Biden calibra resposta a ataque contra soldados dos EUA no Oriente Médio

Reação a morte de 3 militares americanos na Jordânia arrisca guerra mais ampla que líder tem buscado evitar

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Peter Baker
The New York Times

Este foi o dia que o presidente Joe Biden e sua equipe temiam há mais de três meses —o dia em que ataques relativamente pequenos de grupos apoiados pelo Irã contra soldados americanos no Oriente Médio se tornaram letais e intensificariam a pressão sobre o presidente para que ele respondesse na mesma moeda.

Com três membros do serviço dos EUA mortos e ao menos 40 feridos por um drone na Jordânia, Biden deve decidir até onde está disposto a ir em termos de retaliação. Isso implica, porém, correr o risco de fazer irromper uma guerra mais ampla, justamente o que ele tem buscado evitar desde o ataque terrorista do Hamas de 7 de outubro que desencadeou a atual crise no Oriente Médio.

Homem de terno desce de escada de avião
O presidente dos EUA, Joe Biden, desembarca do Air Force One em base aérea no estado de Maryland - Kent Nishimura - 28.jan.2024/AFP

Até agora, o presidente havia calibrado cuidadosamente suas respostas aos mais de 150 ataques de milícias apoiadas pelo Irã contra as forças americanas na região desde 7 de outubro. Ele basicamente ignorou a maioria das ofensivas em que foguetes e drones foram interceptados com sucesso ou que causaram pouco ou nenhum dano.

Ao mesmo tempo, autorizou ataques limitados dos EUA focando principalmente prédios e infraestrutura após sofrer ataques mais ousados —estratégia usada principalmente contra os houthis no Iêmen, que têm como alvo o transporte marítimo no mar Vermelho.

As primeiras mortes de soldados americanos sob fogo, no entanto, exigirão um nível diferente de resposta, disseram autoridades americanas, e os conselheiros do presidente concordavam com isso ao se reunir com ele por videoconferência no domingo (28).

O que permanecia incerto era se Biden atacaria o próprio Irã, como seus críticos republicanos o instavam a fazer, apesar de sua própria determinação de evitar uma guerra em grande escala.

"Os três membros do serviço americano que perdemos eram patriotas no sentido mais valoroso", disse o presidente em comunicado. "Nos esforçaremos para ser dignos de sua honra e seu valor. Daremos continuação a seu compromisso de combater o terrorismo. E não tenham dúvida —responsabilizaremos todos os responsáveis no momento e da maneira que escolhermos".

Membros do governo e agências de inteligência tentavam determinar no domingo se o ataque na Jordânia representava uma tentativa deliberada do Irã de escalar o conflito ou se tratava-se do mesmo tipo de ataque limitado que seus prepostos vinham realizando, mas que na ocasião, por acaso, acabou sendo bem-sucedido.

Autoridades americanas afirmam há meses não acreditar que o Irã queira uma guerra direta com os EUA e, para elas, isso não mudou. Ao mesmo tempo, elas argumentam, Teerã têm usado forças subsidiárias para manter a pressão sobre EUA e Israel enquanto Israel continua a atacar o Hamas na Faixa de Gaza.

Sob condição de anonimato, um alto funcionário dos EUA disse no domingo que Washington não acredita que os iranianos queiram iniciar uma guerra mais ampla com o ataque na Jordânia. Mas, prosseguiu, analistas ainda estão avaliando se o Irã ordenou o ataque mais potente ou se um grupo de milícias decidiu fazê-lo por conta própria.

Embora um conflito mais amplo possa servir aos propósitos do Irã, autoridades americanas há muito acham que Teerã entende que uma guerra direta com os EUA seria profundamente prejudicial. O ataque na Jordânia ocorreu em um momento em que alguns funcionários americanos estavam explorando a ideia de que o Irã poderia estar prestes a tentar conter algumas de suas forças subsidiárias, uma teoria que pode ter sido frustrada pelo ataque de domingo.

Os republicanos não perderam tempo no domingo culpando Biden pelas mortes das tropas na Jordânia. Um senador chegou a afirmar que o presidente seria um "covarde" se não respondesse de forma mais agressiva.

"O mundo inteiro agora observa sinais de que o presidente finalmente está preparado para usar da força americana para compelir o Irã a mudar seu comportamento", disse o líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, republicano do Kentucky. O senador Lindsey Graham, republicano da Carolina do Sul, foi mais categórico: "Ataque o Irã agora. Ataque-os com força".

Críticos republicanos também argumentaram que a ausência de uma ação americana mais potente nos últimos três meses deixou o Irã e seus prepostos confiantes de que poderiam agir impunemente.

"Ele deixou nossas tropas serem alvos fáceis, e agora três estão mortos, e dezenas, feridos, como eu infelizmente previ que aconteceria há meses", disse o senador Tom Cotton, republicano de Arkansas. "A única resposta a esses ataques deve ser uma retaliação militar devastadora contra as forças terroristas do Irã, tanto no Irã quanto no Oriente Médio. Qualquer coisa menos do que isso confirmará que Joe Biden é um covarde, indigno de ser comandante-chefe do país."

Trump, atualmente o favorito pela indicação republicana que o permitiria desafiar Biden para reaver seu antigo cargo, afirmou nas redes sociais que "esse ataque NUNCA teria acontecido" se ele fosse presidente.

Na realidade, o Irã e seus aliados atacaram interesses dos EUA e aliados durante do governo dele, e em dado momento, Trump suspendeu uma retaliação que considerou excessiva. Ele posteriormente ordenou uma ofensiva que matou um general iraniano de alto escalão, mas quando o Irã respondeu com ataques de mísseis que feriram, mas não mataram tropas americanas, Trump não prosseguiu com os enfrentamentos.

Até domingo, as únicas mortes militares dos EUA na região desde 7 de outubro não tinham ocorrido durante uma troca de ataques, mas numa operação no mar Arábico para interceptar armas enviadas para os houthis pelo Irã. Dois integrantes dos Seals, força de elite da Marinha americana, foram declarados mortos na semana passada depois que um caiu no mar e o outro mergulhou para tentar salvá-lo.

Biden foi informado sobre o ataque na Jordânia na manhã de domingo, na Carolina do Sul, onde passava o fim de semana fazendo campanha antes das primárias democratas. O secretário de Defesa, Lloyd Austin, falou com o presidente, juntamente com o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, e seu vice, Jon Finer.

Mais tarde, Biden e a vice-presidente, Kamala Harris. participaram de uma discussão virtual com Austin, Sullivan, Finer e outros conselheiros, incluindo o secretário de Estado, Antony Blinken, o general Charles Brown, chefe do Estado-Maior, e Avril Haines, diretora de inteligência nacional.

O presidente abordou o assunto durante um comício num centro de conferências em West Columbia, na Carolina do Sul. "Tivemos um dia difícil ontem no Oriente Médio", disse ele à multidão. "Perdemos três almas corajosas em um ataque a uma de nossas bases."

Após um momento de silêncio, ele acrescentou: "e vamos responder".

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