Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Zelenski é culpado por corrupção, dizem 78% dos ucranianos

Pesquisa mostra dano à imagem do presidente da Ucrânia e ajuda a explicar queda de ministro

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São Paulo

Uma nova pesquisa de opinião pública feita na Ucrânia mostra que, apesar de sua imagem glorificada no Ocidente pela liderança contra a invasão russa, o presidente Volodimir Zelenski está em apuros domésticos. Para 78%, ele é responsável pela corrupção no governo e nas Forças Armadas.

O levantamento, divulgado nesta semana, foi feito pela Fundação Iniciativas Democráticas, pelo Centro Razumkov e pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev em julho e agosto de 2023. Foram ouvidas 2.011 pessoas em todas as áreas não ocupadas da Ucrânia, sem margem de erro divulgada.

O presidente Zelenski com a tradicional roupa de inspiração militar durante entrevista em Kiev
O presidente Zelenski com a tradicional roupa de inspiração militar durante entrevista em Kiev - Ritzau Scanpix/Ida Marie Odgaard - 6.set.2023/Reuters

Na semana passada, Zelenski demitiu o ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, por duas razões principais. Primeiro, a pressão do Ocidente acerca dos rumos da contraofensiva lançada em junho contra os russos, que não resultou em avanços decisivos até aqui.

O segundo ponto, que a pesquisa agora explicita, é a percepção de corrupção. Reznikov não foi acusado diretamente de nada, mas sua gestão foi marcada por escândalos envolvendo desde o desvio de verba ocidental para o esforço de guerra à venda de isenção de alistamento no serviço militar.

Em outro movimento para melhoria de imagem, um dos maiores oligarcas do país, Ihor Kolomoiski, foi preso na semana retrasada. Ele era o padrinho político de Zelenski, um popular comediante que vivia em um programa na TV do aliado um professor que acabava acidentalmente na Presidência.

Sua campanha-relâmpago em 2019 foi toda baseada naquele enredo, e deu certo, mas sempre houve dúvidas sobre a influência de Kolomoiski no rumo de negócios do governo no pré-guerra. Ele é investigado por lavagem de dinheiro.

Como o levantamento mostra, apenas 18% dos ucranianos dizem achar que Zelenski não tem nada a ver com isso. Antes da guerra, o presidente já enfrentava diversas pressões políticas, decorrentes de sua inexperiência.

Sua negativa em deixar Kiev durante o assalto inicial dos russos, como sugeriu o presidente Joe Biden (EUA), o transformou em símbolo da resistência contra o ataque de Vladimir Putin, particularmente no exterior, onde se vende e é vendido na mídia ocidental como uma espécie de Winston Churchill do século 21 —uma referência ao então premiê britânico que enfrentou os nazistas e os derrotistas domésticos na Segunda Guerra Mundial.

O presidente moldou uma imagem meticulosamente trabalhada de líder de um país em guerra, envergando sempre roupas de inspiração militar em suas aparições públicas.

A pesquisa não fez perguntas sobre popularidade ou avaliação da condução da guerra de Zelenski, mas aponta outros dados preocupantes para o presidente.

Para 55%, por exemplo, os países ocidentais têm direito de questionar a ajuda militar que dão a Kiev enquanto houver casos de corrupção nas Forças Armadas. Motor da sobrevivência da Ucrânia até aqui, o auxílio já chegou a mais de US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões) desde a invasão de fevereiro de 2022, segundo o governo local.

Outros 52% afirmam que é correto fazer críticas mesmo com Zelenski sendo o comandante-em-chefe, e a corrupção aparece como o maior problema para os empreendedores do país. Para 47% dos ucranianos, o tema é o principal entrave para fazer negócios no país, enquanto os danos da guerra são vistos como tal motivo para 37%, empatados com o sistema tributário (36%) e a fraqueza estatal (36%).

O arcabouço empresarial ucraniano não é bem-visto também quando o tema é a reconstrução do pós-guerra. Para 28%, devem ser empresas ocidentais as principais responsáveis pelo serviço, enquanto 19% citam instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional. O governo vem a seguir, com 17,5%, enquanto firmas locais são citadas só por 8%.

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