Juiz que considerou Trump culpado de fraude fiscal recebe ameaça de bomba

Incidente se deu horas antes de última audiência do caso, na qual o republicano voltou a desafiar o magistrado

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São Paulo

O juiz Arthur Engoron, que considerou que Donald Trump exagerou o valor de sua fortuna em declarações para bancos e seguradoras em uma decisão do ano passado, recebeu uma ameaça de bomba em sua casa, em Long Island, perto de Nova York, nesta quinta-feira (11), informou o departamento de polícia local.

O juiz Arthur Engoron durante audiência do caso Trump na Suprema Corte de Nova York, em Manhattan
O juiz Arthur Engoron durante audiência do caso Trump na Suprema Corte de Nova York, em Manhattan - Shannon Stapleton/Pool/AFP

O episódio ocorreu no mesmo dia em que o magistrado, membro da Suprema Corte de Nova York, ouviu as alegações finais do processo em questão.

A relação de Trump com o juiz Engoron é espinhosa. Durante a audiência desta quinta-feira, por exemplo, o republicano voltou a fazer do tribunal uma arena política e acusou o magistrado de estar cumprindo uma agenda própria, sem interesse em se atentar aos fatos.

Como de praxe, também disse que o caso visa interferir no processo eleitoral. A declaração é feita apenas quatro dias de os republicanos darem a largada nas primárias para decidir seu candidato à Casa Branca no caucus de Iowa —Trump é o grande favorito até aqui. Em resposta, o juiz pediu que a defesa de Trump controlasse seu cliente.

Engoron já havia negado um pedido do político para que ele mesmo lesse suas alegações finais na nesta quinta. A decisão foi motivada justamente pela recusa de Trump de aceitar regras que o impediriam de fazer da fala um discurso de campanha.

Durante a audiência, porém, ele voltou atrás e permitiu a fala, e foi quando o ex-presidente disparou os ataques contra o magistrado.

Trump chegou a reclamar da decisão inicial na Truth, rede social que ele mesmo fundou. Engoron e a procuradora-geral de Nova York, a democrata Letitia James, autora da ação, "estão tentando me ferrar", escreveu ele.

O caso movido pela Procuradoria-Geral de Nova York afirma que o ex-presidente e diretores de sua empresa, a Organizações Trump, mentiram sobre relatórios financeiros e valores de ativos para conseguir empréstimos com taxas melhores e seguros mais baratos.

Entre os valores inflados estariam o resort de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida; sua cobertura na Trump Tower, em Manhattan; e diversos outros edifícios e campos de golfe de propriedade do republicano. Em algumas das declarações, o patrimônio líquido da empresa teria sido exagerado em até US$ 2,2 bilhões (R$ 11 bilhões no câmbio atual).

O advogado de Trump, Christopher Kise, destacou em seu argumento para a Suprema Corte que qualquer suposta manipulação de cliente foi inofensiva, posto que os bancos e seguradoras que trabalharam com a Organizações Trump ainda obtiveram lucro.

A segurança dos envolvidos no julgamento é frágil. A escrivã do processo, por exemplo, foi alvo de ameaças após Trump afirmar que ela era corrupta e demonstrava "vieses políticos". Engoron até emitiu uma ordem de silêncio contra o ex-presidente, estabelecendo multa no valor de US$ 15 mil (cerca de R$ 73 mil) caso ele difamasse outras envolvidos no caso, mas o empresário violou a diretriz duas vezes.

Não bastasse o cenário dramático, o julgamento foi palco de um tenso reencontro entre Trump e seu ex-advogado Michael Cohen, preso desde 2018. Cohen havia afirmado em seu testemunho que o ex-presidente o tinha instruído a manipular os valores de seu patrimônio. O atual advogado do republicano chamou Cohen de "mentiroso em série".

Os filhos de Trump Donald Jr., Eric e Ivanka também testemunharam —ao contrário dos demais, a última não é ré. Os três afirmaram ter pouca ou nenhuma participação nos negócios da empresa. A sentença deve sair nas próximas semanas. Cabe recurso.

A procuradoria pediu multa de cerca de US$ 370 milhões (R$ 1,8 bilhão), argumentando que foi esse o valor que Trump ganhou com as fraudes. Um advogado do ex-presidente classificou a cifra de injusta.

Com Reuters e New York Times

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