Nova arma da Rússia é contra satélites e não está pronta, dizem EUA

Revelação de ameaça ampliou disputa entre a Casa Branca e o Congresso sobre apoio à Ucrânia, travado no Legislativo

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São Paulo

Após um pequeno terremoto político na quarta-feira (14), o governo dos Estados Unidos enfim deu algum detalhe acerca da suposta nova arma da Rússia que levou Joe Biden a alertar o Congresso e seus aliados europeus sobre uma ameaça internacional.

Segundo o porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, trata-se de um sistema contra satélites em órbita que não está operacional. "Isso é ainda uma capacidade que eles estão desenvolvendo. Nós ainda estamos analisando a informação disponível", disse em uma entrevista nesta quinta-feira (15).

John Kirby, um homem branco de terno escuro, gesticula durante entrevista na Casa Branca
O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, fala a repórteres na Casa Branca - Kevin Lamarque/Reuters

Ele não confirmou aquilo que seus colegas de governo haviam vazado para a imprensa na véspera, de que se tratava uma ameaça de caráter nuclear. O Tratado do Espaço Sideral de 1967, assinado tanto por russos quanto por americanos, proíbe a colocação em órbita de qualquer arma de destruição em massa.

Kirby afirmou, sem detalhar nada, que de todo modo a nova arma fere acordos internacionais. Tanto Moscou quanto Washington e Pequim trabalham há anos na militarização do espaço —os EUA até criaram um ramo novo de suas Forças Armadas só para lidar com isso, em 2019.

As migalhas informativas jogadas pelo porta-voz sugerem que a confusão armada na véspera tinha mais a ver com a queda de braço entre Biden e o Congresso acerca do pacote de R$ 300 bilhões em ajuda militar para a Ucrânia combater a invasão russa.

A medida, após dois meses de debates, passou no Senado, mas enfrenta uma resoluta oposição dos republicanos de Donald Trump que dominam a Câmara. O ex-presidente que quer voltar para a Casa Branca no pleito de novembro se opõe a mais ajuda para Kiev —e entrou em rota de colisão com a Otan, a aliança militar liderada pelos EUA.

Na quarta, o chefe do Comitê de Inteligência da Câmara, o republicano Mike Turner, foi a público dizer que o governo havia informado que a ameaça existia e cobrou informações concretas sobre ela. O assessor de Segurança Nacional, Jake Sullivan, queixou-se de que os dados poderiam expor a fonte, mas marcou uma conversa com a cúpula bipartidária do Congresso para esta quinta.

A Casa Branca passou à imprensa a versão de que ficou irritada com a ação de Turner, mas o fato é que o tema colocou mais pressão sobre a liderança republicana da Câmara, que se recusa a colocar em votação como prioridade o pacote de Biden.

Se a montanha parir um rato —como tudo indica, já que não há nenhuma ameaça iminente que mereça esse estardalhaço todo—, quem fica em pior situação são os democratas. Nesse cenário, ou os republicanos foram espertos ou os governistas erraram a mão na tática.

O Kremlin, de forma previsível, não confirmou nem negou qualquer desenvolvimento de armas, mas classificou o debate nos EUA de "fabricação maliciosa" e apontou para o contexto da aprovação do pacote de ajuda a Kiev.

O problema, contudo, não deixa de existir. Kirby lembrou que a vital cidade de Avdiivka, no leste ucraniano, está quase caindo em mãos russas "por falta de munição". O governo de Volodimir Zelenski já disse que está lutando com uma proporção de 5 para 1 em favor de Moscou em termos de artilharia, o principal insumo desta guerra.

Em Bruxelas, uma reunião entre ministros da Defesa da Otan foi na mesma linha, de cobrar mais ajuda para Kiev. Ali, outro ponto da agenda foi o consenso em rebater as frases de Trump de que os EUA sob seu comando não protegeriam aliados de agressão russa caso esses países não contribuíssem financeiramente para a aliança militar.

A pressão do republicano, a despeito de ser considerada sacrílega para um clube que baseia sua existência na assistência mútua aos sócios, surtiu efeito. Até o governo francês foi às redes sociais divulgar que chegará à meta de gasto com defesa proposta pela Otan, 2% do PIB, já neste ano.

A aliança afirma que 18 de seus 31 membros estarão nesse nível neste ano, ante 11 no passado —e apenas 3 em 2014, quando Vladimir Putin anexou a Crimeia. Mais importante, o grupo diz que no cômputo geral já atingirá os 2% este ano.

Ataque ucraniano mata 6 na Rússia

A Ucrânia, por sua vez, mantém ações pontuais para demonstrar capacidade de reação, apesar da situação difícil em que se encontra. Um dia depois de reivindicar o afundamento de um grande navio de desembarque anfíbio russo junto à costa da Crimeia, atacou com mísseis a cidade de Belgorodo, no sudoeste russo.

Ao menos seis pessoas morreram, e 18 ficaram feridas. A cidade de 340 mil habitantes é uma das principais da região, e fica ao alcance da artilharia e dos foguetes de Zelenski.

São ações que visam manter o moral elevado. No caso do ataque com drones aquáticos contra o navio Tsezar Kulikov, há a confirmação da dificuldade russa em proteger sua Frota do Mar Negro, que segundo Kiev já perdeu 25 embarcações na guerra apesar de a Ucrânia não ter uma Marinha de verdade.

Blogueiros militares russos afirmam que o novo ataque custou a cabeça do comandante da frota, Viktor Sokolov, já pressionado pela destruição de navios e um submarino no quartel-general da unidade, em Sebastopol. O Ministério da Defesa russo não confirmou nem negou a informação.

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