Não estamos colocando ideologia no Brics, mas geopolítica, diz Lula

Grupo de seis países admitidos no bloco inclui Irã e Argentina, em expansão vista com viés anti-Ocidente

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Joanesburgo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira (24) que a expansão do Brics não teve motivações ideológicas e que o critério de seleção dos países recém-admitidos —Argentina, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados, Egito e Irã— foi a importância geopolítica dos novos membros.

O presidente Lula durante a cúpula do Brics no Centro de Convenções Sandton em Joanesburgo, África do Sul - Marco Longari/AFP

O petista deu a declaração ao responder a uma pergunta sobre o ingresso da Argentina, país às portas de um processo eleitoral em que a administração que pleiteou a entrada no Brics tem chances de sair do poder. As principais forças da oposição argentina são contra a adesão.

"A responsabilidade que nós tomamos hoje —é isso que dá seriedade à escolha da Argentina— é que a gente não está colocando a questão ideológica dentro do Brics. Estamos colocando a importância geopolítica de cada Estado. E você sabe que a Argentina é muito importante na relação com o Brasil e com o Mercosul", disse o presidente brasileiro.

Em outro trecho da entrevista, Lula disse que os novos integrantes do Brics não foram escolhidos de forma aleatória e que eles estavam pedindo a admissão "há muito tempo".

"Outros países vão pedir, e vamos fazer da mesma forma seletiva, criteriosa, escolhendo as pessoas de acordo com a importância geopolítica de cada país. O que está em jogo aqui não é a pessoa ou o governo, é o país —a importância do país. Eu não quero saber que pensamento ideológico tem o governante. Quero saber se o país está dentro dos critérios que estabelecemos para fazer parte do Brics", declarou.

O governo vinha ressaltando que a escolha dos países a serem admitidos no Brics seguiria critérios. No entanto, desde que a declaração conjunta foi publicada, ainda não ficou claro quais foram os critérios levados em conta. Nesta quinta, Lula falou na importância geopolítica e na antiguidade das solicitações.

Na quarta (23), o assessor da Presidência para política externa, Celso Amorim, sugeriu que os critérios se adaptariam à escolha dos países —o que contraria o discurso oficial e, na prática, inverte a ordem da seleção. "Esse negócio de critérios, sabe... Você escolhe os países e aí depois você define os critérios", afirmou o ex-chanceler.

Lula também destacou os compromissos negociados sobre a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Na cúpula de Joanesburgo, o Brasil conseguiu que a China se comprometesse com uma declaração mais consoante com o pleito brasileiro, de assumir uma cadeira permanente no conselho, do que as declarações de fóruns anteriores.

"É importante que a ONU tenha uma representatividade que possa deliberar coisas que as pessoas acatem e obedeçam", disse. "É muito importante a discussão do Conselho de Segurança, porque a gente quer que a ONU tenha mais praticidade e respeitabilidade".

O petista também disse que hoje a ONU não consegue evitar "o massacre dos palestinos" nem fazer com que os membros do Conselho de Segurança cumpram suas decisões. "Os membros do Conselho de Segurança da ONU decidem a guerra sem consultar os membros de segurança da ONU".

Sobre a entrada do Irã no Brics, Lula destacou que Teerã vai completar 120 anos de relações com o Brasil. "O Irã é um país importante. Eu vejo como muito importante que o Irã esteja conversando com o mundo árabe, tentando se colocar de acordo com a Arábia Saudita."

Em março, Irã e Arábia Saudita restabeleceram laços diplomáticos, sete anos após uma ruptura que havia escalado as tensões no Golfo e contribuído para a instabilidade do Oriente Médio como um todo. O acordo de conciliação foi mediado pela China, o membro do Brics mais aberto a novas adesões.

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