Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Após detenções, Blinken diz que atos em universidades dos EUA fazem parte da democracia

Cerca de 550 pessoas foram levadas pela polícia em pouco mais de uma semana; protestos criticam apoio a Israel

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São Paulo

Depois que protestos pró-Palestina ganharam força e se espalharam por universidades de todo os Estados Unidos a despeito das detenções em massa, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou nesta sexta-feira (26) que as manifestações fazem parte da democracia. Ele criticou, porém, o que chamou de silêncio dos ativistas em relação aos atos de barbárie cometidos pelo grupo terrorista Hamas.

Segundo Blinken, os protestos são uma marca registrada da democracia americana. "Nossos cidadãos expressam suas opiniões, suas preocupações e sua raiva a qualquer momento", disse ele em viagem à China, país adversário dos EUA na chamada Guerra Fria 2.0 e que controla de forma rigorosa as manifestações. "Acho que isso reflete a força do nosso país", acrescentou.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, discursa em Pequim, na China
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, discursa em Pequim, na China - Mark Schiefelbein/Pool via Reuters

Cerca de 550 manifestantes, incluindo professores, foram detidos em pouco mais de uma semana nos protestos que ocorrem em ao menos 40 universidades, segundo levantamento feito pela agência de notícias Reuters. Apesar da repressão, novos acampamentos em solidariedade aos palestinos continuam surgindo nos campi. Os atos ganharam força após a detenção, na semana passada, de mais de cem estudantes na Universidade Columbia, em Nova York.

Os protestos vêm causando tumultos e confrontos em várias instituições. Enquanto estudantes reivindicam o direito de se manifestar e defendem o fim dos ataques de Israel contra os territórios palestinos, parte dos alunos judeus afirma que os atos se transformaram em antissemitismo.

"Como eu também já disse antes, isso [guerra Israel-Hamas] poderia acabar amanhã, podia ter acabado ontem ou podia ter acabado meses atrás se o Hamas tivesse deposto as armas, parado de se esconder atrás de civis e libertado os reféns", disse Blinken. Mais de cem pessoas sequestradas pela facção no mega-ataque de 7 de outubro continuam em cativeiros na Faixa de Gaza, segundo autoridades.

Blinken, que se encontrou com o líder chinês, Xi Jinping, disse ainda ter discutido com as autoridades chinesas estratégias para Pequim desempenhar um papel construtivo nas crises globais, inclusive no Oriente Médio. Segundo o americano, a China pode desencorajar o Irã e outros aliados do Hamas na região a se envolverem no conflito.

O presidente Joe Biden se limitou a dizer, durante a semana, que condena atos antissemitas nas universidades e que os campi devem ser seguros. Em pleno ano eleitoral, o democrata tem sido alvo de protestos organizados inclusive por eleitores do próprio partido contra o apoio dado por Washington a Israel. Mais de 34 mil palestinos, em sua maioria mulheres e crianças, foram mortos em Gaza até agora, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.

Nos últimos dias, policiais têm agido rápido para desmontar acampamentos de manifestantes pró-Palestina. As ações indicam uma mudança na estratégia das autoridades, que têm sido mais incisivas para coibir novos atos.

Vídeos publicados nas redes sociais mostram policiais conduzindo manifestantes com as mãos atadas, na quinta-feira (25), na Universidade de Princeton, uma das mais prestigiadas do país, em Nova Jersey. A ação ocorreu horas depois que estudantes começaram a montar um acampamento. Em Massachusetts, a polícia de Boston prendeu mais de cem pessoas no campus do Emerson College.

As imagens nas redes mostram também policiais dispersando ativistas com bombas de efeito moral. Testemunhas também relataram o uso de spray de pimenta e de balas de borracha contra estudantes. Em uma das gravações, três agentes imobilizam um homem negro, que aparece no chão e com as mãos atadas, enquanto um dos policiais pressiona uma arma de choque contra seu corpo. O caso teria ocorrido na Universidade de Atlanta, na Geórgia, e não há informações sobre o estado de saúde do manifestante.

Na Universidade Emory, em Atlanta, repórteres da CNN americana testemunharam também na quinta as detenções da chefe do departamento de Filosofia, Noelle McAfee, e da professora de economia Caroline Fohlin —também não havia informações sobre a situação e paradeiro delas.

Apesar das detenções, o movimento de protesto cresce. Nesta sexta, 75 estudantes montaram um acampamento na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, segundo a emissora CNN americana.

Horas antes, mais de 200 estudantes montaram um acampamento com cerca de 30 barracas na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. "O mundo assistiu em silêncio ao assassinato de mais de 30 mil palestinos por Israel. A universidade se une hoje aos estudantes do país que exigem das instituições distância de empresas que se beneficiam da ocupação, do apartheid e do genocídio na Palestina", diz nota divulgada pelos organizadores do protesto.

Já na Universidade Columbia, onde os protestos primeiro ganharam projeção, o gabinete da reitora Minouche Shafik disse que o diálogo com os alunos tiveram progresso e continua conforme o planejado. Mas uma comissão formada por docentes, estudantes e funcionários para supervisionar a universidade criticou em nota as decisões da administração durante os atos.

Segundo o grupo, a reitoria minou a liberdade acadêmica e desrespeitou a privacidade e os direitos ao devido processo legal de estudantes e professores ao chamar a polícia para encerrar o protesto. "A decisão levantou sérias preocupações sobre o respeito da administração pela governança partilhada e pela transparência no processo de tomada de decisões universitárias", disse a comissão.

Com AFP

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