Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Fronteira de Gaza reabre no domingo, dizem autoridades; brasileiros têm prioridade, mas saída é incerta

Embaixador do Brasil em Israel afirma que passagem para o Egito depende de fluxo de ambulâncias

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São Paulo

Depois de mais um dia de trânsito suspenso entre a Faixa de Gaza e o Egito, a autoridade responsável pela fronteira anunciou que a passagem de Rafah, que liga os dois territórios, será reaberta no domingo (12) para quem tiver passaporte estrangeiro.

A possível reabertura, porém, não garante a fuga das 34 pessoas que o Itamaraty tenta resgatar da zona de guerra há mais de um mês. Isso porque, embora o Brasil tenha prioridade, de acordo com o embaixador brasileiro em Israel, ambulâncias têm a prerrogativa de passar em primeiro lugar —e não se sabe quantos veículos com feridos estarão na fronteira.

Pessoas caminham perto da fronteira de Gaza com o Egito, em Rafah - Said Khatib - 3.nov.2023/AFP

"Por determinação do Egito, primeiro passam as ambulâncias e em seguida saem os estrangeiros", afirmou à Folha Frederico Meyer, embaixador do Brasil em Israel. "Essa expectativa de que eles saíssem existia ontem e hoje, mas não aconteceu. Temos essa expectativa amanhã também, e eu espero que aconteça."

Segundo Meyer, não há uma lista hierarquizada entre os estrangeiros. "O que nós temos é a garantia dos israelenses de que nós seríamos os primeiros", diz o embaixador.

Rafah é a única saída de Gaza que não é controlada por Israel, ainda que o país tenha poder de veto sobre o processo. Após um período aberta, a passagem foi fechada durante a tarde de quinta (9) devido a suspeitas de que o Hamas tivesse infiltrado combatentes como motoristas de ambulâncias que levam feridos graves para o país africano.

Na última sexta-feira (10), de acordo com Meyer, passaram cinco ambulâncias, e depois o posto foi fechado novamente. O oficial palestino responsável pela fronteira disse à agência de notícias Reuters que a suspensão ocorreu devido a problemas para transportar resgatados por motivos médicos.

Amanhã, a organização deve ser a mesma. "A instrução egípcia é de abrir passagem para os estrangeiros apenas quando passarem todas as ambulâncias", diz Meyer. "Pode ser que tenha uma ambulância, pode ser que tenham dez", completa o embaixador, em um cenário em que mortos e feridos não param de crescer.

Desde que atentados terroristas do Hamas no dia 7 de outubro mataram 1.200 pessoas, entre idosos e crianças, no sul de Israel, Tel Aviv faz uma intensa campanha aérea contra a Faixa de Gaza, um dos territórios mais densamente povoados do mundo onde vivem mais de 2 milhões de pessoas.

Do lado palestino, já são mais de 11 mil mortos, cerca de 40% deles crianças, devido aos combates. Há ainda milhares de feridos que esperam por tratamento em um cenário de caos nos hospitais devido à restrição de Israel à entrada de água, alimento, combustível e outros suprimentos, incluindo os de saúde, em Gaza.

De acordo com declaração de sexta do diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, 36 hospitais de Gaza e dois terços dos seus centros de saúde primários não estão funcionando. Aqueles que ainda conseguem operar estão muito aquém de suas capacidades.

Neste sábado, autoridades palestinas disseram que dois bebês morreram após o combustível acabar no Hospital al-Shifa, o maior de Gaza. Dezenas de outros pacientes ainda estão em risco.

O exército israelense afirma que ajudará a retirar os bebês, a despeito das repetidas declarações de autoridades de saúde e das equipes médicas de que os pacientes podem morrer se forem movidos. "A equipe do hospital Shifa solicitou que amanhã ajudemos os bebês do departamento pediátrico a chegar a um hospital mais seguro. Forneceremos a assistência necessária", afirmou o contra-almirante Daniel Hagari, porta-voz militar de Israel.

"É totalmente uma zona de guerra, é uma atmosfera assustadora aqui no hospital", disse Ahmed al-Mokhallalati, cirurgião plástico sênior do Shifa, à Reuters. "É um bombardeio contínuo há mais de 24 horas."

A maioria da equipe do hospital e das pessoas abrigadas ali já havia saído, disse ele, mas 500 pacientes ainda estavam lá.

Anteriormente, Tel Aviv havia pedido que médicos, pacientes e milhares de pessoas que se refugiam em hospitais no norte de Gaza fugissem para o sul. O país alega que o Hamas coloca centros de comando embaixo e ao redor de centros de saúde, algo que o grupo terrorista nega.

A devastação fez o presidente da França, Emmanuel Macron, instar Israel a parar de fazer ataques aéreos na Faixa de Gaza, onde "bebês, mulheres e idosos são bombardeados e mortos". "Não há outra solução além de uma pausa humanitária seguida de um cessar-fogo, que vai nos permitir proteger todos os civis que não têm nada a ver com terroristas", afirmou Macron durante uma entrevista à rede britânica BBC.

Neste sábado, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que o francês "cometeu um erro grave, um erro factual e moral". "Quem está impedindo a retirada dos cidadãos não é Israel, é o Hamas", afirmou Bibi, como o líder israelense é conhecido.

Os brasileiros não estavam nas seis primeiras levas de autorizados, e foram incluídos apenas na sexta, após uma angustiante espera de pouco mais de um mês. Das 34 pessoas, 24 são brasileiras natas, 7 palestinas em processo de imigração e 3, parentes próximos deste último grupo. Ao todo, são 18 crianças, 10 mulheres e 6 homens.

Eles estão em duas casas: uma na cidade de Khan Younis, no sul de Gaza, e outra a um quilômetro da fronteira. Quando o grupo receber luz verde para sair do território, dois ônibus passarão nas residências antes de seguir para a fronteira.

Em solo egípcio, eles receberão atendimento de uma equipe com médico, enfermeiro e psicólogo enviada pelo Brasil. A viagem de repatriação começa com um trajeto de cinco horas de ônibus com destino ao Cairo ou um caminho mais curto, para a base de Al Arish. O avião VC-2, a versão operada pela Força Aérea para a Presidência do Embraer-190, poderá estar em ambos os pontos. Eles então seguirão para Roma, Las Palmas, Recife e, enfim, Brasília.

Os que não tem chances de sair podem ver a guerra se alastrar pela região nas próximas semanas. Há um temor crescente de que o conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza se espalhe para outros países do Oriente Médio.

Após os atentados, a fronteira entre Líbano e Israel se tornou uma frente secundária do conflito. O local tem sido palco de trocas de tiros frequentes entre o Exército israelense, de um lado, e o Hezbollah e seus aliados de outro. Neste sábado, o líder do grupo disse que seus combatentes atingiram novos alvos em Israel nos últimos dias, e prometeu que a frente no sul contra o país permanecerá ativa.

O Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, por sua vez, afirmou que os libaneses pagarão o preço de um possível conflito. "O que fazemos em Gaza, sabemos como fazer em Beirute", disse.

A declaração, dirigida aos cidadãos libaneses, foi feita durante reunião com comandantes das Forças Armadas e soldados estacionados na fronteira com o país da Ásia Ocidental. Ainda em outubro, Netanyahu já havia alertado o grupo de que levaria "devastação" ao Líbano se uma nova frente de guerra fosse aberta.

Internamente, Israel enfrenta suas próprias tensões. Na noite deste sábado, dezenas de milhares de israelenses protestaram em cidades de todo o país —a principal marcha aconteceu na agora apelidada de Praça dos Reféns, em frente ao Museu de Tel Aviv.

Os manifestantes pediam o retorno dos mais de 200 sequestrados pelo Hamas nos ataques de outubro que estão sendo mantidos na Faixa de Gaza. Segundo o jornal israelense Haaretz, houve confrontos entre apoiadores e críticos de Bibi em Tel Aviv após os protestos.

Com Reuters

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