Hillary Clinton volta a ser professora universitária na Universidade Columbia

Ex-secretária de Estado dos EUA causou furor em primeiro aula de disciplina sobre como são feitas escolhas geopolíticas

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Katherine Rosman
The New York Times

A primeira aula do semestre havia começado havia 20 minutos quando uma professora de política externa da Universidade Columbia interrompeu a palestra. "Eu estou vendo os telefones e as câmeras", disse ela. "Isto não é um show da Taylor Swift."

Para evitar maiores confusões, a professora Keren Yarhi-Milo ofereceu aos alunos uma pausa de cinco minutos. Eles poderiam levantar seus telefones para fotografar sua célebre colega em pé no palco, a recém-nomeada professora Hillary Clinton.

"Isto", observou Hillary enquanto centenas de câmaras a focavam, "é como os paparazzi", tema sobre o qual, assim como a política externa, ela sabe muito.

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A ex-secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e a reitora da Escola de Relações Públicas e Internacionais da Universidade Columbia, Keren Yarhi-Milo, pausam palestra para que alunos tirem fotos - Maansi Srivastava - 6.set.23/The New York Times

Em toda a cidade de Nova York, alunos e professores retornaram das férias de verão. Para Hillary, 75, foi o regresso à educação depois de um lapso muito mais longo. Já se passaram quase 50 anos desde sua passagem como professora pela Faculdade de Direito da Universidade de Arkansas, em Fayetteville.

Na terça-feira (5), véspera de sua primeira palestra, Hillary, a ex-secretária de Estado, senadora e primeira-dama dos Estados Unidos, estava arrumando seu escritório com vista para o campus, no 14º andar do Edifício de Assuntos Internacionais de Columbia, e estudando seus fichários de projetos e notas.

"Sinto-me bem", disse ela em entrevista numa sala de conferências adjacente ao seu luminoso escritório, "mas nervosa."

Assim como acontece com a maioria das empreitadas de Hillary —que há muito tempo é uma espécie de teste nacional de Rorschach, amada por muitos e odiada por muitos outros–, seu novo trabalho tem um significado maior do que simplesmente um retorno às suas raízes acadêmicas.

O novo cargo em Columbia poderá permitir que Hillary ressurja publicamente como especialista em política externa, depois de anos sendo retratada na imprensa e na imaginação do público como a candidata presidencial derrotada por Donald Trump.

Para qualquer político progressista, mas sobretudo para Hillary –que anos atrás talvez se imaginasse em 2023 completando uma presidência histórica–, não há campo de pouso mais suave do que uma universidade da tradicional Ivy League na cidade de Nova York.

O curso é oferecido pela Escola de Assuntos Públicos e Internacionais de Columbia, escola de pós-graduação cuja anuaidade custa mais de US$ 65 mil. "Dentro da Sala de Situação", como é chamada a disciplina, faz parte de uma parceria mais ampla entre Hillary e Yarhi-Milo, reitora da escola e professora de relações internacionais que estuda a psicologia e a mecânica da tomada de decisões.

Juntas, as duas também estão criando o novo Instituto de Política Global de Columbia, no qual o grupo inaugural de palestrantes inclui Marie Yovanovitch, ex-embaixadora dos EUA na Ucrânia; Stacey Abrams, ativista do direito ao voto da Geórgia e ex-candidata a governadora; e Eric Schmidt, ex-presidente e ex-diretor-executivo do Google. Os professores trabalharão com estudantes e acadêmicos para mesclar pesquisa e experiência prática na esperança de resolver problemas sociais e políticos em escala global.

Um porta-voz da escola disse que embora outras figuras conhecidas, como Madeleine Albright, tenham sido convidadas para lecionar no campus, poucas ou nenhuma receberam o mesmo mandato que Hillary, que foi nomeada professora catedrática além de seu papel no instituto. Ele se recusou a compartilhar detalhes da remuneração de Hillary ou como ela se compara à de outros membros do corpo docente.

A aula –batizada em homenagem ao centro de comando da Casa Branca– pretende desconstruir como são feitas escolhas com consequências geopolíticas por meio das lentes dos dados de Yarhi-Milo e das experiências de Hillary. Mais de 800 alunos se inscreveram para o curso, enviando redações para apreciação; cerca de 370 alunos de pós-graduação e graduação foram aceitos. Todos foram examinados pelo Serviço Secreto.

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Hillary Clinton dá palestra da disciplina Dentro da Sala de Situação - Maansi Srivastava - 6.set.23/The New York Times

As palestras discutirão, por exemplo, se grupos tomam melhores decisões do que os indivíduos e como a opinião pública influencia a política externa. Entre as leituras designadas: "Como enfrentar um ditador", de Maria Ressa, e trechos do livro de memórias de Hillary de 2014, "Escolhas Difíceis", no qual ela relatou seus anos como secretária de Estado durante o governo de Barack Obama.

Os estudantes podem esperar que Trump apareça apenas no que diz respeito a discussões de temas específicos na diplomacia ou em casos históricos de política externa, como quando o republicano tirou os EUA do acordo nuclear com o Irã, que foi negociado pela primeira vez por Hillary.

"Este curso", disse ela, "não é sobre ele."

Na tarde de quarta-feira (6), os alunos entraram no Auditório Altschul antes da aula das 14h. Seria a primeira palestra semanal de Hillary e Yarhi-Milo. Espera-se também que os alunos participem de reuniões semanais de grupos de discussão com professores assistentes, que avaliarão seus trabalhos.

Yarhi-Milo disse aos estudantes que não lhes faltariam crises contemporâneas de política externa para resolver: a Guerra da Ucrânia, o balão espião que voou pelos EUA e a tensão em Taiwan, para citar alguns. Para considerar como os líderes reagiram, os alunos lerão e discutirão a teoria dos jogos, a psicologia comportamental, a pressão do tempo e outros elementos que moldam as decisões. "Isso é tudo o que posso dizer, porque eu não estava na sala", disse ela.

Hillary frequentemente estava, e compartilhou várias histórias, incluindo uma que realmente aconteceu na Sala de Situação. No início de 2009, depois de ter sido nomeada pelo então presidente eleito Barack Obama como secretária de Estado, mas ainda não confirmada pelo Senado, ela recebeu um aviso de Condoleezza Rice, secretária de Estado do presidente George W. Bush, de que deveria ir à Sala de Situação.

Hillary e outros membros da nova administração reuniram-se com pessoas do governo Bush, que lhes informaram sobre o que consideraram ameaças críveis de ataques à cerimônia de posse e a Obama.

Essa foi a primeira vez que ela esteve na Sala de Situação a título oficial. "Você está envolvida; muitas vezes, não sabe que há uma crise até entrar na Sala de Situação", disse ela. "Ainda não está nas manchetes e às vezes nunca estará, o que não é de todo ruim."

No final da aula de quarta, os alunos foram convidados a levantar dúvidas. Um deles perguntou sobre as disparidades de gênero na política externa; outro perguntou sobre o uso potencial da inteligência artificial na diplomacia.

Depois, os alunos saíram do auditório num enxame para o pátio.

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Bukuru Anastazie, à esquerda, Benedicte Yenyi e Akaysha Palmer, alunas da turma de Hillary Clinton - Maansi Srivastava - 6.set.23/The New York Times

Akaysha Palmer, que está cursando mestrado em administração pública, disse estar feliz porque a discussão não incluiu a derrota de Hillarypara Trump. "Quero me concentrar apenas em seu papel como secretária de Estado", disse ela.

Uma colega estudante, Bukuru Anastazie, concordou. "O nome dela está sempre ligado ao de um homem", disse. "É realmente revigorante que seja sobre ela mesma."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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