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Corte de Haia joga para a plateia e favorece Israel com decisão vazia

Tribunal tentou agradar a todos apesar da fragilidade do caso, esvaziando discurso de genocídio em Gaza

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São Paulo

A decisão da Corte de Haia sobre o pedido da África do Sul de decretar que Israel promove um genocídio de palestinos na guerra contra o Hamas em Gaza é um exemplo acabado do modus operandi da Justiça em tempos de redes sociais.

Se abundam evidências de desproporcionalidade na reação israelense ao massacre promovido pelo grupo terrorista palestino em 7 de outubro, o passo maiúsculo de determinar um genocídio carecia de evidências materiais.

Foto mostra prédios destruídos em Gaza e, no primeiro plano, um tanque de guerra de Israel. O cenário é barrento
Tanque israelense na direção de prédios destruídos na Faixa de Gaza, cenário da guerra Israel-Hamas - Jack Guez - 19.jan.2024/AFP

Até pela abertura do registro das decisões do gabinete de Israel, não se tem configurado o equivalente a uma Conferência de Wannsee, a reunião documentada de altos escalões nazistas para sistematizar o Holocausto em 1942, para determinar o extermínio do povo palestino.

Que membros do governo israelenses sejam genocidas em sua retórica e que as políticas do governo Binyamin Netanyahu são discriminatórias contra palestinos, isso é fato. Há integrantes que se dizem dispostos a erradicar qualquer coisa que não seja judia "do rio ao mar", para ficar no bordão francamente genocida dos adversários de Israel.

Isso pode incitar um genocídio, uma decisão de Estado? Não há provas disso. Daí a decisão frouxa da corte, como que batendo na mão de Israel para advertir o Estado judeu a não ultrapassar limites em Gaza.

Sem coragem para arquivar a peça frágil da acusação sul-africana, bonita na intenção de proteger palestinos, mas carente de substância jurídica e eivada pela carga política que a motiva, Haia optou por tentar agradar os críticos de Israel.

Afinal de contas, o processo em tese segue aberto, e o tapinha na mão israelense foi dado. Politicamente, por óbvio não é agradável para uma nação que nasceu a partir da própria definição moderna de genocídio ser acusada do crime que lhe deu à luz.

Nesse sentido, o do tribunal das redes, o discurso de quem grita "Israel genocida" está garantido. É uma peculiaridade dos nossos tempos a diluição de conceitos, a facilidade com que coisas abomináveis ganham contornos de argumento de boteco.

Da mesma forma, os palestinos foram a público dizer que a decisão prova que estão sob risco —o que, de resto, é evidente.

Mas fica por aí. Nem um cessar-fogo, algo que já passou na igualmente inócua Assembleia-Geral da ONU, foi determinado. Para Israel, é uma vitória política importante no momento em que suas ações estão sob forte escrutínio em Gaza.

Para piorar, na visão de quem acha que Israel deve ser contido, ao fim a decisão de Haia gera uma linha de oxigênio para o pressionado o premiê, que não tem ideia de como acabar a guerra iniciada pelo Hamas. Ou melhor, tem, mas isso implica uma devastação completa de Gaza e a inviabilização da vida dos 2,3 milhões de moradores da região.

Como seria previsível, ele celebrou a decisão como uma prova de que não está fazendo nada de errado, o que é uma distorção também. Na prática, ele ganha tempo de manobra nos fóruns internacionais e onde interessa, os Estados Unidos, para seguir com sua guerra.

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