Chanceler argentina manda recado sutil ao Brasil durante visita de Blinken

Chefe da diplomacia dos EUA esteve em Buenos Aires após cúpula do G20 no Rio e defendeu aliança com os dois países

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São Paulo

Após viagem ao Brasil para a cúpula do G20, em uma visita dominada por questionamentos sobre as visões antagônicas de Brasília e Washington em relação à guerra em Gaza, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, esteve nesta sexta-feira (23) na Argentina

Após se reunir com o presidente Javier Milei, o secretário de Estado concedeu entrevista coletiva ao lado da chanceler argentina, Diana Mondino, na Casa Rosada, e o Brasil surgiu na conversa.

A chanceler da Argentina, Diana Mondino, ao lado do secretário de Estado americano, Antony Blinken, na Casa Rosada, em Buenos Aires
A chanceler da Argentina, Diana Mondino, ao lado do secretário de Estado americano, Antony Blinken, na Casa Rosada, em Buenos Aires - Juan Mabromata/AFP

Questionado sobre se as declarações do presidente Lula (PT) acerca de Rússia, China e Israel podem fazer que o país perca para a Argentina o posto de principal parceiro dos EUA na região, ele se desvencilhou. "Não temos associações exclusivas. O trabalho com qualquer país com interesses e valores comuns é bem-vindo."

E seguiu: "Em mais de 30 anos na diplomacia, não me lembro de um momento com tantas ameaças complexas e interconectadas. Isso sublinha que é absolutamente importante termos novas formas de cooperar com parceiros internacionais."

O que mais chamou a atenção, no entanto, foi a fala de Mondino que, mesmo não tendo recebido a pergunta como direcionada a ela, pediu a palavra e fez indireta sutil a Lula.

"O Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina, mas não importa ser o principal. Como diziam: não importa ser o melhor, mas ser melhor do que era ontem e nem tanto quanto será amanhã."

Desde a eleição de Milei no ano passado, Argentina e Brasil têm dito que, a despeito das diferenças ideológicas entre os dois governos hoje vigentes, a cooperação diplomática e comercial seguirá.

Como forma de colocar panos quentes em ataques que o próprio Milei fez a Lula na época de campanha, Mondino escolheu o Brasil como sua primeira viagem oficial antes mesmo de assumir o posto de chanceler.

Já no caso das relações Brasil-EUA, alargadas nas áreas ambiental e trabalhista após uma visita de Lula à Casa Branca, há diferenças em torno de temas importantes da política internacional.

Enquanto os EUA travam uma espécie de Guerra Fria 2.0 com a China, o Brasil estreita laços econômicos com o gigante asiático e evita críticas em fóruns internacionais. Em relação à Rússia, contra quem Washington voltou a aplicar um pacote de sanções nesta sexta-feira, o Brasil também evita críticas, mesmo em meio à Guerra da Ucrânia.

A rusga mais recente ocorreu no tema da guerra Israel-Hamas, quando Lula comparou as ações militares de Tel Aviv em Gaza ao Holocausto nazista e as descreveu como genocídio. Os EUA são os principais parceiros internacionais de Israel, e o próprio Blinken disse discordar de que haja genocídio na Faixa.

Ainda na entrevista coletiva desta sexta-feira, ele foi questionado sobre a razão para os EUA designarem as ações da China em relação à minoria muçulmana uigur como genocídio, mas não empregarem o termo para as ações israelenses em Gaza.

Blinken disse em linhas gerais que não há comparação entre o que seria uma resposta militar a um ataque do Hamas em 7 de outubro e a tentativa de Pequim de suprimir a autonomia e os costumes dos uigures de Xinjiang.

No mais, o secretário de Estado americano também reforçou o interesse de Washington no lítio presente em território argentino e agradeceu a Buenos Aires por apoiar Ucrânia e Israel nos fóruns internacionais. Milei recentemente foi ao país do Oriente Médio e chegou a dizer que quer transferir a embaixada argentina de Tel Aviv para Jerusalém, numa imitação do ex-presidente Donald Trump.

Blinken declinou de comentar sobre o plano apresentado na quinta (22) pelo premiê Binyamin Netanyahu para a Gaza pós-guerra, afirmando ainda não tê-lo lido completamente. Mas salientou que as linhas gerais de "eliminar o terrorismo" da faixa palestina combinam com os interesses da Casa Branca.

Por último, voltou a condenar as tentativas de voltar a estabelecer assentamentos judeus em Gaza, como hoje há na Cisjordânia. Entre outros, o plano é defendido por ministros da ala mais radical do governo de Netanyahu. "Novos assentamentos não são congruentes com a ideia de paz duradoura. Eles debilitam a paz e não fortalecem, a segurança de Israel", disse Blinken.

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