Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Putin agradece apoio de China e Índia contra motim; Otan reconduz secretário-geral

Líder russo e aliança militar ocidental, rivais na Ucrânia, tentam demonstrar força política

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São Paulo

A Rússia e a Otan buscaram demonstrar união e força política nesta terça-feira (4), com o presidente Vladimir Putin agradecendo o apoio chinês e indiano durante o motim de mercenários que enfrentou na semana retrasada, e a aliança militar ocidental reconduzindo seu secretário-geral a um novo mandato.

Putin falou virtualmente na reunião de cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, grupo criado em 2001 como alternativa asiática às estruturas multilaterais comandadas pelo Ocidente.

No Kremlin, Putin fala por videoconferência com líderes da Organização de Cooperação de Xangai
No Kremlin, Putin fala por videoconferência com líderes da Organização de Cooperação de Xangai - Alexander Kazakov/Sputnik/Reuters

Comentando o motim dos dias 23 e 24 de junho dos mercenários do Grupo Wagner, encerrado após um acordo mediado pela Belarus, Putin afirmou que "o povo russo está mais consolidado do que nunca".

"Os círculos políticos russo e a sociedade como um todo claramente demonstraram solidariedade e grande responsabilidade ao reagir como uma frente unida contra a tentativa de rebelião armada", afirmou.

"Gostaria de aproveitar a oportunidade e agradecer meus colegas da SCO [sigla em inglês da organização], que expressaram apoio às ações da liderança russa. Apreciamos muito isso", disse. A SCO tem oito membros —China, Rússia e Índia, que também são membros do Brics com Brasil e África do Sul, à frente. Pequim e Nova Déli apoiaram Putin em declarações durante e depois do motim.

Desde o fim da crise, o presidente russo tem tentado demonstrar força após o desafio inédito à sua autoridade em mais de 23 anos de poder. Analistas afirmam acreditar que, até por falta de opção, dada a estrutura de governo russa, a elite de fato reagiu ao motim de forma unida —mas mais por medo do vácuo.

Para os aliados de Putin no exterior, principalmente a China de Xi Jinping e sua "amizade sem limites" com Moscou, não havia alternativa. A afronta pública do líder mercenário Ievguêni Prigojin ressaltou uma percepção de fraqueza do chefe do Kremlin, o que não interessa também a Pequim, que precisa da musculatura militar russa ao seu lado na Guerra Fria 2.0 que trava com Washington.

Para o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em franco romance com os EUA de Joe Biden, a situação é menos incômoda, mas apoiar Putin implica melhores condições nos temas que lhe interessam na relação bilateral: petróleo barato e equipamentos de defesa.

Do outro lado do balcão geopolítico, a Otan resolveu tirar um problema da sala ao reconduzir o norueguês Jens Stoltenberg pela quarta vez ao seu comando. Ele já deveria ter saído no ano passado, mas a Guerra da Ucrânia e o apoio maciço do bloco militar a Kiev desaconselhavam mudanças de rumo.

O clube se reúne na semana que vem em Vilnius, na Lituânia, com um desafiador cardápio de temas, que vão da nuclearização da Polônia à promessa de integração da Ucrânia, passando pelas divergência acerca de gasto com defesa entre seus 31 membros e o bloqueio turco à entrada da Suécia na aliança.

Desfiar esse novelo em meio a uma luta sucessória não pareceu uma boa ideia. O secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, lançou sua candidatura de forma meio atabalhoada, esperando apoio dos EUA, sócio majoritário do grupo. Mas a França, sempre ela quando o Reino Unido mostra as garras, reagiu com o presidente Emmanuel Macron defendendo que o clube seguisse sob comando de um cidadão da UE.

A certa altura, especulou-se o nome da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que tinha contra si o fato de ser alemã —Berlim já carrega muito poder como a maior economia europeia, e o premiê Olaf Scholz lançou um programa de remilitarização inaudito desde o pós-guerra.

Assim, o discreto Stoltenberg e sua neutralidade nórdica caem como uma luva para as intrigas europeias. Ex-premiê de seu país, aos 64 anos ele vai ganhando uma sobrevida que poucos previam antes da guerra, quando era visto como mais um cinzento burocrata europeu.

"O elo transatlântico entre Europa e América do Norte assegurou nossa segurança e liberdade por quase 75 anos, e, num mundo mais perigoso, nossa aliança é mais importante do que nunca", publicou ele em nota, após a confirmação no cargo.

No Twitter, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, felicitou Stoltenberg pela recondução ao cargo. "Espero que nossa cooperação continue frutífera no futuro", escreveu ele, que agradeceu o norueguês pelo que chamou de esforços pessoais para "apoiar as aspirações euro-atlânticas da Ucrânia".

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