita Vox e à única da CCa (Coligação Canária), Feijóo reúne 170 votos. Porém, a lógica diz que votarão "não" todos os 122 deputados do PSOE, os 31 da coalizão de esquerda Sumar e os 19 dos quatro nanicos que apoiaram Sánchez na legislatura anterior. Assim, são 172 parlamentares contra e 170 a favor de Feijóo.

O líder do PP espera, nos próximos dias, convencer algum desses quatro pequenos partidos a não votar contra ele, mas se abster. Neste caso, pode ter maioria simples. O problema é que essas siglas, de regiões como País Basco e Catalunha, são independentistas, e o PP traz em seu DNA a ideia de Espanha unida.

Para piorar, esses nanicos não teriam como explicar aos seus eleitores por que estão apoiando alguém que está unido ao Vox, cujo programa radical inclui tornar ilegais partidos independentistas como eles.

Alberto Feijóo, líder do PP, em reunião na sede de seu partido, em Madri, na manhã de segunda (24) - Juan Medina/Reuters

Uma nova votação, então, pode ser realizada, desta vez com Sánchez como candidato a permanecer no cargo. O placar deve se inverter, com 172 a favor e 170 contra, com a diferença de que, se o partido independentista catalão Junts (Juntos pela Catalunha), com sete deputados, se abstiver, o líder do PSOE será reconduzido ao posto. Se os parlamentares da legenda votarem "não", a indefinição seguirá.

E o que pensa o Junts? "Não faremos de Sánchez premiê a troco de nada", disse uma de suas líderes na noite da eleição. "Anistia e referendo para a independência da Catalunha", afirmaram nesta segunda-feira.

A primeira exigência se refere a 2017, quando o partido realizou um referendo ilegal, e seu chefe, Carles Puigdemont, declarou a independência da Catalunha. Ao fim, ele teve que fugir escondido do país, e diversas lideranças da sigla sofreram condenações e sanções, que eles gostariam que fossem revertidas.

Sánchez não pode entregar o desejado referendo, pois a Constituição em vigor na Espanha determina que plebiscitos em torno da independência de regiões autônomas são ilegais. Assim, resta ao PSOE tentar achar um meio-termo com o Junts e garantir pelo menos sua abstenção no momento da votação.

Contudo, para especialistas, perder a votação dessa forma pode ser bom para Sánchez, porque mostraria que ele não está com os independentistas a qualquer custo. Assim, ainda na visão de analistas políticos, o atual primeiro-ministro espanhol sairia fortalecido para uma possível nova eleição geral no final do ano.

Um tanto alheio a essa movimentação, o Vox lambe as feridas do fraco desempenho e acusa o PP de má estratégia eleitoral. Afinal, o partido de Santiago Abascal acreditava que faria parte do próximo governo, ao lado de Feijóo, e já vislumbrava ministérios, além de uma das quatro vagas de vice-premiê.

A realidade lhe foi terrível: o número de deputados que conquistou nessa eleição foi 33, longe dos 52 obtidos em 2019. Na noite de domingo, Abascal foi a público culpar Feijóo por desmobilizar o eleitorado de direita. "Quero dar os parabéns a Feijóo como vencedor das eleições. Ganhou como queria e sem depender do Vox, como também queria", disse ele, de forma um tanto amargurada.

Na prática, a sigla perdeu ao menos um instrumento usado nos últimos quatro anos. Por ter menos de 40 cadeiras, não poderá recorrer ao Tribunal Constitucional para travar leis, o que fez mais de 40 vezes desde 2019 —caso da lei Solo Sí Es Sí, voltada para os direitos das mulheres, e de outra sobre pessoas trans.

O líder do Vox, Santiago Abascal, fala na sede de seu partido na noite de domingo (23) - Thomas Coex/AFP

Para Abascal, o ideal é uma nova eleição ainda neste ano, pois o resultado do Vox neste domingo foi pífio. "É muito provável que haja um novo pleito", disse. "Que ninguém tenha dúvidas de que vamos resistir."

Ao perder 19 cadeiras, o Vox teve uma diminuição de 37% em sua representação no Congresso. Mas a queda no número de votos foi menor, de 20%. Em 2019, foram 3,6 milhões de votos. Agora, 3 milhões.

Especialistas relutam em dizer que há um recuo da ultradireita, lembrando que houve uma campanha do PP para receber voto útil do Vox, algo que Abascal citou. "Vimos a mídia filiada ao PP apelar de forma grosseira ao voto útil, contribuindo para a demonização do Vox e encorajando eleitores de esquerda."

Outro ponto mencionado foi a desmobilização devido a um sentimento de "já ganhou" que tomou conta da direita, outro ponto abordado por Abascal. "Passamos toda a campanha alertando sobre o perigo de pesquisas manipuladas que levaram alguns a vender a pele do urso antes de caçá-lo. Isso teve uma consequência clara, a desmobilização", disse ele, destacando que o líder do PP não foi ao último debate.

Caso Feijóo ou Sánchez formem maioria, qualquer que seja, devem tomar posse em 8 de setembro. Se não, haverá dois meses para novas tentativas. Nenhuma dando certo, o Congresso será dissolvido, e novas eleições serão convocadas, com a data caindo provavelmente no meio dos feriados de fim de ano.

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