Descrição de chapéu The New York Times

Nobel agredida na prisão no Irã tem pedido de atendimento hospitalar negado, diz defesa

Narges Mohammadi, que tem problemas cardíacos, também teria sido impedida de falar com seus defensores e parentes

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The New York Times

A ativista de direitos humanos iraniana Narges Mohammadi, laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 2023 e que foi violentamente agredida por guardas prisionais na semana passada, de acordo com sua família, teve atendimento médico e acesso a seus advogados e parentes negados, segundo um de seus defensores afirmou na quinta-feira (15).

Mostafa Nili demonstrou preocupação sobre o estado de sua saúde de sua cliente, após a situação ser comunicada a ele por suas companheiras de cela.

"Minha cliente diz que foi agredida e tem hematomas pelo corpo", afirmou Nili no veículo de notícias Emtedad, de tendência reformista. "Apesar das ordens do médico da prisão e considerando a condição cardíaca da minha cliente", disse, "ela não foi enviada ao hospital".

mulher de cabelo preto cacheado e rosto sério contra fundo preto
A ativista iraniana Narges Mohammadi, vencedora do Nobel da Paz, que organiza o livro 'Tortura Branca' - Divulgação

Nili afirmou que nos últimos nove meses, as autoridades prisionais negaram a Narges, 52, o direito de fazer ligações telefônicas e de ter visitas de sua família e advogado.

Ativista de direitos humanos e direitos das mulheres mais proeminente do Irã, ela cumpre uma sentença de 10 anos desde 2021, acusada de ameaçar a segurança nacional pela causa que defende.

As autoridades do país disseram que a premiação do Nobel a ela era uma decisão política tendenciosa.

Da ala feminina da prisão, Narges organizou palestras e conclamou protestos contra as violações dos direitos humanos do governo.

Em 6 de agosto, ela e outras prisioneiras protestaram e entoaram slogans contra a execução planejada de um homem curdo, Reza Rasaei, 34, preso durante manifestações em 2022 e acusado de ter um papel no assassinato de um membro das forças de segurança do Irã. Ele nega, e grupos de direitos humanos disseram que ele foi condenado em "um julgamento simulado".

A página do Instagram de Narges também publicou um áudio de um protesto anterior que ela e outras prisioneiras fizeram naquele mês contra a pena de morte. As mulheres podem ser ouvidas entoando: "Nem ameaças, nem repressão, nem execuções têm mais efeito", e "Morte ao ditador".

Segundo o marido de Narges, Taghi Rahmani, e o advogado Nili, agentes do Ministério da Inteligência que estavam na prisão tentaram reprimir seus cantos e, em seguida, guardas prisionais entraram no pátio da penitenciária.

As mulheres foram violentamente agredidas, empurradas e enfiadas em suas celas e trancadas lá dentro, disse o marido.

Dez delas desmaiaram, e cinco, incluindo Narges, sofreram ferimentos, segundo a versão de Rahmani. Os guardas agrediram Narges, desferindo golpes em seu peito. Companheiras de cela chegaram a pensar que a Nobel da Paz tinha sofrido um ataque cardíaco, de acordo com Rahmani.

As mulheres foram atendidas na clínica da prisão, onde o médico ordenou que ela fosse levada a um hospital, disseram tanto Rahmani quanto Nili.

Rahmani afirmou em uma entrevista de Paris, onde vive exilado com os filhos gêmeos de 17 anos do casal, que Narges enviou uma mensagem sobre o que aconteceu por meio de suas companheiras de cela, que foram autorizadas a ligar e visitar suas famílias.

"Estou muito assustado por ela, assistindo a tudo isso de fora. Saber o tipo de estresse físico e emocional que Narges está enfrentando é aterrorizante para nós", disse Rahmani. "Narges agora tem uma relevância internacional, e eles estão punindo-a deliberadamente."

Alguns dias após o episódio, a organização prisional do Irã emitiu um relatório negando que os guardas tivessem agredido as prisioneiras. A declaração, publicada pelo Mizan, veículo de notícias do Judiciário, culpou Narges por "instigar as prisioneiras" a atacar um guarda da prisão e tentar arrombar a porta que leva ao pátio.

Na semana passada, ao longo de dois dias, o Irã executou 29 prisioneiros que haviam sido condenados principalmente por tráfico de drogas e assassinato, de acordo com as Nações Unidas e grupos de direitos humanos. O curdo Rasaei estava entre eles.

O alto comissário das Nações Unidas para os direitos humanos, Volker Turk, disse em um comunicado na semana passada que "isso representa um número alarmantemente alto de execuções em um período tão curto". Ele disse que sua agência verificou que 38 pessoas foram executadas em julho, elevando o número total para pelo menos 345 este ano, entre elas 15 mulheres.

Hadi Ghaemi, diretor do Centro de Direitos Humanos no Irã, uma organização independente sediada em Nova York, disse que o regime de Teerã há muito tempo usa execuções e pena de morte como ferramentas de intimidação, inclusive durante a revolta liderada por mulheres em 2022 —desencadeada pela morte de Mahsa Amini sob custódia da polícia da moralidade, depois de ser presa por supostamente violar as leis de hijab do país.

Ghaemi declarou que a recente onda de execuções poderia ser uma mensagem do regime de que qualquer agitação interna em um momento tão sensível seria recebida com mão de ferro. E isso, disse ele, se estende aNarges Mohammadi.

O Irã tem enfrentado turbulências internas após a eleição de um novo presidente, Masoud Pezeshkian, um reformista que, no entanto, anunciou que seu gabinete incluiria vários conservadores e apenas uma mulher. Mohammad Javad Zarif, vice-presidente do país para assuntos estratégicos, renunciou logo depois.

Também há tensões elevadas na região, à medida que a possibilidade de guerra com Israel se aproxima: os líderes do Irã prometeram retaliar Tel Aviv pelo assassinato do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã.

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