Descrição de chapéu The New York Times

Republicano faz indicações militares de refém para derrubar medida pró-aborto

Tommy Tuberville está prestes a atrapalhar preenchimento de postos mais elevados das Forças Armadas dos EUA

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Karoun Demirjian
Washington | The New York Times

O esforço de um senador republicano que, sozinho, tenta reverter uma política do Pentágono que garante o acesso de militares ao aborto está adiando a transferência regular de poder nos mais altos escalões das Forças Armadas, incluindo nas fileiras do Estado-Maior Conjunto, e prolongando uma disputa partidária que se arrasta há meses.

Desde fevereiro, o senador Tommy Tuberville, conservador do Alabama, vem bloqueando centenas de promoções de generais e almirantes de alto escalão, recusando-se a ceder a não ser que o Departamento de Defesa revogue uma política instituída depois de a Suprema Corte derrubar o direito constitucional ao aborto, no ano passado. A política do Departamento de Defesa oferece folga e reembolso de despesas de viagem para militares que precisem viajar a outros estados para fazer o procedimento.

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O senador Tommy Tuberville dá uma entrevista coletiva em Washington - Pete Marovich - 14.fev.23/The New York Times

A tática de Tuberville está prestes a atrapalhar a capacidade do Pentágono de preencher seus postos mais elevados. Mais da metade dos atuais membros do Estado-Maior Conjunto deve deixar seus cargos nos próximos meses sem um sucessor aprovado pelo Senado, deixando o principal órgão de assessoria militar do presidente em um estado de instabilidade em meio a tensões crescentes com China e Rússia.

A administração do presidente Joe Biden e os democratas no Senado consideram o bloqueio de Tuberville perigoso e equivocado. Mas, embora muitos republicanos estejam profundamente incomodados com suas táticas, as críticas de seus correligionários são mais moderadas.

"Não sou a favor de serem adiadas nomeações militares", disse recentemente o líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, a jornalistas, quando questionado sobre as ações de Tuberville.

Mas isso não foi o bastante para dissuadir o senador do Alabama ou seus ferrenhos defensores, que o representaram quando ele não estava no Capitólio para apresentar suas objeções à política.

O impasse resultante está começando a ter consequências concretas para os militares. Na última segunda (10), o primeiro dos membros do Estado-Maior Conjunto de saída, o general David Berger, aposentou-se e deixou seu atual vice e sucessor nomeado, o general Eric Smith, para assumir seu lugar —mas ele não tem a aprovação do Congresso.

Em agosto e setembro, os chefes do Exército, da Marinha e da Força Aérea, além do general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, estão previstos para passar para a reserva, deixando o órgão com mais comandantes temporários ocupando cargos do que em qualquer outro momento de sua história.

"Sabemos que esses adiamentos terão um efeito cascata em todo o departamento", disse no mês passado uma porta-voz do Pentágono, Sabrina Singh, argumentando que Tuberville está criando um "precedente perigoso" que "deixa nossa prontidão militar em risco".

Opinião semelhante foi manifestada pela Casa Branca. No mês passado, a porta-voz de Biden, Karine Jean-Pierre, argumentou que as táticas de Tuberville são "uma ameaça à nossa segurança nacional". O líder da maioria no Senado, o democrata Chuck Schumer, denunciou no plenário do Senado "o impacto lesivo" da paralisia sobre a segurança nacional e a prontidão militar.

Mesmo alguns senadores republicanos que não chegaram a condenar Tuberville têm manifestado preocupações sobre como suas ações podem afetar a capacidade das Forças Armadas de reagir a ameaças globais. "O mundo está perigoso neste momento, e queremos ter certeza de que não estamos sacrificando a prontidão", disse recentemente o senador republicano Bill Cassidy, da Louisiana, ao Politico.

O bloqueio imposto por Tuberville "não coloca os Estados Unidos em risco, mas deixa as instituições menos ágeis e adaptáveis", comentou Mark Cancian, coronel aposentado da força de reserva dos Marines e especialista em defesa no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. Sobre oficiais que estão ocupando cargos interinamente, ele disse: "Quando você é interino, não pode dar orientação estratégica fundamental à instituição. Você é apenas um substituto".

Tuberville rejeita a ideia de que sua objeção terá efeito prejudicial sobre as Forças Armadas, observando que, quando um senador isolado nega a habitual aprovação unânime de um grupo de nomeações ou promoções militares, o Senado pode programar votações individuais de cada nomeação ou promoção.

Mas esse processo pode ser extremamente demorado, dadas as regras do Senado, e o esforço para confirmar cada uma das centenas de promoções individualmente pode paralisar a Casa. Isso pode ser um ponto que favorece Tuberville, que já copatrocinou uma legislação para declarar que a vida começa no momento da concepção e apoiou a lei do Mississippi proibindo o aborto com 15 semanas de gravidez —dispositivo que foi confirmado pela Suprema Corte no ano passado.

Senadores democratas já pediram a Tuberville ao menos meia dúzia de vezes no plenário para parar de fazer as promoções militares de reféns, enquanto o Comitê das Forças Armadas continua fazendo sabatinas na esperança de que o senador ceda. O general Charles Brown, chefe do Estado-Maior da Força Aérea e escolhido de Biden para suceder Milley, e o general Randy George, vice-chefe do Estado-Maior do Exército que o presidente nomeou para se tornar o chefe, têm audiências programadas para esta semana.

Enquanto isso, Tuberville rejeita as concessões oferecidas por líderes do Senado. Ele se negou a ceder em troca da realização de uma votação a portas fechadas no Comitê das Forças Armadas no mês passado contra um projeto de lei que derrubaria a política do Pentágono sobre aborto.

E rejeitou publicamente a ideia de resolver sua disputa votando sobre a medida como emenda à lei anual de política de defesa, prevista para começar a tramitar na Câmara na semana que vem.

Líderes no Senado esperam conseguir fazer Tuberville mudar de ideia nas próximas semanas.

Tradução de Clara Allain 

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