Veja altos e baixos das relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela

Simpatia do PT por Chávez e Maduro deu tom caloroso para contato entre países até impeachment de Dilma

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São Paulo

Com questionamentos sobre o resultado das eleições presidenciais de domingo (28) na Venezuela crescendo, o Brasil adotou uma postura de cautela, recusando-se a parabenizar o ditador Nicolás Maduro pela vitória e pedindo uma relação detalhada das atas das urnas eletrônicas.

A decisão veio depois de uma troca de farpas entre Maduro e o presidente Lula (PT), que se disse assustado com a fala do ditador sobre um "banho de sangue" caso fosse derrotado no pleito. Maduro respondeu dizendo que quem estava assustado deveria tomar um "chá de camomila" —dias depois, atacou o TSE, precipitando o órgão a recuar da decisão de enviar observadores para acompanhar o pleito.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao lado do presidente venezeulano Hugo Chávez em sessão plenária no Palacio de Miraflores, em Caracas, em 2003 - Moacyr Lopes Junior - 25.ago.03/Folhapress

A rusga é a mais séria até aqui no que tem sido, historicamente, uma postura de simpatia e amizade entre Lula e o PT e o chavismo desde o primeiro mandato do petista. Durante os períodos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, no entanto, houve uma piora significativa nas relações entre Brasília e Caracas.

Veja abaixo os principais momentos do contato diplomático entre os países nas últimas décadas.

1999 Eleito em 1998, Hugo Chávez faz sua primeira visita oficial ao Brasil em maio de 1999, quando é recebido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Ao longo do segundo mandato do tucano, os dois países firmaram acordos de cooperação e de infraestrutura, e o brasileiro visitou Caracas em abril de 2000.

O presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, segura uma réplica da espada de Símon Bolívar que recebeu de presente do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em 2000 - Kimberly White - 6.abr.00/Reuters

2003 Lula é recebido por Chávez na Venezuela pela primeira vez em agosto, seu primeiro ano como presidente do Brasil. Os dois se tornaram amigos pessoais e se encontraram oficialmente diversas vezes ao longo da década para inaugurar obras, negociar acordos e trabalhar para a adesão da Venezuela ao Mercosul.

2007 Em ato autoritário, Chávez não renova a concessão da RCTV, tradicional canal de televisão venezuelano crítico ao chavismo —a emissora é forçada a encerrar suas atividades.

O Congresso brasileiro emitiu um documento pedindo que Chávez reavaliasse sua decisão, e o venezuelano respondeu chamando o Legislativo do país vizinho de "papagaio de Washington". Lula disse à Folha à época que a decisão de Chávez foi democrática.

2009 Em desdobramento polêmico, Chávez convoca —e vence— um plebiscito eliminando os limites de mandato na Venezuela, abrindo caminho para que buscasse um terceiro mandato. Lula defendeu a decisão do venezuelano de aprovar a reeleição ilimitada e, depois da vitória, parabenizou Chávez pelo resultado do referendo.

2011 Chávez comparece à posse da presidente Dilma Rousseff (PT); aproximação entre os dois países continua durante mandato da petista.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, beija a mão da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, depois de uma reunião na cúpula do Mercosul em Brasília, em 2012 - Ueslei Marcelino - 31.jul.12/Reuters

2012 Após anos de negociações, a Venezuela passa a fazer parte do Mercosul, movimento que teve forte incentivo do Brasil e do governo da Argentina, comandado pela peronista Cristina Kirchner. Caracas seria suspenso do bloco com a chegada de Michel Temer à Presidência em 2016.

2016 Maduro chama impeachment de Dilma de golpe e ameaça à América Latina; Caracas expulsa embaixador brasileiro, e governo Temer faz o mesmo com o encarregado de negócios da Venezuela em Brasília.

2019 Alinhado aos Estados Unidos, o governo Jair Bolsonaro reconhece Juan Guaidó, autoproclamado presidente da Venezuela, como líder legítimo do país e rompe relações com o regime de Maduro.

2020 Bolsonaro ordena o fechamento da embaixada brasileira em Caracas.

2021 Durante a pandemia de coronavírus e a crise de oxigênio em Manaus, Venezuela envia caminhões com insumo à capital do Amazonas; mais tarde, em depoimento ao Congresso, o chanceler Ernesto Araújo diz que não solicitou nem agradeceu o regime Maduro pelo envio.

2023 Após reeleição de Lula, Brasil restabelece relações diplomáticas com a Venezuela e reabre embaixada em Caracas. Petista recebe Maduro para visita de Estado e ajuda a mediar o Acordo de Barbados entre regime e oposição para realização de eleições em 2024.

2024 Brasil critica decisão do regime de impedir Corina Yoris, substituta de María Corina Machado, de concorrer à Presidência; diplomacia venezuelana diz que nota pareceu ter sido "ditada pelos EUA".

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