Descrição de chapéu América Latina Mercosul

Uruguai fica de fora de texto final de cúpula do Mercosul, em chancela de rusgas

Crítico do protecionismo, governo uruguaio insiste na ideia de firmar acordo bilateral com China

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São Paulo

Defensor de posicionamentos que divergem do Mercosul, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, não assinou a declaração final divulgada após encontro de líderes do bloco, nesta terça-feira (4), em Puerto Iguazú, na Argentina. A reunião marcou a troca da presidência da organização, que passou a ser do Brasil.

Assinam o comunicado os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Alberto Fernández (Argentina) e Mario Abdo Benítez (Paraguai). No texto, os líderes defendem o fortalecimento da agenda para integrar as economias do bloco, bem como a "estratégia de inserção internacional, de forma consensual e solidária".

O presidente Lula conversa com seu homólogo uruguaio, Luis Lacalle Pou, durante cúpula do Mercosul em Puerto Iguazú, lado argentino das Cataratas do Iguaçu
O presidente Lula conversa com seu homólogo uruguaio, Luis Lacalle Pou, durante cúpula do Mercosul em Puerto Iguazú, lado argentino das Cataratas do Iguaçu - Nelson Almeida/AFP

Montevidéu critica o protecionismo econômico do Mercosul e insiste na ideia de firmar um acordo bilateral com a China —o que Brasil e Argentina veem como violação às normas do grupo. Em declaração separada, em parte semelhante à divulgada pelo bloco, o governo uruguaio não menciona a necessidade de se criar estratégias para inserção internacional, como consta no texto assinado pelos outros países.

"Com relação à China, vocês sabem a posição do Uruguai. Quando vemos que não avançamos juntos, entendemos a visão de cada um de vocês. A nossa é que façamos juntos. Se não podemos fazer assim, faremos bilateralmente", disse Lacalle Pou na cúpula, acrescentando que o Uruguai luta para conseguir mercados. "Substancialmente não existe nada [de acordos do Mercosul com outras regiões]."

Antes, em discurso na segunda (3) que também pressionou por flexibilização, o chanceler uruguaio, Francisco Bustillo, já havia dito que o país cogita deixar o Mercosul como Estado-membro. No comunicado conjunto, Brasil, Argentina e Paraguai não citam as demandas uruguaias, mas admitem a necessidade de "abrir um espaço de reflexão política sobre a modernização do bloco".

Além de defender as negociações com Pequim, Lacalle Pou criticou na cúpula do Mercosul a exclusão de opositores nas eleições na Venezuela e cobrou uma posição clara do bloco em relação ao regime do ditador Nicolás Maduro, suspenso do grupo desde 2016.

Os principais nomes da oposição venezuelana foram inabilitados a exercer cargos públicos por decisão da Controladoria-Geral, o que, na prática, sepultou as perspectivas de eleições livres na Venezuela em 2024.

Tanto Lula quanto seu aliado argentino Alberto Fernández se esquivaram de comentar a exclusão de candidatos venezuelanos, dizendo que não estão a par dos detalhes da decisão, e voltaram a defender que haja diálogo com o regime. No comunicado após a cúpula, Brasil, Argentina e Paraguai disseram que os presidentes "renovaram o compromisso do Mercosul com o fortalecimento da democracia, do Estado de Direito e do respeito aos direitos humanos", sem mencionar a situação política na Venezuela.

Lula é criticado por não se posicionar de forma dura contra o regime venezuelano e por ter preparado uma recepção de gala para Maduro, em maio, quando recebeu líderes em Brasília. Na ocasião, Lacalle Pou se disse surpreso com a declaração do brasileiro de que havia narrativas sobre a Venezuela.

O Mercosul é formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai e tem como associados os outros sete sul-americanos, exceto a Venezuela, suspensa há sete anos por violar a cláusula democrática do bloco. Já a Bolívia está desde 2012 em processo de adesão, que depende da aprovação do Legislativo brasileiro.

Esta foi a primeira vez que os quatro presidentes do Mercosul se sentaram juntos, após quatro anos sem que todos se reunissem presencialmente devido à pandemia de Covid e a diferenças ideológicas de presidentes como Jair Bolsonaro (PL), que não foi à última cúpula semestral em dezembro passado.

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