Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Polícia prende centenas em vigílias por Navalni na Rússia; veja vídeo

Família foi notificada oficialmente da morte do ativista na cadeia, mas não recebeu corpo

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São Paulo

Ao menos 401 pessoas foram presas na Rússia por participarem de vigílias não autorizadas em homenagem ao líder opositor Alexei Navalni, morto em circunstâncias misteriosas na sexta-feira (16) numa prisão no Ártico.

A conta é da ONG de monitoramento de direitos humanos OVD-Info, e abrange detenções ocorridas na sexta e neste sábado (17). Elas ocorreram em 36 cidades, e o maior número de presos foi registrado em São Petersburgo: pelo menos 109 pessoas.

Policiais detêm homem que fazia vigília após morte de Navalni em Moscou
Policiais detêm homem que fazia vigília após morte de Navalni em Moscou - Stringer/Reuters

Em Moscou, foram ao menos 39 detidos. As duas maiores cidades russas concentram o maior contingente de classe média alta do país, franja da população em que Navalni tinha mais apoiadores. No geral, contudo, o líder opositor nunca teve densidade nacional em termos eleitorais.

Os manifestantes participavam de vigílias das quais a polícia considerou equivalentes a manifestações sem permissão da prefeitura —logo, sob as regras russas, ilegais. A Procuradoria de Moscou havia feito um alerta contra concentrações. Na maior parte dos casos, os apoiadores de Navalni apenas depositaram flores junto a monumentos às vítimas do sistema de campos de prisioneiros soviético, o Gulag.

Na capital, o monumento fica em uma área particularmente sensível: em frente à sede do FSB, o sucessor da temida polícia secreta KGB, na praça Lubianka (centro). Havia bastante policiais na região e as flores deixadas na sexta foram recolhidas à noite.

Não há registro de confrontos. Os números são bastante modestos também: os atos contra a prisão de Navalni, em 2021, juntaram milhares de pessoas e uma escala proporcional de prisões. Em termos de manifestações como um todo, a maior ocorrida desde a repressão daquele ano foi em setembro de 2022, quando 1.300 foram detidos protestando contra a mobilização de 300 mil reservistas para a Guerra da Ucrânia.

Em São Petersburgo, um padre foi detido após anunciar que rezaria uma missa para Navalni, mas a Igreja Ortodoxa, alinhada ao Kremlin, veio a público dizer que o religioso não era seu integrante. O jornal independente Novaia Gazeta, que foi fechado e agora opera online a partir da Europa, anunciou a transmissão pelo YouTube de uma missa ortodoxa em memória do ativista rezada em Dusseldorf (Alemanha).

Seu editor-chefe, o prêmio Nobel da Paz Dmitri Muratov, disse na sexta que considerou o falecimento do opositor de Putin "um assassinato".

A morte de Navalni, 47, continua misteriosa. Governos ocidentais e oposicionistas russos culpam Vladimir Putin por ela, no mínimo devido às condições brutais de encarceramento na prisão conhecida como Lobo Polar, onde na sexta a temperatura chegou a -24ºC.

Ainda não há detalhes da necropsia do ativista, que foi visto dois dias antes com boa aparência em uma audiência virtual com um juiz de Moscou.

Liudmila, mãe de Nalvani, visitou neste sábado a colônia penal onde seu filho morreu, enfrentando temperaturas de -30ºC. Segundo a assessora do ativista, Kira Iarmich, Liudmila recebeu um aviso oficial de óbito indicando o horário da morte como 14h17 no horário local de sexta.

"Quando a advogada e a mãe chegaram à colônia, receberam a informação de que a causa da morte de Navalni foi síndrome da morte súbita", disse Ivan Zhdanov, que dirige a Fundação Anticorrupção de Navalni, em postagem na plataforma X. Síndrome da morte súbita é um termo vago para diferentes síndromes cardíacas que causam parada cardíaca súbita e morte.

Segundo a equipe de Navalni, não há informações sobre onde está o corpo do ativista. Sua mãe havia sido informada de que o corpo estava em Salekhard, a cidade próxima ao complexo prisional. Mas, quando chegou ao necrotério na localidade, ele estava fechado. Quando o advogado de Navalni entrou em contato com a instituição, o necrotério disse que o corpo não estava ali.

Mais tarde, autoridades disseram que o corpo não seria liberado até a conclusão da investigação. "Neste momento, não temos acesso ao corpo e não sabemos com certeza onde está. Exigimos que as autoridades russas entreguem imediatamente o corpo de Nalvani à sua família", disse a assessora Kira Iarmish em entrevista.

Segundo o Serviço Federal Prisional russo, Nalvani morreu após desmaiar durante uma caminhada. Ele cumpria uma pena de 30 anos e meio de cadeia, acusado de corrupção, desrespeito à corte e extremismo.

A rede estatal russa RT afirmou, baseando-se em informações anônimas, que ele foi atendido por 30 minutos e que a causa da morte foi uma trombose. Não houve confirmação disso e, mesmo que haja, dificilmente os apoiadores de Navalni acreditarão no que disser o Estado.

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