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Filho de Petro sai em liberdade condicional e isenta pai sobre verba do tráfico na campanha

Nicolás temia ser assassinado em prisão após confessar recebimento de dinheiro ilícito na Colômbia

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São Paulo

A Justiça da Colômbia concedeu liberdade condicional a Nicolás Petro, 37, filho do presidente do país, Gustavo Petro. Ele estava preso desde o último dia 28, acusado de lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito. Horas depois, uma revista colombiana divulgou entrevista com Nicolás, onde ele diz que seu pai não sabia que um chefe do narcotráfico havia financiado sua campanha à presidência.

A decisão, protocolada na sexta-feira (4), veio após a defesa de Nicolás afirmar que o filho do presidente tinha medo de ser assassinado se fosse enviado para uma penitenciária. "Se ele for para uma prisão, meritíssimo, não dura nem 24 horas", disse o advogado David Teleki ao juiz responsável pelo caso. "[Nicolás] é uma testemunha-chave para desbaratar por completo uma estrutura corrupta que deve ser investigada e que deve levar os responsáveis aos tribunais", acrescentou.

Nicolás Petro e sua ex-companheira, Daysuris Vásquez, acompanham audiência judicial em Bogotá - Mauricio Dueñas Castañeda - 4.ago.23/Poder Judicial

Na quinta (3), como parte de um processo de colaboração com a Justiça, Nicolás disse que a campanha do pai à Presidência, em 2022, recebeu financiamento ilegal, incluindo de Samuel Santander Lopesierra, extraditado por narcotráfico para os Estados Unidos, onde ficou preso entre 2003 e 2021.

Ele também afirmou ter recebido dinheiro de um filho de Alfonso "el turco" Hilsaca, negociante acusado de financiar grupos paramilitares e planejar homicídios. O caso foi inicialmente revelado pela ex-companheira de Nicolás, Daysuris Vásquez.

Naquela ocasião, Nicolás não havia apontado nem desmentido envolvimento do pai nos atos ilícitos. Neste sábado, porém, foi direto. "Nem meu pai nem o gerente da campanha, Ricardo Roa, sabiam do dinheiro que Daysuris e eu recebemos", disse em uma entrevista à revista colombiana Semana.

Neste sábado, Petro também negou que sua campanha tenha sido financiada pelo narcotráfico. Até então, ele havia apenas dito que nunca seria cúmplice de crimes. "A campanha não recebeu nenhum dinheiro de caráter ilícito, e fiquei sabendo do ocorrido em uma reunião que tive com a ex-mulher de Nicolás em meu gabinete há apenas alguns meses, quando pedi que investigassem meu filho", afirmou no X, antigo Twitter.

Ainda assim, as acusações abalaram seu governo –que já vinha cambaleando. O Parlamento colombiano abriu uma "etapa de investigação prévia" sobre o caso. Antes da prisão do filho, Petro era bem avaliado por 48% da população e rechaçado por outros 46%, segundo pesquisa do Centro Nacional de Consultoria. Na próxima segunda (7), ele completará um ano como primeiro líder de esquerda da Colômbia.

Ao conceder liberdade a Nicolás, o juiz Omar Beltrán determinou que o filho do presidente não poderá sair da cidade de Barranquilla, no norte do país, nem manter contato com outras pessoas envolvidas na investigação. O nome de Gustavo Petro não aparece em uma lista elaborada pela promotoria sobre o caso; mas o de sua esposa, Verónica Alcocer, sim.

Nicolás, formado em direito pela Pontifícia Universidade Bolivariana e mestre em mudanças climáticas pela Universidade Iberoamericana, foi o único dos seis filhos do presidente a herdar a vocação política de seu pai, o que os aproximou na última década. Ele é deputado do departamento de Atlântico.

Nos anos 1980, durante parte da infância de Nicolás, Petro era um militante do Movimento 19 de abril, guerrilha urbana criada após a eleição presidencial de 1970, marcada por acusações de fraude. Em seu livro de memórias, "Una Vida, Muchas Vidas" (Editora Planeta, 2021), o atual presidente relata o momento em que conheceu o seu primogênito, ainda recém-nascido, na prisão La Picota.

"Quando o recebi em meus braços, tive uma sensação profunda. Surpreendeu-me que seu olhar de bebê era muito triste. Foi muito estranho conhecer meu primeiro filho na prisão, sabendo que não voltaria a vê-lo em muito tempo", escreveu Petro.

A situação se inverteu na quarta (2), quando, de acordo com a mídia local, Petro foi à prisão visitar Nicolás. O filho, porém, negou-se a ver o pai. Em entrevista à Semana, ele acusou seu pai de "virar totalmente as costas". "Tem meu pai, parentes, amigos, pessoas que percebi que queriam me usar. No momento em que isto aconteceu e viram que eu não era mais útil, começaram a virar as costas", disse.

Com AFP e Reuters

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