Descrição de chapéu Haiti Estados Unidos

Missão de segurança multinacional deve ser enviada ao Haiti em maio

EUA sinalizam que não vão bancar transporte oferecido pelo Brasil de pessoal do Caribe para ilha

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Washington

Seis meses após ter recebido aval da ONU, a missão de segurança multinacional liderada pelo Quênia para ajudar o Haiti deve ser finalmente enviada ao país em maio, afirmou nesta sexta-feira (26) o chefe da diplomacia americana para América Latina, Brian Nichols.

A declaração ocorre um dia depois da posse do Conselho Presidencial de Transição, após mais de um mês de vácuo no poder com o anúncio da renúncia do então primeiro-ministro Ariel Henry. A falta de uma autoridade com quem negociar e a escalada de violência no país nesse período estão entre os motivos para o atraso do envio da missão.

Policiais haitianos fazem patrulha no país - Ricardo Arduengo/Reuters

Nichols afirmou que a posse do conselho de transição é um passo importante para a estabilização do país e destacou que ele simboliza a união de nomes de todo o espectro político haitiano. Nesta quinta, o aeroporto da capital, Porto Príncipe, voltou a funcionar, o que permitiu a chegada de ajuda humanitária, como alimentos e remédios, e equipamentos não letais para a força policial haitiana, disse o diplomata.

Países caribenhos, como Jamaica, já manifestaram interesse em contribuir com a missão liderada pelo Quênia. Nichols acrescentou que governos de outras regiões também sinalizaram apoio, como Benin e Argentina.

O Brasil, que liderou a Minustah, missão de paz da ONU no Haiti, já deixou claro que não pretende contribuir diretamente com pessoal, mas se dispôs a ajudar oferecendo treinamento e transporte de forças policiais da região do Caribe para a ilha. O Itamaraty, no entanto, esperava que outros países, como os EUA, contribuíssem com o financiamento da operação —o que Nichols sinalizou que não deve acontecer.

"Os esforços para ajudar a missão de segurança multinacional são cruciais, e nós esperamos que o Brasil consiga encontrar entre seus próprios recursos a capacidade de prover o transporte para os países do Caribe, assim como olhar criativamente para seus próprios recursos para talvez [ajudar com] equipamentos e financiamento para a força e outros projetos no Haiti, tendo em vista o tremendo alcance global do Brasil", afirmou o diplomata à Folha.

Diferentemente da Minustah, a nova missão que será enviada ao país não é uma iniciativa oficial da ONU, apesar de ter obtido a chancela do Conselho de Segurança, e seu objetivo é apoiar a polícia do Haiti em vez de atuar independentemente.

Para Nichols, esse é um dos maiores diferenciais em relação a tentativas anteriores de estabilizar o país. Além do apoio à polícia local, em luta contra a violência de gangues, que dominam a capital, a missão internacional também pretende servir de apoio às instituições haitianas.

O país não realiza eleições desde 2016. Em 2021, o então presidente, Jovenel Moïse, foi assassinado a tiros. Desde então, o Haiti era comandado por Henry, cuja renúncia anunciada há pouco mais de um mês foi formalizada na quinta-feira. A ideia é que o Conselho Presidencial de Transição chegue a um consenso sobre a nomeação de um novo primeiro-ministro interino e entregue o poder a um governo eleito até 7 de fevereiro de 2026.

Nichols afirma que os EUA estão contribuindo diretamente com US$ 300 milhões para a missão neste início, com veículos, munições e outros equipamentos, além de participar da construção de uma base para abrigar as novas forças. Por isso, ele diz, a contribuição do país a um fundo criado para apoiar a missão multinacional é pequena —são cerca de US$ 6 milhões.

Segundo o diplomata americano, foram prometidos por outros países US$ 120 milhões em contribuições ao fundo. Com a instalação do conselho de transição, ele espera que outros governos se sintam mais confiantes para também enviar recursos —a estimativa de Nichols é que a missão vai custe entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões ao ano.

Por ora, ele afirma que os EUA não veem um risco de migração em massa do Haiti. Embora isso não possa ser descartado, ele diz que não há sinais de construção de barcos nas praias, por exemplo, ou aumento dos fluxos para fora do país —em grande medida pela falta de meios para isso, diante do fechamento do aeroporto nas últimas semanas.

"Nós vamos fazer tudo o que pudermos para estabilizar a situação e oferecer aos haitianos a perspectiva de um futuro melhor", afirmou Nichols.

Também em maio, o presidente queniano, William Ruto, será recebido por Biden em Washington. Em comunicado, a Casa Branca disse que o objetivo da visita é que os países "reforcem o compromisso comum de promover a paz e a segurança, expandam os laços econômicos e permaneçam unidos na defesa dos valores democráticos". A nota não menciona a crise no Haiti. A viagem, marcada para o dia 23, ocorrerá no contexto do 60º aniversário da diplomacia entre EUA e Quênia.

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