Rabino interrompido por ataque na Guerra da Ucrânia viraliza; veja vídeo

Moshe Reuven Azman teve de se proteger enquanto gravava vídeo em missão humanitária

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Cassandra Vinograd
Kiev | The New York Times

Era uma imagem impressionante: um rabino barbudo com um colete sobre o talite (xale), caindo no chão para se proteger enquanto projéteis explodiam ao seu redor.

O vídeo do momento em que Moshe Reuven Azman foi atacado durante missão humanitária no sul da Ucrânia, em 8 de junho, foi visto mais de 1,5 milhão de vezes no Twitter. A gravação colocou em evidência o principal rabino ucraniano, cuja fama é anterior tanto àquele momento quanto aos seus esforços desde a invasão russa. "As pessoas me reconhecem", disse ele em seu escritório em Kiev.

Rabino Moshe Reuven Azman em seu escritório em Kiev, na Ucrânia
Rabino Moshe Reuven Azman em seu escritório em Kiev, na Ucrânia - Brendan Hoffman - 20.jun.23/The New York Times

Azman, 57, entrou em ação quando a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, ajudando a retirar judeus ucranianos de zonas de conflito e registrando apelos por socorro e pelo fim da guerra.

A cama que continua montada em seu escritório na sinagoga Brodsky, em Kiev, é uma prova da intensidade daqueles primeiros dias, disse. No começo, o rabino trabalhou até mesmo durante o shabat, o tradicional dia de descanso. Depois, começou a gravar mensagens de vídeo que tiveram grande alcance.

Seu papel como rabino-chefe tem ressonância particular numa guerra em que o presidente Vladimir Putin afirmou falsamente ser sobre "desnazificar" a Ucrânia, país cujo atual presidente é judeu e cuja comunidade judaica historicamente sofreu perseguição.

Nascido em Leningrado, o rabino migrou para Israel na década de 1980 para escapar da União Soviética. Após se casar com uma ucraniana, ele foi para a Ucrânia no início dos anos 1990 para ajudar as crianças afetadas pelo desastre de Tchernóbil e depois liderou a reabilitação da principal sinagoga de Kiev.

Quando combatentes apoiados pela Rússia iniciaram uma guerra no leste da Ucrânia em 2014, Azman ajudou a afastar civis dos combates. Mais tarde, montou uma vila nos arredores de Kiev que chamou de Anatevka –como o vilarejo do musical da Broadway "Violinista no Telhado"–, para famílias judias.

A atuação do rabino lhe rendeu honras nacionais. Fotos dele apertando as mãos do premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, do ex-líder britânico Boris Johnson e de outros notáveis cobrem uma parede de seu escritório. Mas algumas conexões proeminentes às vezes lançam uma sombra sobre seu trabalho.

Ele foi um defensor declarado de Donald Trump e tem um antigo elo com Rudolph Giuliani, cujas tentativas de convencer o governo da Ucrânia a iniciar investigações que ele acreditava que beneficiariam Trump foram cruciais para o inquérito de impeachment contra o ex-presidente. Lev Parnas e Igor Fruman –associados de Giuliani que foram condenados por violações de financiamento de campanha– foram membros do conselho da instituição de caridade do rabino, Amigos de Anatevka, sediada nos EUA.

Quando questionado sobre a saga, Azman se anima, insistindo que não tem interesse em política. "Eu não voto nos Estados Unidos", disse ele, acrescentando: "Eu trabalho para a Ucrânia".

O rabino enfatiza que é um "cara quieto" e tenta alcançar um grande público para apoiar seus esforços humanitários que, segundo ele, custaram milhões de dólares. Ele considera o trabalho "menos uma vocação que uma obrigação". Embora não trabalhe mais no shabat, mantém uma agenda lotada e publica atualizações frequentes nas redes sobre seus esforços de ajuda. Também denuncia atrocidades russas.

Muitos perguntam por que ele permanece na Ucrânia apesar dos perigos, disse. "Agradeço a Deus por ter me colocado na hora certa e no lugar certo para que eu possa ajudar pessoas 24 horas por dia."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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