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Konstantin Eggert

Otan e Ucrânia selam triste futuro de Putin, derrotado no campo político

Projeto imperial do líder russo está em frangalhos após ele e seus minions virarem párias no Ocidente

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Konstantin Eggert

Jornalista russo exilado e analista de assuntos de seu país da rede alemã Deutsche Welle

Ainda me lembro do rosto radiante de Dmitri Rogozin, representante da Rússia na Otan, e de sua resposta animada à minha pergunta "como vão as coisas?". "Tudo excelente!", disse ele. Foi em abril de 2008, na capital romena, Bucareste. A ocasião era a cúpula da aliança militar ocidental, que eu cobria para a BBC.

Lá, os EUA propuseram dar à Ucrânia e à Geórgia, duas ex-repúblicas soviéticas, um plano de ação para adesão à aliança. A então primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, e o então presidente da França, Nicolas Sarkozy, bloquearam a proposta —para "não irritar a Rússia".

O presidente russo, Vladimir Putin, discursa durante evento do fórum 'Ideias fortes para uma nova era', em Moscou
O presidente russo, Vladimir Putin, discursa durante evento do fórum 'Ideias fortes para uma nova era', em Moscou - Sergei Savostianov - 29.jun.23/Pool/Sputnik via Reuters

A euforia de Rogozin era compreensível. Seu chefe, Vladimir Putin, acabara de ser informado pelos líderes ocidentais sobre a exclusão da Ucrânia e da Geórgia. Mas a Rússia não deveria aconselhar um clube do qual não é membro sobre quem pode ou não pode ingressar.

Para encobrir sua humilhante cessão sob a pressão de Moscou, a Otan assumiu um compromisso oficial: ucranianos e georgianos se tornariam membros em uma data posterior, não especificada.

Putin, com razão, viu isso como um sinal de fraqueza. E ele sempre se alimenta disso. Quatro meses depois, blindados russos invadiram a Geórgia. A reação ocidental foi fraca. Em 2014, Putin anexou a Crimeia, e separatistas tomaram partes do Donbass, na Ucrânia. Desta vez a reação foi mais forte, com algumas sanções. Mas persistiu a ideia de que ainda poderia ser feito um acordo com Moscou.

Parece que não mais. Nos próximos dias 11 e 12, em sua cúpula na capital da Lituânia, a Otan deve dar à Ucrânia garantias concretas de adesão —não enquanto a guerra contra os invasores russos estiver em curso, mas logo após o fim das hostilidades.

Além disso, prometerão mais assistência militar, talvez até mesmo os caças F-16, há muito cobiçados por Kiev. Esse parece ser o plano. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, anunciou que está indo para a Lituânia. Ele foi inflexível antes, dizendo que não iria, a menos que levasse de volta algo muito concreto.

Se for realmente assim, isso abrirá um novo e grande buraco na reputação já danificada de Putin. Primeiro, a guerra que ele planejou como uma conquista de três semanas se transformou numa batalha sangrenta e sem fim. Depois vieram poderosas sanções econômicas, tornando o ditador russo e um grande número de seus "minions" párias no Ocidente. Finalmente, o monstro que o próprio Putin criou –o chefe mercenário do Grupo Wagner, Ievguêni Prigojin– amotinou-se e invadiu duas grandes cidades russas.

Agora a Otan dará outro golpe. Putin provavelmente responderá com mais ataques bárbaros de mísseis contra cidades ucranianas. Mas isso não mudará o fato de que, embora militarmente seu regime ainda possa durar algum tempo, foi derrotado no campo político.

A classe dominante russa, ainda em choque com a hesitação de Putin sob a pressão de Prigojin, verá que, enquanto Putin estiver no Kremlin, não há como ele ser readmitido no Ocidente. Além disso, a pressão militar ucraniana aumentará à medida que a capacidade de Putin de ser um árbitro entre os clãs burocráticos rivais da Rússia foi severamente prejudicada pelo motim do Wagner.

Putin ainda pode infligir muito sofrimento à Ucrânia. Mas seu projeto imperial está em frangalhos, e o fim de seu regime se torna cada vez mais visível. Quinze anos atrás, Rogozin pensou que estivesse "rindo por último" —em nome de seu senhor. Ele estava errado.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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