Alunos judeus processam Harvard e a acusam de ser 'bastião do antissemitismo'

Estudantes afirmam que renomada instituição de ensino americana viola trechos da Lei dos Direitos Civis

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Jonathan Stempel
Nova York | Reuters

Estudantes judeus apresentaram à Justiça nesta quarta-feira (10) uma denúncia em que acusam a renomada Universidade Harvard de permitir que seu campus se torne um "bastião desenfreado de antissemitismo" no contexto da guerra Israel-Hamas.

O campus da Universidade Harvard em Cambridge, no estado americano de Massachusetts
O campus da Universidade Harvard em Cambridge, no estado americano de Massachusetts - Brian Snyder - 12.dez.23/Reuters

Seis alunos afirmam que Harvard aplica de forma seletiva suas políticas contra discriminação de modo a não proteger estudantes judeus. Eles também dizem que a instituição tem ignorado os apelos deles por proteção e contratado docentes que propagam ideias antissemitas.

Ainda na denúncia, os estudantes afirmam que o histórico de Harvard mostra uma universidade que coíbe abuso semelhante a quaisquer outros grupos que não os judeus, e veta pedidos de aniquilação de qualquer país a menos que este seja Israel. Declaram, por fim, que a universidade trata os judeus como "indignos do respeito e da proteção que concede a outros grupos".

O grupo busca uma liminar para interromper o que diz ser violações de Harvard à Lei dos Direitos Civis dos Estados Unidos, de 1964, que proíbe os destinatários de fundos federais de permitir discriminação com base em raça, religião e origem nacional.

O processo é apresentado apenas oito dias depois de a então reitora de Harvard, Claudine Gay, renunciar ao cargo, pressionada por críticas relacionadas à forma como lida com antissemitismo no campus e à sua produção acadêmica —a primeira mulher negra a assumir a liderança da instituição havia sido acusada de plágio.

A universidade se recusou a comentar a denúncia, apresentada em um tribunal de Boston, quando questionada pela agência de notícias Reuters.

Entre os autores estão Alexander Kestenbaum, estudante da Escola de Teologia de Harvard, e cinco alunos não identificados dos departamentos de direito e saúde pública. O grupo é apoiado pela organização Students Against Antisemitism (estudantes contra o antissemitismo).

Outras instituições de ensino que enfrentaram processos semelhantes a esse nos EUA incluem a Universidade de Nova York, a Universidade da Califórnia em Berkeley e a Universidade da Pensilvânia.

Instituições acadêmicas ao redor do mundo têm assistido a disputas sobre liberdade de expressão e direito de protesto desde o início da guerra em Gaza. Em novembro passado, o Departamento de Educação dos EUA abriu uma investigação sobre a maneira como Harvard lidou com o antissemitismo no campus. Um painel da Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados) também examina o tema.

De acordo com a denúncia formalizada nesta quarta-feira, o antissemitismo não é algo novo em Harvard, fundada em 1636, mas tem aumentado desde o ataque do Hamas.

Mais de 30 grupos estudantis da universidade assinaram uma petição no dia seguinte ao ataque da facção terrorista palestina culpando Israel. Os autores da denúncia feita na Justiça afirmaram que Harvard levou apenas um dia para responder na ocasião, mas não condenou a petição ou o Hamas, nem sequer ofereceu apoio aos estudantes judeus.

Só depois que um caminhão com um outdoor circulou pelo campus e identificou os nomes dos membros de grupos que apoiavam a petição contra Tel Aviv que Harvard ofereceu proteção a esses estudantes contra o "ataque repugnante à nossa comunidade", diz a queixa dos alunos.

O uso de dois pesos e duas medidas por Harvard na questão é injustificada, afirmam eles. O texto detalha, entre outros, o caso de dois estudantes de direito, ambos identificáveis como judeus por usarem vestimentas típicas, que dizem que foram regularmente alvo de ataques em uma área comum.

A queixa afirma que há um preconceito institucionalizado em Harvard que se estende até mesmo às admissões de novos alunos e cita uma suposta queda de 60% no número de estudantes judeus. "A principal universidade dos EUA se tornou um bastião de ódio e assédio antijudaico desenfreado", argumentam.

O processo busca indenizações compensatórias e punitivas e exige que Harvard suspenda ou expulse alunos que pratiquem antissemitismo. "Está claro que Harvard não corrigirá seu problema de antissemitismo profundamente enraizado voluntariamente", disse o advogado dos estudantes, Marc Kasowitz.

Colaborou Nate Raymond, de Boston

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