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EUA e Japão selam aliança contra China com integração militar e missão à Lua

Joe Biden e Fumio Kishida se reuniram na Casa Branca e renovaram votos de unidade em diversos setores

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Washington

Joe Biden investiu no Japão como um dos principais aliados dos Estados Unidos em seu mandato. Nesta quarta-feira (10) , ao lado do primeiro-ministro Fumio Kishida, ele anunciou os principais resultados dessa estratégia: aprofundamento da integração militar, cooperação em inteligência artificial, uma missão lunar conjunta e, de bônus, novas cerejeiras para Washington.

Os dois líderes se reuniram na Casa Branca durante a manhã. É a 12ª vez que Biden e Kishida se encontram desde a posse do democrata, em 2021. A frequência reflete a prioridade dada pela Casa Branca ao país, seu maior aliado na vizinhança da China, potência vista por ambos como uma ameaça.

O primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, e o presidente dos EUA, Joe Biden, durante entrevista coletiva na Casa Branca - Andrew Caballero-Reynolds - 10.abr.24/AFP

O principal anúncio feito nesta quarta foi o aprofundamento da integração militar. Aproveitando a suspensão do limite para exportações ligadas à defesa, os países formarão um conselho industrial militar que vai gerenciar a produção conjunta de armamentos, como mísseis.

Segundo integrantes da Casa Branca, a medida permitirá que os EUA usem a força industrial japonesa para preencher um dos pontos fracos americanos: a falta de capacidade de produção de itens estratégicos de defesa. No rol de ativos japoneses, está também a energia nuclear. Outro anúncio significativo foi a criação, junto com a Austrália, de uma rede de sistemas contra mísseis aéreos.

Falando a jornalistas após a reunião, Biden afirmou que os avanços são os mais significativos em toda a história da relação com o Japão.

"Nós concordamos que nossos países continuarão a responder aos desafios relacionados à China por meio de uma estreita coordenação", disse Kishida a jornalistas. "Também reafirmamos a importância de continuar nosso diálogo com a China e cooperar com ela em desafios comuns."

Em inteligência artificial, foi anunciada uma parceria de pesquisa entre as universidades Carnegie Mellon e Keio financiada pela Microsoft e por empresas japonesas. Uma segunda parceria foi acertada entre as universidades de Washington e Tsukuba apoiada pela Amazon e pela Nvidia.

O terceiro eixo da aliança entre os países mira o espaço. EUA e Japão fecharam um acordo para que Tóquio se torne um membro integral da missão de exploração lunar Artemis liderada pela Nasa, prevista para 2026. Será a primeira vez que um não americano pisará na Lua, destacou Biden.

Em um gesto simbólico, Kishida se comprometeu a enviar a Washington novas cerejeiras, para substituir as que foram cortadas recentemente na capital americana em razão de um projeto de renovação urbana. As árvores foram presenteadas pelo Japão há 110 anos e plantadas ao longo de uma enseada. Turistas invadem a cidade todo ano para vê-las em flor.

O primeiro-ministro japonês disse que as cerejeiras são símbolos da relação entre os países, hoje estendida do "espaço ao oceano profundo", e que, como as árvores, continuará a crescer e florescer.

Na tarde desta quarta, os dois líderes devem participar de uma cerimônia para plantar uma cerejeira. À noite, a Casa Branca vai oferecer um jantar oficial para Kishida, um gesto reservado para os aliados mais próximos de Washington.

Sob Kishida, o papel geopolítico do Japão ganhou musculatura. Integrantes da Casa Branca destacam a pronta resposta do aliado à invasão da Ucrânia pela Rússia, adotando sanções.

Biden afirmou que o primeiro-ministro vai participar de seus esforços para negociar um cessar-fogo entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza e a libertação dos reféns.

Nesta quinta, os dois se encontrarão com o presidente das Filipinas, Ferdinando Marcos Jr. —aproximação que também tem como alvo a contenção da China. No ano passado, Biden e Kishida participaram de outra reunião trilateral, com a Coreia do Sul, visando ao mesmo objetivo.

Um tema em que Japão e EUA não estão na mesma página não foi abordado pelos líderes: a aquisição da U.S. Steel pela Nippon Steel, um negócio de US$ 15 bilhões. Biden se opõe ao negócio e já afirmou que está do lado do sindicato de trabalhadores americanos, que também rejeita o acordo.

Questionado por jornalistas sobre a negociação, Kishida disse que espera que a conversa avance "de modo positivo para ambas as partes". Ele destacou que o Japão é o maior investidor estrangeiro nos EUA. Biden, por sua vez, reafirmou que está "do lado dos trabalhadores".

Antes da reunião nesta quarta, o presidente americano afirmou que a promessa de Dwight Eisenhower (1953-1961) de que os países teriam uma "parceria indestrutível" foi finalmente alcançada.

Um fantasma, no entanto, assombra a aliança: uma eventual vitória de Donald Trump na eleição no final deste ano. Integrantes da Casa Branca reconhecem que essa possibilidade gera "ansiedade em capitais" pelo mundo e incerteza em relação ao futuro da política externa americana —em seu mandato, o republicano adotou uma abordagem isolacionista, alienou aliados e fez gestos a adversários históricos americanos, notadamente a Rússia.

Na visão de membros do governo Biden, o temor leva alguns países a ficar apenas observando o desenrolar dos acontecimentos. No entanto, para esses funcionários, a melhor abordagem é dobrar a aposta na aliança com os EUA para garantir uma parceria firme.

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