Milei pode dar guinada diplomática e retirar embaixadores de Nicarágua, Cuba e Venezuela

Governo avalia enviar apenas cargos mais baixos, segundo imprensa argentina; chancelaria não confirma

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Buenos Aires

O governo de Javier Milei pode retirar embaixadores argentinos de países com regimes ditatoriais como Nicarágua, Venezuela e Cuba, segundo a imprensa local. A medida representaria um giro diplomático em relação à gestão do peronista Alberto Fernández, que mantinha nomes nessas nações.

Questionado, o Ministério de Relações Exteriores afirmou que, "até o momento, não foram feitas nomeações de embaixadores que possam ser informadas, pois o processo está em andamento" e que "a intenção da chanceler Diana Mondino é anunciá-las assim que contar com um número significativo de nomeações".

O presidente Javier Milei recebe a faixa e o bastão presidenciais de seu antecessor Alberto Fernández no Senado da Argentina, no último dia 10 - Martin Zabala - 10.dez.2023/Xinhua

Segundo o portal Infobae, a ministra já descartou esses três países da lista de embaixadores pelo mundo que está elaborando. As relações diplomáticas bilaterais seriam mantidas apenas por meio de um encarregado de negócios —cargo também ocupado por um diplomata, porém mais protocolar—, como já acontece com o Irã.

O jornal Clarín, por sua vez, afirma que o governo já tomou a decisão sobre a Nicarágua, mas ainda tem dúvidas se fará o mesmo com Venezuela e Cuba. O regime do ditador nicaraguense, Daniel Ortega, também retirou seu embaixador da Argentina no último dia 4, na semana anterior à posse de Milei.

"Frente a reiteradas declarações e expressões dos novos governantes, o governo decidiu retirar seu embaixador, colega escritor e comunicólogo Carlos Midence", disse o ministro das Relações Exteriores de Manágua, Denis Moncada, em um breve comunicado divulgado pelos meios governamentais do país.

Nesta segunda (18), o governo de Milei anunciou que voltará a um grupo de países formado dentro da Organização das Nações Unidas para fazer pressão contra o regime de Ortega e a violação de direitos humanos. O anúncio foi feito no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, na Suíça.

A Argentina foi uma das nações que lideraram uma primeira resolução sobre a Nicarágua em 2019, então sob a Presidência de Mauricio Macri, ao lado de outros países da região como Brasil, Colômbia, Paraguai e Peru. Em 2020, porém, a gestão de Fernández surpreendeu ao tomar a decisão de retirar-se do grupo.

Agora, em seu discurso de retorno, os representantes argentinos argumentaram ao conselho que "não aceitarão que a soberania nacional ou sanções econômicas sejam invocadas como justificativa para não garantir a plena vigência dos direitos humanos".

Alberto Fernández havia enviado Daniel Capitanich (Nicarágua), Oscar Laborde (Venezuela) e Luis Alfredo Ilarregui (Cuba), que segundo a imprensa se destacaram por seus silêncios ou por um polêmico protagonismo em episódios geopolíticos complexos durante esse período.

Milei já confirmou alguns de seus novos embaixadores, entre eles os do Brasil, que continuará sendo o peronista Daniel Scioli, e o dos Estados Unidos, o empresário Gerardo Werthein, criticado por ter financiado a campanha do presidente argentino e ter emprestado seu avião depois que ele foi eleito.

Reino Unido e Israel também já têm nomes designados, mas Milei ainda não deu nenhum sinal sobre a China.

Argentina vive novo momento tenso com a China

Os dois países vivem um novo momento tenso, depois de um início de governo caloroso que se contrastou com o clima da corrida presidencial, em que Milei disse que cortaria relações com o país por ser uma "ditadura comunista".

Pequim decidiu congelar o chamado "swap" de US$ 6,5 bilhões (R$ 32 bilhões) que havia negociado em outubro com o ex-ministro da Economia Sergio Massa, rival político de Milei, segundo divulgou nesta terça (19) a agência norte-americana REDD Intelligence.

A medida consiste em um intercâmbio de moedas e é muito importante para a Argentina porque permite ao país pagar parte das parcelas de sua dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacional) em yuanes, a moeda chinesa, e preservar sua escassa reserva de dólares nos cofres públicos.

A decisão teria sido tomada após um mal-estar pela compra em curso de caças F-16 de fabricação americana, segundo o Infobae. O novo ministro da Defesa, Luis Petri, reuniu-se nesta segunda com o chefe das Forças Armadas argentinas e teria decidido avançar com a aquisição, em detrimento de uma oferta chinesa.

Agora, Wang Wei, o embaixador chinês em Buenos Aires, foi convocado a voltar a Pequim para apresentar um relatório sobre as relações com Milei, diz o portal "El Diario". Por enquanto, a representação da Argentina na China está a cargo de uma secretária, Valeria Varone, cargo da diplomacia considerado muito baixo para a importância comercial e estratégica da China.

A chanceler Diana Mondino também já havia confirmado que a Argentina não aceitará o convite para entrar no Brics, bloco formado hoje por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

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