Rússia aponta irregularidades em candidatura de opositor de Putin à Presidência

Declaração não elimina o ex-deputado Boris Nadejdin da disputa, mas indica que ele pode ser desclassificado

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Moscou | Reuters

A Comissão Eleitoral Central da Rússia afirmou nesta sexta-feira (2) que os documentos apresentados pelo ex-deputado Boris Nadejdin para se candidatar às eleições presidenciais deste ano têm irregularidades.

Embora isso não signifique que o político está fora da corrida, a declaração indica que é provável que Nadejdin, único pré-candidato contrário às políticas de Vladimir Putin, seja desclassificado por motivos técnicos.

O pré-candidato Boris NadejdinBoris Nadezhdin conversa com jornalistas em sua visita à Comissão Eleitoral Central para registrar sua candidatura, em Moscou - Shamil Zhumatov - 31.jan.24/Reuters

A estratégia costuma ser empregada pelo Kremlin para afastar nomes indesejados do pleito oficial —a ex-jornalista Iekaterina Duntsova, que prometia uma plataforma antiguerra, por exemplo, teve sua candidatura indeferida em novembro.

Para emplacar seu nome entre os dos candidatos à Presidência nas eleições marcadas para 15 a 17 de março, Nadejdin apresentou à Comissão Eleitoral Central assinaturas de mais de 100 mil apoiadores em todo o país nesta semana.

O vice-presidente do órgão, Nikolai Bulaiev, acusou o pré-candidato de ter incluído nomes de pessoas que já morreram na lista. Alguns erros eram esperados, disse ele. "Mas quando vemos dezenas de pessoas que não estão mais neste mundo, e elas concederam assinaturas, surge a questão sobre a decência dos parâmetros éticos aplicados, inclusive pela pessoa que coletou a assinatura em questão. E o candidato está, até certo ponto, diretamente envolvido nisso."

Nadejdin respondeu à provocação com uma mensagem irônica no Telegram. "Você e eu somos os mais vivos dos vivos. Se alguém imagina que vê almas mortas em minhas listas de assinaturas, bem, amigos, essa não é uma questão que concerne a mim, e sim à Igreja, ou a um exorcista", escreveu ele.

O comitê eleitoral anunciará na próxima semana os candidatos autorizados a concorrer nas eleições presidenciais. A afirmação de Bulaiev parece indicar que a comissão apontará mais motivos técnicos para desclassificar Nadejdin, que apesar de ter um histórico de proximidade com o Kremlin, já fez várias críticas contundentes a Putin, assim como à Guerra da Ucrânia.

Líder russo moderno mais longevo desde Josef Stálin, Putin está no poder desde 1999. Ele confirmou em dezembro de 2023 que estará na disputa presidencial de 2024 e, com índice de popularidade de 83% segundo avaliação mais recente do Centro Levada, referência em levantamentos, promete ganhar ainda mais uma eleição.

Na semana passada, o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, afirmou que não via Nadejdin como um competidor com o qual o presidente deveria se preocupar. No ano passado, ele cometeu um "sincericídio" ao dizer que as eleições seriam uma mera formalidade.

Membro do partido Iniciativa Cívica, de centro-direita, Nadejdin defende a integração com a Europa, a revogação de leis anti-LGBTQIA+ e o fim da guerra no país vizinho, que completa dois anos em 24 de fevereiro de 2024.

O ex-deputado foi assessor do então premiê Serguei Kirienko, que atualmente integra a administração presidencial, na década de 1990. Na mesma época trabalhou para Boris Nemtsov, o mais importante político assassinado durante os anos de Putin no poder.

Para observadores da política russa consultados pela Folha, Nadejdin tinha as credenciais para ser um "proiekt" (projeto, em russo), jargão dado a esquemas bolados no Kremlin. No caso, ele seria o candidato oposicionista responsável por garantir um verniz democrático a uma eleição que todos sabem que será ganha por Putin por larga margem.

Nas últimas semanas, contudo, a pré-candidatura do ex-deputado passou a angariar apoios, e segundo a única pesquisa independente que incluiu o seu nome, feita em janeiro pelo instituto Campo Russo, ele ocupava sozinho a vice-liderança na corrida presidencial, com 7,8%. Putin, contudo, estava à frente com 62,2%.

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